Por sermos colaborativos e próximos, o júri da primeira edição dos Prémios de Inovação nos Media decidiu premiar a Mensagem com três galardões, no âmbito da Conferência Internacional de Inovação nos Media (INN 2023), que acontece na Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (FCSH) da Universidade NOVA de Lisboa até 3 de fevereiro.
A Mensagem venceu nas categorias de Jornalismo Colaborativo, aqui com o projeto jornalismo em crioulo, de Jornalismo de Proximidade e de Produto/Projeto Jornalístico.
“O júri decidiu premiar a Mensagem de Lisboa pela qualidade e impacto do jornalismo que produz com um posicionamento claro como jornal local de e para a comunidade de Lisboa. A Mensagem distingue-se no panorama nacional com um modelo de jornalismo local inspirador e inovador, ancorado na relação próxima que fomenta com a comunidade que retrata e serve”, assim justificou Vera Penêda, do European Journalism Centre e membro do júri.

Estes prémios serão atribuídos anualmente pelo Obi.media – Observatório de Inovação nos Media e o ICNOVA – Instituto de Comunicação da NOVA, ambas estruturas de investigação da FCSH. O júri é constituído por académicos ligados ao campo dos media e outras indústrias culturais e criativas, ex-jornalistas e jornalistas.
O jornalismo em crioulo
O projeto de jornalismo em crioulo nasceu de uma parceria entre a Mensagem (o abrigo digital e o criador de conteúdo) e a Lisboa Criola (entidade financiadora). O projeto é apadrinhado pelo músico Dino d’Santiago e as peças jornalísticas ou tradução são da autoria de Karyna Gomes.
Esta é uma homenagem a uma cidade misturada.
O crioulo, tanto na sua versão cabo-verdiana como guineense, é falado (e cantado) por muitos, em Lisboa. Mas nunca atravessa a comunicação social. Para que a informação esteja mais perto das pessoas que o falam, a Mensagem publica reportagens em crioulo e traduzidas em português – para facilitar a compreensão de todos.
Karyna Gomes, jornalista de dupla origem, cabo-verdiana e guineense, é a autora dos trabalhos publicados. É também cantora e escolheu Lisboa para viver desde 2011. Estudou jornalismo em São Paulo, no Brasil, e trabalhou na RTP, em rádios locais na Guiné-Bissau, e na Associated Press. É especialista em “Comunicação para o Desenvolvimento”, tendo trabalhado com a Unicef na Guiné-Bissau.
O projeto tem o apoio de uma bolsa Newspectrum – do International Press Institute, sediado em Viena, e da rede Midas – Associação Europeia de Jornais Diários. Já arrecadou um prémio de jornalismo europeu de Diversidade e Inclusão e outro nacional de inovação da Meios & Publicidade.
Foi por isto que, em setembro do ano passado, a Comissão Europeia chegou até à nossa equipa e propôs que, juntos, fizéssemos com que um grupo de jovens rappers da Cova da Moura (bairro na Amadora) pudessem ir falar a Bruxelas e, primeiro, ganhassem um palco no Festival Iminente. Assim aconteceu.
Porque somos próximos
Por sermos comunitários, tão próximos, a Mensagem tem na identidade projetos que vão ao encontro das necessidades das pessoas da comunidade que faz Lisboa – e toda a área metropolitana.
O primeiro de todos foi quando convidamos Jorge Costa, um homem que esteve sem-abrigo durante meses nas ruas da cidade, para escrever, na primeira pessoa, esta experiência desumana. O que escreveu moveu milhares de cartas, fez chegar até ele um computador, comida e até deu um livro, editado pela LeYa/Oficina do Livro. O Jorge foi a nossa forma de dizer que estamos realmente cá para dar voz e que isso não nos serve apenas como mote, é uma forma de estar.
Por isso é que organizamos regularmente aquilo a que chamamos “Reuniões de Vizinhos”: a Mensagem sai da redação, vai a um bairro ou freguesia, senta-se com os moradores e ouve o que os preocupa, o que os entusiasma e inspira. Levamos um tema, especialistas sobre ele e esperamos que os nossos vizinhos compareçam para este confronto de ideias, num espaço tão plural, que também cabe a voz das crianças. Foram várias as histórias e parcerias que saíram destes encontros.
Organizamos ainda passeios para descobrir tesouros na cidade e pequenas sessões, com especialistas convidados, para descobrir a História de Lisboa – no El Corte Inglês. Falam da vida de Fernando Pessoa ou de como nasceu a famosa praça do Martim Moniz. Porque a transmissão de conhecimento deve ir além do conteúdo digital e porque só somos realmente próximos se nos sentarmos a conversar.
Foi assim, a conversar, que surgiu também o projeto “Correspondentes de Bairro” – não queremos ser só um meio, queremos ajudar a capacitar, por isso, reunimos um grupo de jovens do bairro do Rego, em Lisboa, com a ajuda da Associação Passa Sabi, para lhes ensinar ferramentas que os ajudem a contar as suas próprias histórias e a distinguir as verdadeiras das falsas que circulam na internet.
Para nos ajudar nesta missão de criar um jornal comunitário, fundamos um Conselho Editorial que se reúne mensalmente e é constituído por pessoas que nos mostrem sempre os lugares onde não conseguimos chegar – estão lá mediadores comunitários, investigadores, empresários, fundações e pessoas envolvidas em matérias de mobilidade na cidade.
E o impacto da Mensagem já é palpável. Quando resolvemos falar de árvores (ou da falta delas) na cidade, a nossa leitora Cristina Dias inspirou-se a fez nascer uma ferramenta para todos os lisboetas que queiram saber quantas árvores têm à volta das suas casas e trabalho. Depois de termos escrito sobre o balneário que uma associação fez nascer no bairro Branco, no Beato, criado para devolver a dignidade de um banho aos moradores, donativos choveram: de cidadãos e de grandes marcas de beleza. Quando visitamos imigrantes, até então analfabetos, na iniciação à escrita do Português, ficamos a saber que a professora fazia soar os episódios do nosso podcast Sons de Lisboa como ferramenta de ensino. Assim conheceram palavras e expressões bem portuguesas e aprenderam sobre a cidade que agora é a deles. E os lisboetas que mudaram as varandas ou pequenos logradouros, depois do nosso workshop lhes ensinar sobre a construção de uma horta urbana?
Porque ser próximo em Lisboa significa ser inclusivo, a Mensagem tem várias línguas: está em português (às vezes com o sotaque brasileiro do jornalista Álvaro Filho), em crioulo (de Cabo Verde e da Guiné) e em inglês (com uma página exclusiva para aqueles que chegam agora à cidade, vindos dos mais diversos países, e que querem ajudar a construir uma Lisboa melhor).
Por isso é que estes prémios são um reflexo dos nossos leitores e ouvintes, a quem chamamos de vizinhos.
Obrigada por nos ajudar a criar uma cidade melhor!