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Mais uma vez, em Lisboa, a quarta este outono. As cheias voltaram quando o elevado nível da precipitação coincidiu com a maré cheia. No dia 7 aconteceu, e na noite de 12 para 13 também, sendo que neste caso foi mesmo em cheio, durante a noite. Caíram mais de 30 mm de chuva por m2 numa hora, a mesma hora da preia mar.
Os riscos de inundações em Lisboa não são novos, mas têm sido mais frequentes – e vão agravar-se ao longo do século. É o que indicam todos os dados e estudos realizados sobre as alterações climáticas da cidade – e o que querem prevenir todos os planos de combate a elas, nomeadamente a Estratégia Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas de Lisboa.
Carlos Moedas, o presidente da Câmara, voltou a referir que “Lisboa teve estes problemas durante anos”, mas que o aumento da frequência tem “a ver com alterações climáticas”. E disse que “temos de nos preparar para fazer mudanças estruturais na cidade.” Moedas já tinha referido a urgência de “lutar para mudar esta situação” e a aprovação na Assembleia Municipal do orçamento “que vai permitir fazer os grandes túneis de drenagem.”
A verdade é que a Estratégia da CML de Adaptação às Alterações Climáticas foi apresentada em 2017 – há cinco anos – e já apontava para “um aumento da frequência de eventos de precipitação intensa ou muito intensa, acompanhada de ventos fortes com rajadas” – o que, a par da seca e do calor excessivo representa aquilo com que de mais certo a cidade pode contar.
Estas semanas, terão sido, infelizmente, só um exemplo. Na noite de dia 12 terá chovido ainda mais do que na do dia 7. E nessa caíram, em poucas horas, 87 mm de precipitação, ou seja, mais de metade da média do que chove normalmente em todo o mês de Dezembro em Lisboa, na ordem dos 126,2 mm – na mesma altura da chamada preia-mar, ou seja, maré-cheia.
Foi o que bastou para que a cidade ficasse alagada, sobretudo as zonas mais baixas – assim como os concelhos de Oeiras, Sintra, Cascais, Loures e Odivelas.
Em ambos os casos, terá acontecido um fenómeno de Storm Surge – Maré de Tempestade – algo a que se assiste quando o nível das águas do Tejo sobe por efeito da maré e isso se associa a um temporal.
E algo que em Lisboa, tem “especial acuidade, atendendo às características geomorfológicas da cidade – frente ribeirinha estreita delimitada em toda a sua extensão pelo sistema de colinas que definem uma série de bacias de drenagem a confluir para o estuário”, como explica o documento da Estratégia de Adaptação às Alterações Climáticas.
E alerta: tendo em conta que todos os cenários climáticos para o século XXI “projetam o agravamento da subida do nível médio do mar, este fenómeno poderá ter no futuro impactos agravados – galgamento de costa, inundações, afetação na mobilidade, estacionamento, efeitos em estruturas e infraestruturas”.
O que fazer?
O Plano da CML dizia que era importante “monitorizar os níveis da maré (hora e altura) em toda a frente ribeirinha para redefinição da cota de efeito de maré – também associada a episódios de precipitação intensa – a fim de dimensionar opções de prevenção e adaptação”. Esta semana foi levantado o aviso laranja, e um pedido para que “não se saísse de casa”.
Mas as medidas que terão de ser implementadas têm a ver com questões de infraestrutura – o que já foi feito no Plano para o Parque das Nações e mais recentemente, o Plano Pormenor da Boavista Poente.
Como prevenir o principal risco: a subida das águas
Não é possível ouvir a chuva a cair e não pensar se isto agora não será assim sempre, ou pior. O Plano de Ação Climática de Lisboa – que foi apresentado em 2021 – descreve as tragédias que podem estar para acontecer, e que requerem ação imediata.
- Agravamento da magnitude de episódios de vento forte/rajada;
- Aumento de precipitação intensa, tanto em frequência como em magnitude;
- Temperaturas elevadas, agravando-se o seu efeito com a diminuição da precipitação;
- Ondas de frio – risco elevado para a população idosa cada vez mais vulnerável;
- Aumento do nível médio da água do mar e eventos de precipitação extrema, com a crescente ocupação de território, maior risco de inundação em Lisboa.
O relatório da Rede C40 Cities, da qual Lisboa faz parte desde 2019, identificou que uma das questões mais urgentes para Lisboa é a que nos proteja da subida das águas do mar e das cheias.
Lisboa tem uma grande percentagem de terreno alagável, com “uma frente ribeirinha extensa e estreita. Há uma faixa entre as colunas e o estuário do Tejo muito vulnerável aos riscos de sobre elevação da maré”, dizia Cristina Lourenço, responsável pelo PAC, da CML, na sua apresentação.

Para controlar as inundações nas zonas baixas da cidade está em curso o Plano Geral de Drenagem de Lisboa, lançado por Carmona Rodrigues e depois adaptado por Fernando Medina e continuado como uma das obras pricipais por Carlos Moedas.
O plano prevê a construção de dois túneis com mais de 5 metros de diâmetro para drenagem, o reforço da capacidade de coletores e a “melhoria da captação do escoamento de superfície e de beneficiação das descargas por alargamento de saídas no rio Tejo”.
Lisboa é uma espécie de “bacia” como dizia Carlos Moedas na conferência de imprensa – em que a água escorre para o centro.
Outros riscos da cidade
Em Lisboa, a estratégia da CML alerta para a “extensa impermeabilização do solo” com “aumento da vulnerabilidade às inundações – escoamento superficial, e o facto de “alguns dos principais eixos urbanos coincidirem com estas áreas de vulnerabilidade vai implicar o agravamento do risco para a localização de atividades económicas ou de outros valores a salvaguardar, como se evidencia nos exercícios de mapeamento efetuados”.
Foi o que aconteceu esta semana com as muitas lojas de rés do chão alagadas – porque há “significativa concentração nesses eixos de estabelecimentos comerciais (figura 4.8) e de instalações hoteleiras (figura 4.9) demonstrativo da necessidade dessas instalações adotarem medidas de adaptação face ao risco de inundação”.
Outro dado importante – a crescente ocupações do subsolo, que, segundo a CML, não tem cartografia pormenorizada: “infraestruturas (incluindo túneis) e caves em subsolo (uso público e privados). Estas ocupações têm fortes implicações quer ao nível das vulnerabilidades às inundações, quer na eficácia da gestão do ciclo da água”.
*Artigo atualizado a 13 de dezembro
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As causas naturais e sociais deste problema têm sido amplamente debatidas e informadas nos diferentes media. Infelizmente pouco se tem falado das causas políticas. Com efeito, os túneis de drenagem das águas pluviais de Lisboa ainda não foram construídos porque não se veem e não dão votos… Mas os nossos políticos (Tanto faz serem do PS como o PSD) preferem ser gozados até ao limite pelo Ricardo Araujo Pereira do que tomar acções que não dão votos. Infelizmente é o que temos.
Um bom princípio, também para esta situação, seria planear para agir em vez de … reagir sem planear!