logotipo mensagem

Olá, vizinhos!

Hoje quem vos escreve é o Frederico. Já foram ver as luzes da cidade no Natal? Eu sempre gostei das de Lisboa. Não sou religioso, mas gosto da antecipação do momento festivo e de reunião familiar, da mesa recheada e de andar pelas ruas, de sentir a atmosfera desta época.

“Vamos ver as luzes”, dizia a minha mãe, puxando pela restante família. E lá íamos. Entrávamos no carro, descíamos a A5 – vivíamos em Linda-a-Velha – e estávamos em Lisboa. Apanhávamos, primeiro, as torres das Amoreiras iluminadas, depois a rotunda do Marquês, a Avenida, o Rossio e, com sorte, passávamos pela Guerra Junqueiro e Avenida da Igreja.

Escolhíamos as noites festivas para fazer a peregrinação motorizada e pelo caminho encontrávamos poucas pessoas, pouco ou nenhum trânsito. E isso sempre soube a Natal na nossa família.

Guardo a memória das viagens de carro para ver as luzes com carinho e saudade, mas hoje ponho-me a pensar se esta tradição, comum a tantos lisboetas em sentido lato, não poderia ser substituída por outra. Desde que vivo em Lisboa, vejo as luzes… a pé.

Durante o período festivo, quem passa pela Avenida da Liberdade e conhece o seu movimento durante todo o ano, apercebe-se de um fenómeno muito próprio da época e, ao mesmo tempo, muito pouco saudável – a hora de ponta deixa de existir e o trânsito passa a inferno de todas as horas.

De manhã à noite, o trânsito na faixa central da Avenida está parado, os cruzamentos entupidos e as buzinas fazem ouvir-se ainda mais. E isto não são só impressões: segundo dados recentes recolhidos pela Zero “a média anual de dióxido de azoto é de 40,2 ug/m3 e os valores desde outubro estão a níveis equivalentes praticamente ao dobro dos que se registaram entre janeiro e setembro de 2021″.

A ZERO lembra que “a Comissão Europeia enviou há poucas semanas para o Tribunal Europeu de Justiça uma queixa contra Portugal por má qualidade do ar em diversas zonas, incluindo Lisboa, não havendo medidas suficientes a serem tomadas para contrariar a situação”.

Portugal arrisca uma multa, e os lisboetas respirar o irrespirável.

Há uma sensação de frustração a pairar no Natal da Avenida – e ver as luzes de Natal não devia ser. Viver a cidade, no Natal ou em qualquer outra época, não tem de ser frustrante.

Há uns dias, andava por um dos passeios laterais da Avenida quando dei por mim a aperceber-me de que, aqui, as luzes estão nas árvores para quem as vê a partir dos carros. Nas laterais, onde estão as lojas, as esplanadas, o Tivoli e o São Jorge, não há luzes para apreciar. As pessoas que se passeiam pela avenida, as que entram e saem dos escritórios, todas elas circulam pelas laterais, mas não têm direito às luzes.

E se as luzes estivessem onde estão as pessoas? Seria um passo para menos carros na Avenida nesta época? Teríamos uma cidade menos ruidosa e poluída? No Marquês de Pombal, na Fontes Pereira de Melo e na Avenida da República, o cenário é o mesmo – as luzes estão no separador central da faixa de rodagem automóvel, longe dos passeios e das ciclovias. Escapam um pouco as ruas da Baixa…

Quem vê, afinal, as luzes de Natal em Lisboa? Os carros ou as pessoas?

Para quem pode, uma sugestão: deixem o carro um pouco mais longe. Façam o percurso das luzes a pé. Não é preciso percorrer todas as ruas e avenidas iluminadas, a surpresa e a beleza estão em cada esquina e, de carro, mais facilmente passam despercebidas.

Se a moda pegar, talvez um dia as luzes da Avenida passem para as laterais, para onde as pessoas realmente estão. E um dia, talvez, ver as luzes de carro seja memória do passado.

Frederico Raposo
Jornalista

PS: A Mensagem está nomeada para os prémios do Observatório de Ciberjornalismo – com o podcast Sons de Lisboa e a reportagem dos Heróis da Cidade na pandemia. Há um prémio do público – por isso vos pedimos, votem em nós aqui!

Na rua do Ouro e na da Prata estão 60 lojas fechadas. O que fazer com esta Baixa?

Enquanto a Rua Augusta vive, as ruas que lhe são paralelas definham. E toda a Baixa tenta renascer com lentidão da pandemia, à boleia do turismo desconfinado. O lugar de excelência dos Natais lisboetas precisa de reencontrar-se. Por: Catarina Reis

Pedalar por Lisboa a passear idosos, pelo combate à solidão e o “direito ao vento nos cabelos”

Inspirado numa experiência dinamarquesa, o Pedalar Sem Idade tem levado idosos em passeios por Lisboa, numa iniciativa lúdica com resultados terapêuticos. Por: Álvaro Filho

A origem do crioulo, e a sua importância em Lisboa, a mais crioula das cidades europeias

Nasceu da mistura, foi proibido, ainda não é língua oficial em nenhum dos países que o falam, Cabo Verde e Guiné Bissau. A história do crioulo e da sua presença em Lisboa é uma parte importante da história da cidade. Por: Karyna Gomes

“Querer que o Natal deixe de ser Natal é um crime cultural” – crónica de Frei Filipe Rodrigues

“Como cristão, para quem o Natal diz muito, preocupa-me o pior inimigo para uma espiritualidade do Advento e do Natal que é o consumismo (…)”

Crioulos nossos – crónica de Ferreira Fernandes

“No dia em que as cinzas de Bana partiram da sua cidade, Lisboa, eu pensei na sua cidade, Mindelo, de onde elas voltariam a partir, mar fora. Misturar mundos era a homenagem que eu lhe prestava (…)”

Evocação do filme “Os Mistérios de Lisboa” – crónica de Lauro António

Raoul Ruiz, chileno por nascimento, refugiado em França depois do golpe de Pinochet, estabeleceu com […]

Lisboa merece um jornal para uma comunidade de cidadãos que valorizam a cidade em que vivem. Contribua para que este projeto possa crescer e fortalecer-se:

Já nos segue nas redes sociais?