Na escola Básica Maria Barroso os protestos fizeram-se ouvir.

Lisboa acaba de dar o primeiro passo para ser mais uma das cidades europeias a aderir ao projeto “rua de escolas” ou “rue aux écoles”, o que poderá operar uma mudança na estrutura urbanística da cidade. A Assembleia Municipal de Lisboa aprovou uma recomendação dos deputados independentes dos Cidadãos por Lisboa, Miguel Graça e Daniela Serralha, que pede à Câmara que analise a possibilidade da pedonalização de algumas ruas em redor de algumas escolas.

O objetivo é que o projeto possa estar em andamento no início do próximo ano letivo – mas para isso precisa de ser perfilhado pela Câmara. É apenas uma recomendação.

Numa altura em que os alunos continuam a ser transportados para as escolas sobretudo de carro – como mostram estudos feitos em Lisboa – esta seria uma medida revoucionária. Várias escolas queixam-se de falta de segurança, como aconteceu no ano passado com a Escola Básica do 1º Ciclo com Jardim de Infância Maria Barroso, junto ao que dantes era o Tribunal da Boa Hora, no Chiado, ou no Jardim-Escola João de Deus dos Olivais, referido no documento dos CPL.

“Para tentar resolver a situação, fizeram-se algumas tentativas infrutíferas tais como pintar linhas amarelas no chão, aumentar os lugares de tomada e largada de passageiros”. No ano passado, com no âmbito da iniciativa municipal Mexe-te Pela Tua Cidade, o espaço à volta passou a fechar todas as quartas-feiras, e este ano deu-se o encerramento definitivo da rua.

Também no Agrupamento de Escolas D. Filipa de Lencastre, no bairro do Arco do
Cego, se fecham as ruas à volta da escola todas as terças-feiras.

Por tudo isto, os Cidadãos por Lisboa recomendam que se faça “um levantamento das creches, jardins de infância e escolas do ensino básico do 1º ciclo”, e que se proponha um projeto piloto de pedonalização das ruas, com consulta da comunidade escolar.

168 escolas em Paris

As ruas escolares não são uma novidade. Existem noutras cidades europeias, com destaque para Paris, que iniciou o processo em 2020, à boleia da pandemia, e já conta com 168 ruas fechadas ao trânsito e transformadas em “rue aux écoles”, totalmente pedonais, uma mudança que abrange 204 escolas, localizadas em 18 bairros da cidade de Paris.

Estas ruas são agora para peões, e facilitarão a deslocação dos alunos de casa até à escola, podendo fazer-se o percurso a pé, de bicicleta ou de trotinete.

Em algumas destas ruas serão instaladas barreiras removíveis, para a passagem de veículos e serviços de emergência, mas continuarão a estar interditas a automóveis e outros veículos motorizados.

Em 16 das 168 “ruas escolares”, os peões poderão beneficiar de uma pista de caminhada de cor clara que contrastará com a paisagem dos canteiros, arbustos e árvores. Esses espaços verdes contribuem para a redução das ilhas de calor.

Uma das ruas fechadas de Paris. Foto:DR

Também Barcelona aderiu a esta tendência, existindo já na cidade catalã 88 escolas a beneficiar de ruas pedonais e prevendo o município abranger 175 escolas até ao final deste ano.

O crescente tráfego automóvel nas cidades está a tornar-se insustentável e a necessidade de reduzir a poluição, o ruído e o espaço ocupado pelos carros é cada vez mais evidente, o que leva a repensar os nossos hábitos.

Parte da cidade de 15 minutos

As ruas de escolas partem do conceito “A cidade de 15 minutos”, criado pelo cientista colombiano, Carlos Moreno, assessor da Presidente da Câmara Anne Hidalgo. Este por sua vez, consiste em reestruturar as cidades para que as longas distâncias possam sem percorridas, a pé ou de bicicleta, em apenas 15 minutos, de forma a reduzir o trânsito nas cidades.

As escolas são parte importante deste projeto que envolve a ecologia, para cidades mais verdes e sustentáveis; a proximidade para que se viva a uma curta distância de serviços e infraestruturas; a solidariedade, para que se criem relações interpessoais; a participação deve envolver ativamente os cidadãos na transformação do seu bairro.

O plano é criar núcleos ao redor dos bairros, que permitam os habitantes terem tudo próximo de si, desde locais de trabalho, centros de saúde, locais de lazer, mercados e escolas.

Todas estas deslocações poderão ser feitas sem utilizar o automóvel. As mudanças estão a acontecer gradualmente e já são notórias, sendo a capital francesa um exemplo disso.

Em Paris 50% dos espaços públicos são reservados a carros, mas a Presidente da Câmara de Paris, Anne Hidalgo, está a aplicar uma estratégia para mudar este paradigma.

Reduziu o número de parques de estacionamento e aumentou o número de pontos de carregamento de carros elétricos. Também diminuiu o limite de velocidade dos veículos, para 30 km/h no centro de Paris.

A estratégia utilizada em Oslo para reduzir os carros na cidade, é a mesma. Mas na Holanda, a sustentabilidade é algo quase cultural, existem mais de 32 mil km de ciclovias em todo o país e mais bicicletas do que pessoas.

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* Apaixonada por jornalismo desde os 12 anos, Charline Vaz Lopes cresceu entre Lisboa, cidade que a viu nascer e Bissau, capital do seu país de origem. Aos 23 anos, divide-se entre a música e o amor pela comunicação. Estudou Ciências da Comunicação na Universidade Católica Portuguesa de Braga e está a estagiar na Mensagem de Lisboa. Este artigo foi editado por Catarina Pires.

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