🎧 Ouça aqui a reportagem “Chelas, um nome, um lugar”:
Alcides tem dez anos, pouca vida ainda para contar, mas já sabe ensinar quem chega ao bairro dele o que as más manchetes nos jornais fazem a um lugar onde moram milhares: Chelas.
– Vocês moram em Chelas, não é?, perguntamos.
– Zona M, não é Chelas.
– Por é que dizes isso, que não é Chelas?
– Porque não gosto.
Um bairro feito de tantos outros lá dentro, plantado na freguesia com mais bairros sociais da cidade de Lisboa: Marvila. Alcides recusa o nome, porque sabe que Chelas ainda parece uma pedra no sapato da cidade dele.
Uma fama que vem da pobreza, do tráfico de droga e da violência que se viveu durante anos neste bairro. Essa Chelas que quase sempre chegou aos jornais com notícias de grandes operações policiais, tiroteios e outras intempéries. E que cultivou em quem estava do lado de fora a ideia de um lugar perigoso – mesmo ali, no centro de Lisboa. Não sendo periferia, passou a ser tratada como tal – até no acesso a umas simples trotinetes.
Mas os tempos mudaram e há também uma imagem para transformar junto de quem aqui não mora: a de que Chelas continua a ser um nome, um lugar. Está vivo e também é portador de boas notícias, de bons exemplos.
E a mudança é agora um grito de guerra materializado em 26 totens espalhados pela cidade, com os nomes dos vários bairros de Chelas, à porta de cada um, mas também de Marvila.
“Nós somos de Marvila com muito orgulho, não queremos fundar a Junta de Freguesia de Chelas. Por isso temos Marvila também aqui, num toten. O que nós não queremos é que se mude o mapa de uma cidade pelo preconceito: Chelas existe, não pode ser substituída por preconceito.” Assim explica Ricardo Gomes, aqui morador desde os seis anos, hoje com 43, que viu como o nome do bairro dele começou a desaparecer das placas na rua e das carreiras de autocarro.
Há um ano, tornou possível a reivindicação deste lugar e desta comunidade através da associação Chelas é o Sítio. Uma associação que nasceu da união de cinco amigos: além de Ricardo, Zé, Nuno Varela, Adriano e Samuel – que é Sam The Kid.
Esta reportagem faz parte da “Mensagem Rádio”, um programa que passa quinzenalmente na RDP África (do grupo RTP), à terça e sexta-feira, e em permanência: no site da Mensagem, em rdpafrica.rtp.pt e no Spotify.
Produção: Catarina Reis (Mensagem de Lisboa) e Isabel Leonor (RDP África)
Voz e edição: Catarina Reis

Catarina Reis
Nascida no Porto, Valongo, em 1995, foi adotada por Lisboa para estagiar no jornal Público. Um ano depois, entrou na redação do Diário de Notícias, onde escreveu sobretudo na área da Educação, na qual encheu o papel e o site de notícias todos os dias. No DN, investigou sobre o antigo Casal Ventoso e valeu-lhe o Prémio Direitos Humanos & Integração da UNESCO, em 2020. Ajudou a fundar a Mensagem de Lisboa, onde é repórter e editora.
✉ catarina.reis@amensagem.pt

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Olá,
Eu talvez seja um pouco antiquado, mas não sou adepto da nova moda dos podcasts. Bem sei que este foi transmitido por uma rádio, mas se eu quisesse ouvir rádio, não me ligava à Mensagem. Se escolho ler notícias ou artigos, e gosto muito de os ler na Mensagem, é porque gosto de ler em vez de ouvir.
No meu caso, pode ser um capricho, porque não sou surdo. Mas quem é surdo fica privado de saber o que se passa em Chelas porque não está escrito.
Assim, deixo a sugestão de acompanharem os artigos áudio com uma transcrição dos mesmos, por um mundo mais inclusivo, e para os antiquados como eu.
Obrigado
Olá, Ricardo
Obrigada pela atenção e pela sugestão. Esta é uma forma de sermos mais inclusivos também, chegar a outros públicos a que ainda não tínhamos chegado. E nasceu assim mesmo, como uma parceria na rádio, um produto em áudio – tal como o nosso podcast Sons de Lisboa. Mas faremos por tentar transcrever o máximo possível o que contamos estas peças em áudio. Obrigada, mais uma vez!