“Há poucos lugares lisboetas como o largo Martim Moniz, sopé da Mouraria. Secular, no sentido de ser muito centenário e também civil, profano, mundano e popular. E ostensivamente entre colinas, uma Lisboa superlativa. Uma praça de gente e de memórias, confusa e fascinante.
Há uma discussão pública sobre o Martim Moniz – em Lisboa sempre se discute o Martim Moniz – e ainda bem. Como costume, depois da discussão talvez alguém com poder imponha outra coisa – e talvez ainda mal. Mas fiquemos pela dúvida, o que fazer com a vítima de sucessivos «faz e desfaz»? Para começo de conversa, saber dela, a praça. O que é? Porque é mártir? E admirar-Ihe a teimosia por resistir.”
Assim abre o novo livro do jornalista Ferreira Fernandes: “Martim Moniz. Como o desentalar e passar a admirar”. Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre viraram sempre à esquerda quando no Martim Moniz ficaram hospedados no Hotel Mundial e perderam a oportunidade de conhecer a Lisboa que procuravam, mas Ferreira Fernandes virou e foi em frente para descobrir a história daquela praça, no centro mais centro de Lisboa.
O Martim Moniz está na ordem do dia com a aprovação do projeto que o irá transformar num jardim – dia 22 na reunião da CML será votado o projeto vencedor do concurso, das arquitetas Filipa Cardoso de Menezes e Catarina Assis Pacheco.
O novo retrato de Ferreira Fernandes editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, já à venda, foi apresentado na FNAC do Chiado, dia 13 de novembro, às 18:30 horas, num debate com Paulo Silveira e Sousa e Filipa Melo.
O projeto do jardim para o Martim Moniz era, aliás, a proposta já feita na reportagem que foi publicada no dia em que a Mensagem foi lançada: fazendo referência ao livro A Aventura das Plantas e os Descobrimentos Portugueses, de 1992, de José Mendes Ferrão, Ferreira Fernandes propunha “um jardim mundial com as árvores da nossa antiga floresta – sobreiros, zambujeiros, alfarrobeiras, medronheiros, pinheiros-mansos… – junto a canteiros com tudo que foi exótico e também por causa de Portugal. Por falar nisso, Fernão de Magalhães, faz 500 anos, daqui a dias, 27 de abril, que, para dar o seu contributo, morreu numa praia longínqua.
De árvores nacionais e espécies de todo o mundo, especialistas em Lisboa não faltam. Saberes sobre como fazer isto em cima de uma placa de parking subterrâneo, engenharias básicas têm. E para potenciar esta coisa simples – como não me cansei de dizer – temos as variadas gentes do Martim Moniz, as do passado e as chegando. E até respeitar o ritual e o simbólico é simples. À ermida da Senhora Saúde só uma loja de revenda de bijutarias se encosta a ela, respeite-se quem trabalha e arranje-se outro lugar. Um ícone não pode servir de encosto.”
Leia aqui sobre o novo projeto para o Martim Moniz:
Neste livro esta ideia é elaborada, mas mostrando as várias vidas daquele sítio que foi lugar de fado, de cinema português, de artistas, de migrantes e de construções e demolições – umas a seguir às outras.

Fala da “rua do Boy Formoso”, nome antigo em homenagem a um animal que por lá pastara, da praça do demolido Palácio do Marquês de Alegrete e o seu arco, por onde passavam todos os dias automóveis e elétricos às centenas e pessoas aos milhares. Mas também da Igreja do Socorro, vendida à Câmara Municipal, depois também demolida em 1949 e mais tarde terreno para o centro comercial da Mouraria.
A venda de terrenos municipais a que assistimos para se erguerem hotéis não é novidade, não tivesse o famoso Hotel Mundial sido levantado em cima do pó do teatro Apolo, para mais tarde ser nomeado como o best rooftop bar de Lisboa, segundo a revista TimeOut.
São estas e outras histórias esquecidas no tempo que são recuperadas por Ferreira Fernandes, numa explicação de como há séculos aquela praça espera um milagre (ou umas obras).
O livro, que conta ainda com a fotografia de capa e os retratos, em destaque nas últimas páginas, da jornalista da Mensagem Inês Leote, está disponível em todas as livrarias, pontos habituais de compra e online.
A fotografia é bem representativa da realidade actual da Rua do Benformoso: lixo espalhado pelo chão junto a bens alimentares frescos.