Foto: Inês Leote

Ser-se europeu pode não ter o mesmo sentido em todos os lugares da Europa. O que pensa alguém que vive na Cova da Moura? Neste bairro da Amadora, um grupo de seis jovens respondeu à pergunta com um rap, em crioulo, num repto da Comissão Europeia e pelo Parlamento Europeu, a propósito do Dia Europeu das Línguas – celebrado a 26 de setembro – uma iniciativa coordenada pela Mensagem de Lisboa.

Ouça aqui a música criada por estes rappers

O rap foi estreado num dos palcos do Festival Iminente – no passado sábado, no palco Cine-estúdio da Matinha, Marvila. Nele fala-se da Europa que lhes soa longe, dos movimentos migratórios, do sentido de pertença, da guerra, dos refugiados dela e da exclusão.

Em crioulo de Cabo Verde e em português – porque é assim, com esta mistura, que se fala no bairro deles -, Heidir Correia (Di Tchaps), Cecílio Mendes (Cisas), Pascoal Henriques (General Macuemba), Hélio Lopes (Eksp), Ricardo Marques (Ricas) e Jacinto Varela (Sepa) contaram e cantaram a Europa que sentem ter à porta de casa. Muitos deles nascidos em Portugal e ainda sem nacionalidade portuguesa, porque uma lei antiga ditou que assim fosse.

“Se não somos considerados portugueses como é que vamos sequer sentir-nos europeus?”, dizem. Então, o que querem eles desta Europa?

♪ Eu quero uma Europa mais livre
E mais amiga
Desejo uma Europa mais tolerante
E mais humanista

Vídeo: Inês Leote

O desafio das comemorações do Dia das Línguas deste ano é olhar as outras línguas, as que não são consideradas as 24 oficiais da União Europeia mas têm há várias décadas uma impressão digital neste continente.

É o caso do crioulo, tão falado em Lisboa e que faz dela a mais crioula das cidades europeias – há cerca de 14 mil guineenses e 25 mil cabo-verdianos na zona de Lisboa (e estes dados não contam com os seus descendentes).

O debate sobre o crioulo no rap no Festival Iminente. Foto: Inês Leote

O papel desta língua da Europa foi o mote para uma conversa que juntou vários protagonistas no Espaço Estórias do Festival Iminente, onde a Mensagem esteve a fazer jornalismo ao vivo.

No dia 23, Ana Garrido (em representação da Comissão Europeia), Heidir Correia (um dos criadores deste rap), a artista Juana na Rap e a nossa jornalista e cantora Karyna Gomes conversaram sobre o que fez o crioulo por nós e o que está por fazer por ele.

O estúdio onde nasce o rap

Foi no estúdio de música da Cova da Moura, que a música nasceu para estes jovens. Um lugar agora chamado Kova M Estúdio, criado para institucionalizar o gosto pela música que aqui, um dos berços do rap e hip-hop, se faz forte. E para impulsionar os sonhos de jovens do bairro que nasceram com a vontade de intervir no mundo através das sus letras.

Também por isso foi ponto de passagem para o ministro da Cultura, recentemente.

Vídeo: Inês Leote

Foi com as próprias mãos e o financiamento de alguns benfeitores – anónimos -, que um grupo de jovens da Cova da Moura ergueu o cimento deste espaço de encontro da juventude no bairro, em 2007.

O mesmo lugar em que se fizeram artistas meninos e meninas, homens e mulheres, para quem o sonho da música realmente extravasou as fronteiras do bairro. É o caso de Vado Más Ki Ás, cantor lisboeta com raízes cabo-verdianas e que se tornou um ícone do pop nacional.

Uma parceria com:

A Mensagem de Lisboa ganhou prémio de jornalismo europeu de Diversidade e Inclusão pelo projeto de jornalismo nas línguas crioulas de Cabo Verde e Guiné Bissau.
O projeto foi apadrinhado pelo músico Dino D’Santiago e a sua organização Lisboa Criola e realizado por Karyna Gomes, jornalista nascida na Guiné e com origens em Cabo Verde – que escolhe uma das duas línguas de acordo com o tema.
E teve o apoio de uma bolsa do projeto europeu NewsSpectrum para jornalismo em línguas minoritárias.

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