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Olá, vizinho ou vizinha

Hoje não estamos sozinhos a responder a esta pergunta: quantas vidas pode um jornal tocar e mudar? Que impacto podemos já contabilizar do jornalismo que fazemos, na cidade que queremos ajudar a transformar para melhor?

Hoje é o World News Day (Dia Mundial das Notícias), um dia organizado mundialmente pelo World Editors Forum da WAN-IFRA e pela Canadian Journalism Foundation (CJF).

Faz-se festa em seis continentes e em redações de todas as formas, feitios e tamanhos.

No caso, não é bem uma festa. Na reunião a que a nossa diretora Catarina Carvalho está a assistir – o board do World Editors Forum, na Conferência em Saragoça, onde estão editores e jornalistas de todo o mundo – fala-se de um ataque persistente e perigoso ao jornalismo, sobretudo na forma de desvalorizar tudo o que é bom e sério jornalismo como fake news ou desinformação.

Marcelo Rech fala da situação dramática no Brasil, “a república da polarização”; Ritu Kapur esteve três meses a lutar por um visto para sair da Índia, por ser jornalista; Piotr Stansinski, da polaca Gazeta Wyborcza, tem mais de 100 processos judiciais; Marta Ramos frisou os 15 jornalistas mexicanos assassinados.

A reunião do WEF, em Saragoça.

Por tudo isto, nunca foi mais importante celebrar o nosso bem-comum que é o de todos. E aproveitar o dia de hoje, 28 de setembro, para mostrar como o jornalismo é importante e vale a pena apoiar, promover e defender.

Isto a que chamamos jornalismo vai muito além das histórias que publicamos numa página. E, sim, as histórias e esse “além” mudam mesmo vidas.

Rasgar pulseiras, mudar a cidade

Hoje é a Catarina Reis quem vos escreve.

E lanço a conversa sobre impacto com uma outra pergunta: já tiveram dificuldade em rasgar uma pulseira de festival?

Uma tesoura resolveu sempre tudo, na minha experiência. Não desta vez.

Na segunda-feira, no dia seguinte ao último de Festival Iminente (onde a Mensagem esteve a fazer jornalismo ao vivo durante quatro dias), tentava rasgar com a tesoura a fita azul. Será da tesoura? Está velha, já passou pelas minhas várias casas em Lisboa, salvou-me de abrir pacotes de plástico difícil nos quartos em que dormi nesta cidade. Talvez seja.

Experimento outra. E outra.

O defeito era da pulseira. Ou melhor, do Festival.

Este Iminente custou mesmo a sair do pulso e sei agora porquê.

Ter impacto é também aquilo que não nos dizem, mas que vemos acontecer por nós próprios. Foi assim nestes quatro dias de Festival:

  • vi como uma entrevista ao vivo a Samuel Mira (conhecido como Sam The Kid), do Nuno Mota Gomes, tornava os olhos cansados de festivaleiros agora olhos marejados e inspirados;
  • uma sala de um edifício em ruínas enchia de lisboetas para debater se esta é ou não uma cidade ciclável para todos. Spoiler alert: não é e a Ana da Cunha explica porquê!
  • na mesma sala, representantes da Comissão Europeia juntaram-se a Heidir Correia, morador e rapper da Cova da Moura, à artista Juana na Rap e à jornalista e cantora Karyna Gomes. Falaram juntos sobre como é cantar e falar no crioulo que tanto ouvimos em Lisboa.
  • e um grupo de seis rappers cantaram a sua Europa, no palco Cine-estúdio, a Europa a que não chega à Cova da Moura e desejam que exista. Uma música em crioulo, para fazer chegar a Bruxelas. Ouçam lá aqui como foi.
  • por falar em cruzamentos improváveis: recebemos o Bonga e o Batida, artistas de gerações tão diferentes, para uma conversa sobre equidade, comunidade, memória e o que andamos todos aqui a fazer uns pelos outros – não é sobre estarmos juntos, é sobre SERMOS juntos. Não sei se ouvi aplausos maiores, como da plateia desta conversa. Acredito que também a eles lhes tenha sido difícil rasgar a pulseira.
O debate sobre o crioulo no rap no Festival Iminente. Foto: Inês Leote

Então, como medimos impacto real?

Este Festival serviu como um momento de introspeção. E este dia é uma boa altura para, ao final de ano e meio de vida, a Mensagem perguntar: o que fizemos? Como mudámos mesmo vidas nesta cidade?

Quando resolvemos falar de árvores (ou da falta delas) na cidade, a nossa leitora Cristina Dias inspirou-se a fez nascer uma ferramenta para todos os lisboetas que queiram saber quantas árvores têm à volta das suas casas e trabalho. Impacto real: check ✔️

Depois de termos escrito sobre o balneário que uma associação fez nascer no bairro Branco, no Beato, criado para devolver a dignidade de um banho aos moradores, donativos choveram: de cidadãos e de grandes marcas de beleza. Impacto real: check ✔️

Quando visitamos imigrantes, até então analfabetos, na iniciação à escrita do Português, ficamos a saber que a professora fazia soar os episódios do nosso podcast Sons de Lisboa como ferramenta de ensino. Assim conheceram palavras e expressões bem portuguesas e aprenderam sobre a cidade que agora é a deles. Impacto real: check ✔️

E os lisboetas que mudaram as varandas ou pequenos logradouros, depois do nosso workshop lhes ensinar sobre a construção de uma horta urbana? Impacto real: check ✔️

Mas impacto é também falar daquilo que nunca aparece nas notícias, escrever pela primeira vez em crioulo ou fazer ouvir a voz de quem raramente é ouvido.

Esta semana, dias antes das eleições no Brasil (a 2 de outubro), estamos a publicar retratos de brasileiros em Lisboa – o que encontraram nesta cidade e o que estão a fazer por ela.

Continuamos a trabalhar, todos os dias, pensando ao contrário do que é costume no jornalismo: o impacto que temos é o que nos faz continuar. É por si, leitor. Se não significarmos algo para si, somos pouco e fazemos pouco.

Por isso, queremos saber: o que é que Mensagem mudou na sua vida?

Ficamos à espera da resposta – na resposta a este email.

Bom resto de semana!

– Catarina Reis

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