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“Não vai dar.” Foi assim, sem meias palavras, que Nuno Delgado, judoca português, decidiu o caminho que o levaria a ser, em 2000, o primeiro medalhado olímpico na modalidade com a bandeira portuguesa ao peito. Deixou o destino nas mãos de um teste: “ou ficava entre os cinco melhores no Campeonato da Europa ou acabava, não tenho valor para isto”. Continuar a conciliar o curso de desporto, em Lisboa, com o judo não era opção – o foco ainda hoje é a sua arma. Agora com 44 anos, e 21 após a vitória mais importante da carreira, o atleta lisboeta recebe na sua cidade-mãe mais um Europeu – entre 16 e 18 de abril, no Altice Arena. Desta vez, de uniforme arrumado, como chefe de missão da Lisboa Capital Europeia do Desporto 2021.

O plano da entrevista era outro. Convidámos o judoca para um passeio pelos lugares da cidade que o marcaram como atleta e lisboeta. A chuva não deu tréguas e o nosso destino passou a ser este: um dos espaços da Escola Nuno Delgado, criada pelo próprio.

Ouça aqui a entrevista:

Ouça aqui a entrevista a Nuno Delgado, judoca português

Estamos num pavilhão desportivo da Junta de Freguesia da Estrela, onde dezenas de crianças brincam, enquanto esperam pelos pais – o som que se ouve atrás da voz de Nuno não deixa margem para dúvidas. “Então, campeãs?” Os rostos são familiares. Muitos deles são seus alunos.

O local em si não é um acaso. Foi também nesta escola que se sagrou pela primeira vez campeão nacional.

Imagem e edição: Francisco Romão Pereira

Se fosse ele mesmo a escolher, e a chuva não caísse lá fora, era no Padrão dos Descobrimentos, em Belém, que gostaria de começar esta viagem que lhe propusemos. Foi ali mesmo que, imbuído no espírito de descoberta que aqueles homens de pedra emanam, decidiu ir aos jogos olímpicos. E voltar com uma medalha em nome de Portugal.

Entre Cabo Verde e Lisboa

Vestia um fato de treino amarelo com riscas azuis “comprado na feira” quando cumprimentou os tatamis (nome que se dá ao piso destes espaços de prática de artes de combate) pela primeira vez aos sete anos. Foi a alguns quilómetros da capital, em Santarém. Na altura, “comia com as duas mãos, escrevia com as duas mãos”. “Quando saí do 2.º ano, ainda não tinha a noção se era canhoto ou não”. À dislexia juntava-se a hiperatividade. E só o judo acalmou o corpo irrequieto.

Na modalidade, encontrou também a forma de responder à questão que deixava a sua vida dividida entre dois países – aquele onde nasceu e viveu e aquele de onde vinha grande parte da sua família. “É português ou cabo-verdiano?” A resposta não subtrai nenhuma nacionalidade: “sou lusófono”.

Na entrevista, que pode ouvir na íntegra no áudio disponibilizado em cima, Nuno conta como encontrou nos ideais de Nelson Mandela a resposta para enfrentar as desigualdades raciais. Um líder cujo legado o atleta faz questão de espalhar pelo mundo e que o inspirou a realizar “A Maior Aula de Judo do Mundo” – que se repete, desta vez online, neste Europeu, no dia 18 de abril.

Dedicamos uma conversa sobre os primeiros anos de carreira do judoca, como pensou que o judo português morreria – até chegar a geração de Telma Monteiro e Jorge Fonseca -, o caminho até se ter tornado treinador e o peso que Lisboa assume nos ombros com a chegada deste Europeu. “Lisboa vai receber o ano de consagração de uma coisa que se torna portuguesa.” Pois Telma Monteiro já é “embaixadora do judo” e promete arrecadar ouro nesta prova, garante.

Esta é uma viagem pela vida do homem que quer “pôr os lisboetas a saber o que é a motricidade humana”, esta ciência que diz ainda viver à margem do próprio desporto. E pelo atleta que assentou a vida na freguesia da Estrela, para ser um cidadão da cidade dos 15 minutos. “É como voltar à tribo.”


Catarina Reis

Nascida no Porto há 27 anos, foi adotada por Lisboa para estagiar no jornal Público. Um ano depois, entrou na redação do Diário de Notícias, onde aprendeu quase tudo o que sabe hoje sobre este trabalho de trincheira e o país que a levou à batalha. Lá, escreveu sobretudo na área da Educação, na qual encheu o papel e o site de notícias todos os dias. No DN, investigou sobre o antigo Casal Ventoso e valeu-lhe o Prémio Direitos Humanos & Integração da UNESCO, em 2020.

catarina.reis@amensagem.pt

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