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Temperaturas altas, poluição, congestão rodoviária. Sintomas de um problema bem maior, que afeta todo o planeta, e que se está a sentir com grande impacto nas cidades. Por isso, o presidente da Câmara de Londres, Sadiq Khan, anunciou a expansão da Zona de Emissões Ultra Reduzidas (uma ZER em que os veículos em circulação têm de obedecer a determinados critérios ou então pagar 12,50 libras diárias) a toda a área de Londres – a Grande Londres.
O anúncio desta medida vem na sequência de dados que provam que Londres precisa de continuar o caminho trilhado até agora. “Os desafios triplos do combate à poluição do ar, da emergência climática e da congestão significam que temos de continuar a reduzir as emissões de veículos em Londres. Não temos tempo a perder”, afirmou o presidente.
A implementação da ULEZ (Ultra Low Emissions Zone) em 2019, entretanto alargada em outubro de 2021, conseguiu reduzir as emissões de dióxido de azoto nas rua em algumas pontos percentuais, mas não é suficiente.
Uma nova análise publicada pelo City Hall no mês passado mostra que, apesar de haver algumas melhorias na qualidade do ar, todos os hospitais e centros médicos na capital londrina se localizam em áreas que violam as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto à presença de dióxido de azoto e de partículas em suspensão.
Recorde-se que as concentrações de dióxido de azoto (NO2) são também um dos pontos de maiores problemas em Lisboa, tendo, na avenida da Liberdade, disparado várias vezes para níveis fora das regras europeias, segundo dados divulgados pela Associção Zero. O valor-limite anual é de 40 ug/m3 no que respeita ao dióxido de azoto – e Lisboa tem desrespeitado esse valor-limite anual, o que já le valeu uma reprimenda da Comissão Europeia e a intenção de avançar com uma acção contra Portugal no Tribunal de Justiça da UE.
São também cerca de 500 mil as pessoas nos bairros londrinos que sofrem de asma ou são vulneráveis aos impactos do ar poluído. O ar tóxico proveniente do tráfego continua a ser a causa principal dos danos pulmonares em crianças e de cerca de 4 mil mortes prematuras por ano – grande parte destas mortes acontece na área da Grande Londres, que a Zona de Emissões Ultra Reduzidas ainda não cobre.

Os ganhos da nova ZER
A expansão da ULEZ tem o objetivo de limitar o tráfego e assim caminhar em direção a uma Londres mais sustentável. As avaliações iniciais indicam que expandir a ULEZ pode levar:
- À redução das emissões de óxido de azoto provenientes dos carros e carrinhas em 285 a 330 toneladas;
- À redução de cerca de 10% das emissões de óxido de azoto de carros e carrinhas vindos dos arredores de Londres de forma a conseguir-se uma redução em 30% das emissões de óxido de azoto;
- À redução das emissões nos arredores de Londres em 135 mil a 150 mil toneladas;
- À redução do número de carros que circulam nas ruas de Londres, com menos 200 a 400 mil carros por dia;
Esta é também uma proposta que vai de acordo com as conclusões do novo relatório do Painel Intergovernamental das Alterações Climáticas (IPCC), no qual se torna evidente que os impactos das alterações climáticas estão já a ser sentidos nas cidades e especialmente pelas comunidades mais vulneráveis.
“É uma questão de justiça social – com a poluição do ar a atingir as comunidades mais pobres de forma mais severa. Quase metade dos londrinos não tem carro, mas estão a sentir desproporcionalmente as consequências que os veículos poluidores estão a causar”, declarou o edil.
Apoios sociais e ao abate de carros
Sadiq Khan expressou também a sua vontade em prestar apoio às associações, aos pequenos negócios, às pessoas com deficiência e aos londrinos com salários mais baixos para que seja possível a sua adaptação à Zona de Emissões Ultra Baixas.
Para isso, propôs um esquema que permite aos motoristas dos arredores de Londres que descartem os seus veículos poluentes, trocando-os por meios de transporte mais sustentáveis, quer através dos chamados “car clubs” ou da compra de modelos compatíveis com a Zona de Emissões Ultra Baixas.
Propôs ainda a criação de um esquema de abate de carros em Londres – algo que já se fez noutras cidades do país.
O plano inicialmente idealizado pelo Presidente da Câmara passava por desenvolver um esquema que taxasse os motoristas por milha, com base no nível de poluição causada pelo veículo, no nível de congestão da área de circulação e na facilidade de acesso a transportes públicos, mas a Transport for London (TfL) respondeu ainda não estar preparada para estas políticas.
Então acordou-se que a solução final passaria pela expansão da ULEZ, que ainda vai ser analisada. Prevê-se a sua possível implementação em 2023.

Ana da Cunha
Nasceu no Porto, há 26 anos, mas desde 2019 que faz do Alfa Pendular a sua casa. Em Lisboa, descobriu o amor às histórias, ouvindo-as e contando-as na Avenida de Berna, na Universidade Nova de Lisboa.
✉ ana.cunha@amensagem.pt
Por cá temos autarcas anacrónicos como Carlos Moedas e Isaltino Morais que não só não impõem restrições à circulação automóvel, como adoptam políticas que levam a mais deslocações feitas de carro. Estamos mesmo atrasados!
Nunca ninguém pensou acabar com as oficinas de automóveis instaladas em prédios de habitação,? Grande fonte de poluição e chamada de mais carros para Lisboa