Está já no Cais da Rocha de Conde de Óbidos o mural de Vhils – o trabalho em parceria com a Mensagem e com o apoio do Porto de Lisboa. A obra de arte urbana é uma interpretação da fotografia de uma refugiada da Segunda Guerra, de Roger Kahan, fotógrafo e refugiado francês em Lisboa.
A reportagem de Ferreira Fernandes, que descobriu o local exato onde tinha sido tirada a fotografia, em outubro de 1940, foi também ontem lançada em livro, no âmbito dos cadernos do arquivo do Porto de Lisboa – e tudo isto foi integrado nas comemorações do seu 136º aniversário.
E foi muito emocionante!
Mais de 200 pessoas assistiram ao vídeo mapping com que foi divulgada a obra, numa cerimónia que, na escuridão do porto, se tornou ainda mais simbólica. O vídeo mostrava Vhils a revelar a imagem na parede branca – esta sua obra tem uma técnica nova, que o artista tinha apenas usado no Festival Iminente no ano passado.
Primeiro, ele fez uma interpretação digital da foto de Kahan. De seguida, a imagem é feita ao tamanho da parede, e delineada com tinta repelente transparente. De seguida, a parede é toda pintada de branco outra vez. E no final, Vhils aplica tinta escura, em várias concentrações de preto, que adere às partes da imagem que não levaram a tinta repelente. É uma espécie de processo de revelação – e que foi escolhido porque se trata precisamente de uma fotografia.





O resultado é “como se fosse uma fotografia antiga”. Carcomida pelo tempo. Mas também revelada pelos acidentes que o tempo fez nesta “parede viva” como dizia Alexandre Farto – a parede do edifício do porto onde tudo se passou, ao lado do marco de correio que também foi fotografado em 1940.
O tempo e a memória foi o que juntou esta multidão no Porto de Lisboa, na terça à noite. Em momentos tão difíceis do mundo, o presidente da Câmara Carlos Moedas lembrou como Lisboa é e foi lugar de “judeus, muçulmanos e cristãos”, o presidente da APL, Carlos Correia, referiu um porto como “lugar de história e acolhedor, virado para a cidade.”
Ferreira Fernandes lembrou: “Com os dias de hoje, não me apetece dar definições, nem falar de falar de estatísticas. Não aprendemos nada. Nem com a lição mais simples: nada vale mais do que cada um de nós.”
Marcelo Rebelo de Sousa chegou diretamente do aeroporto, de uma viagem à Moldova, para recordar que “não podemos esquecer”. O Presidente esteve junto à obra e aproveitou para dar um abraço a Ferreira Fernandes e levar um livro “para ler durante a noite”.
Agradecemos a todos os que estiveram connosco, parceiros desta aventura, leitores, membros, amigos, vizinhos – e convidamo-vos a continuarem a fazer esta caminhada connosco de viver a cidade de Lisboa desta forma mais profunda.
Como dizia a Safaa Dib:
Ou o Tiago Mota Saraiva:
Veja também as reportagens que a Monocle, o Público, o DN, a RTP, a TVI, a NIT, a Nauticapress fizeram sobre o assunto.
Podem ouvir o episódio da Monocle aqui:
https://monocle.com/radio/shows/the-globalist/3191/
No dia 9 de novembro haverá uma conferência no Porto de Lisboa, Gare de Alcântara, para esmiuçar esta história, com a apresentação do documentário – pode inscrever-se enviando um email para geral@amensagem.pt
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