Um quarto com cinco pessoas, um T3 com 11, onde às vezes chegava mais alguém que ficava a dormir no chão. Foi assim que “Francisco” (nome fictício) passou os primeiros meses em Lisboa. E sabe que é apenas um ponto neste quadro crítico que é a habitação na cidade.
Brasileiro, agora com 28 anos, chegou a Lisboa em 2022. Apesar de já ter vivido em Itália, no Catar e na Sérvia, nunca se deparou com tanta dificuldade em encontrar onde viver como aqui.
“Você nunca está sozinho quando está num quarto compartilhado.” No quarto sobrelotado e sem janelas que partilhava no bairro da Ajuda, “tinha de andar devagar para não pisar no braço ou na perna” de quem dormia no chão.
Dia após dia, obrigado a disputar cada centímetro e incapaz de encontrar a privacidade e o silêncio por que se anseia depois de um dia de trabalho, “Francisco” estava desgastado e stressado.
Depois de a Mensagem ter estreado a série documental “Cidades para Quem?“, sobre os direitos que se perdem com uma rede de transportes públicos mal planeada na Área Metropolitana de Lisboa, a série dedica-se agora ao tema da crise na habitação. Um problema que não conhece morada única em Portugal, mas que se tem agravado especialmente em Lisboa.
“Direito à privacidade” é o primeiro episódio, ao qual “Francisco” dá rosto. Quem pode, afinal, viver em Lisboa? E sob que condições?
Veja aqui o primeiro episódio, “DIREITO À PRIVACIDADE”:
Saiba mais sobre a série aqui.
Ficha Técnica:
Produção – Catarina Reis e Frederico Raposo
Imagem e edição – Inês Leote
O jornalismo que a Mensagem de Lisboa faz dantes pagava-se com anúncios e venda de jornais. Esses tempos acabaram – hoje são apenas o negócio das grandes plataformas. O jornalismo, hoje, é uma questão de serviço e de comunidade. Se gosta do que fazemos na Mensagem, se gosta de fazer parte desta comunidade, ajude-nos a crescer, ir para zonas que pouco se conhecem. Por isso, precisamos de si. Junte-se a nós e contribua:
O problema da habitação em Lisboa só será devidamente endereçado quando a Cidade deixar de estar partida administrativamente em 5 parcelas que não comunicam umas com as outras. Com apenas 100km2, onde ainda cabe o Monsanto e um aeroporto, Lisboa é uma quinta atrofiada. Apenas a análise e gestão do territórios de 400 km2 de Oeiras, Amadora, Odivelas, Loures e Lisboa, a verdadeira Cidade, permite encontrar respostas para esse problema. 400 km2 é a dimensão de Atenas na Grécia ou de Oslo na Noruega já agora.
Quando cheguei em Lisboa em 2019, me arrendaram um quarto por 400 euros, num apto com dois quartos e a senhoria e o filho dormiam na sala em.colchao inflável. Situação constrangedora.
Sou privilegiado e não vivo mais essa situação, estou a sair do apartamento que moro e o senhorio aumentou o arrendamento de 525 para 750. Três anos e um aumento desses. Absurdo