Em 2019, um cordão formado pelo movimento Um Jardim para o Martim Moniz conseguiu travar um projeto privado e desencadear um processo participativo, onde a população expressou a sua vontade: ver nascer um jardim nesta praça multicultural de Lisboa. Um processo demorado, mas que parece estar próximo de um fim.
Quatro anos depois do início da luta por um jardim no Martim Moniz, há finalmente um projeto que dita um novo futuro, e que foi anunciado mesmo em vésperas do lançamento do livro “Martim Moniz” do jornalista e fundador da Mensagem, Ferreira Fernandes, que se realiza no dia 13 de novembro, pelas 18h, na FNAC do Chiado.
O projeto, vencedor do concurso público de conceção para a requalificação da Praça do Martim Moniz, é da autoria das arquitetas Filipa Cardoso de Menezes e Catarina Assis Pacheco. Previa-se levar o projeto a discussão em reunião pública no dia 8, mas a discussão foi adiada para dia 22 a pedido dos vereadores da oposição.

Mas, afinal, o que vai mudar no Martim Moniz?

Baseando-se na “desconstrução da ilha”, o projeto prevê a criação de um grande espaço verde onde é valorizada a livre circulação pedonal, e onde se resgatam alguns elementos históricos do passado de um lugar tão lisboeta.
Vejamos algumas das principais intervenções:
- Um jardim multicultural
No centro da praça, surgirá um jardim aberto.
Sobre a laje existente, será instalada uma plataforma de matéria viva, criando-se assim uma estrutura verde diversificada, com árvores de diferentes climas, que remetam para os diferentes países que se cruzam nesta praça – curiosamente a ideia que a Mensagem também tinha dado neste texto escrito no seu primeiro texto publicado, por Ferreira Fernandes, na reportagem agora vertida em livro:
“O que fazer? Um jardim mundial com as árvores da nossa antiga floresta – sobreiros, zambujeiros, alfarrobeiras, medronheiros, pinheiros-mansos… – junto a canteiros com tudo que foi exótico e também por causa de Portugal. Por falar nisso, Fernão de Magalhães, faz 500 anos, daqui a dias, 27 de abril, que, para dar o seu contributo, morreu numa praia longínqua. De árvores nacionais e espécies de todo o mundo, especialistas em Lisboa não faltam. Saberes sobre como fazer isto em cima de uma placa de parking subterrâneo, engenharias básicas têm. E para potenciar esta coisa simples – como não me cansei de dizer – temos as variadas gentes do Martim Moniz, as do passado e as chegando.”
- Um parque infantil inclusivo nascerá no jardim
- E haverá uma cafetaria, com um miradouro no seu topo.
- Uma nova praça
A praça do Martim Moniz como a conhecemos hoje vai “abrir-se” para o seu lado nascente, isto é, para o lado onde se encontra o Centro Comercial da Mouraria e a Capela da Nossa Senhora da Saúde.
Este lado da praça será totalmente pedonal, resgatando-se a importância da Capela, um elemento tão identitário.
Na ligação entre o jardim e a praça, surgem bancadas, uma espécie de “anfiteatro” sobre a colina da Mouraria.
- Atravessamento principal
Será possível (e fácil!) atravessar toda a praça de uma ponta à outra. Haverá uma grande passadeira de atravessamento na rua da Palma, uma ligação ao jardim através de uma rampa e ligação à praça da Capela da Nossa Senhora da Saúde e às Escadinhas da Saúde.
- Trânsito automóvel restrito
Com esta nova configuração, todo o trânsito automóvel, bem como os autocarros e eléctricos, passa para o lado poente da praça, para uma renovada rua da Palma, onde surgirá também uma ciclovia bidirecional com ligação à Almirante Reis.
Numa nova rotunda, junto ao Hotel Mundial, vão concentrar-se as paragens de autocarro e de elétrico.
- Reposição da muralha fernandina
Na praça, surgirá um muro de contenção sobre a antiga muralha fernandina, fundado no parque de estacionamento. É esse muro de contenção que estabelece a separação entre a praça e a rotunda junto ao Hotel Mundial, onde surgirão árvores com algum porte.
- Cisterna/poço
Será instalada uma cisterna de armazenamento e de recolha de águas pluviais numa parcela do parque de estacionamento. Uma peça artística para suscitar a reflexão em relação à água.

Ana da Cunha
Nasceu no Porto, há 27 anos, mas desde 2019 que faz do Alfa Pendular a sua casa. Em Lisboa, descobriu o amor às histórias, ouvindo-as e contando-as na Avenida de Berna, na Universidade Nova de Lisboa.
✉ ana.cunha@amensagem.pt

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Irá decerto ter o mesmo destino que os jardins do Parque das Nações. Dinheiro para o projecto e obras encaminhado a empresas de amigalhaços e o ciclo continua, mais do mesmo. Daqui a poucos anos , votado ao abandono, vegetação seca.
Como é que vai haver vista para a colina da Mouraria se a mesma está bloqueada pelo paquiderme do CC Mouraria?