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Em 2023,  falar-se em cidades saudáveis pode assemelhar-se a falar na ilha de Pala de Aldous Huxley em 1962 ou a falar em Anarres de Ursula K. Le Guin em 1974: utópico, distante, inacessível. A diferença é que o conceito de “cidades saudáveis” pertence à realidade de 2023, incluindo a realidade da cidade de Lisboa.

Isto é, dizer que Lisboa é considerada uma cidade com indicadores saudáveis, aliás, acima da média quando comparada com as restantes 25 cidades do Observatório Global de Cidades Saudáveis e Sustentáveis, uma iniciativa da prestigiosa revista científica The Lancet, –não é dizer pouco quando se sabe que 54% da população mundial vive em cidades e que estas enfrentam sérios desafios ambientais, sociais e de saúde.

Lisboa, com mais de meio milhão de habitantes para uma área urbana de 100,05 km², tem tudo para assumir estes desafios como muito relevantes.

É perante este mote, de que Lisboa enfrenta hoje grandes desafios e, ao mesmo tempo, grandes possibilidades de transformação positiva, que nasce uma série produzida pela Mensagem e a Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina de Universidade de Lisboa (ISAMB), à qual chamamos “Cidades Saudáveis”: olhar a cidade através da ciência, aproximar a comunidade através da ciência.

Lisboa acima da média na disponibilidade para mudar?

Se fosse possível desenharmos uma cidade à luz do utópico, talvez estivesse no inconsciente coletivo a imagem de uma cidade transbordante de espaços verdes e espaços públicos abertos, conectados por ruas caminháveis e com uma rede de transportes minimalista mas muito eficiente, com acesso a mercados alimentares abastecidos por zonas agrícolas próximas, com boa qualidade do ar, segura, inclusiva, que permitisse maior saúde e bem-estar e, no fundo, que permitisse uma vida boa.

E uma “vida boa” para todes. 

É na translação deste cenário utópico para a realidade que a ciência se tem debruçado, criando o conceito de “cidades saudáveis e sustentáveis”, com indicadores mensuráveis que permitam implementar políticas de planeamento urbano, uma vez que um bom planeamento urbano parece produzir benefícios para a saúde e bem-estar individual e planetário.

E o que interfere num cidade saudável, no que se relaciona com a saúde e bem-estar dos seus habitantes:

Por isso, cada vez mais os espaços urbanos são importantes determinantes sociais da saúde, com potencial para efeitos negativos ou positivos na saúde física e mental.

Com tudo isto em mente, 25 cidades a nível global, Lisboa incluída, foram analisadas pelo Observatório Global de Cidades Saudáveis e Sustentáveis (2022) – uma iniciativa global, multi-institucional e transdisciplinar que define e propõe indicadores de política urbana para defender e acompanhar o progresso no sentido de cidades saudáveis e sustentáveis para todos.   

Os resultados foram animadores:

“A disponibilidade de políticas urbanas e de transportes de apoio à saúde e sustentabilidade em Lisboa é acima da média em comparação com outras cidades.”

Também em comparação com as outras cidades estudadas, “a proporção da população em Lisboa com acesso a um mercado alimentar, loja de conveniência e paragem de transportes públicos com um serviço regular, é superior à média.”

Os autores alertam, porém, que Lisboa ainda necessita de melhorar a capacidade para avaliar a efetividade das políticas urbanas definidas.

O que fica, então, por fazer?

A resposta passa por: mais ciência a acompanhar a definição e implementação de políticas urbanas.

É com a ciência que conseguimos medir o impacto de uma determinada intervenção e estudar outras tantas. Com a ciência e com a comunidade (lisbonense), devolvendo-lhe o seu papel de protagonista na criação e divulgação da ciência que nasceu para ela: a que pretende estudar para criar uma boa vida urbana. 

Desta necessidade criou-se a série “Cidades Saudáveis”, onde iremos falar sobre ciência na cidade de Lisboa, e informar a comunidade para que nela participe.

Porque a ciência e a cidade são de todes e para todes: em proximidade e acessibilidade e em não-ficção.


*Isabela Sousa é investigadora no Instituto de Saúde Ambiental (ISAMB) da Faculdade de Medicina de Lisboa e cocoordenadora do projeto “Cidades Saudáveis”, em parceria com a Mensagem.


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2 Comentários

  1. Obrigada Isabela Sousa, excelente artigo, e iniciativa, vou acompanhar os proximos capitulos com imenso interesse.

    Hoje o factor que mais me preocupa é o altissimo nivel de ruído, tanto de vizinhos como da rua, especialmente a noite. Sendo uma das zonas com maior nivel de disturbios noturnos (Santos) apesar de residencial, é espantoso que na lista de equipamentos que recolhem dados, não conste nenhum.
    São pessoas que os produzem, não máquinas, mas estas pessoas não são moradores, chegam de noite e partem de manhã. Não são estrangeiros/turistas na sua maioria, mas também não sabemos de onde vêm.
    Bebem, gritam, são agressivos, os comportamentos são verdadeiramente anti-sociais, e o facto de haver quem esteja a tentar dormir é uma mera coincidencia no “filme de realidades alteradas” que vivem.

    Que saudades do lado positivo do periodo de confinamento COVID, das noites tranquilas, das ruas limpas, do canto dos passaros, da serenidade que se viveu aqui na Rua das Janelas Verdes/Santos – tal como o link que partilhou, que nos leva a ver/ouvir esses tempos!

  2. Boa tarde, Foi tido em conta que o USF da Alta de Lisboa não faz consultas de rotina?
    É tido em conta que, ao invés de fazerem parques de estacionamento subterrâneos, e aproveitarem a superfície para fazerem jardins, ou parques infantis, fazem parques de estacionamento à superfície, aumentando a temperatura do ar, muito principalmente quando há ondas de calor, como aquela que estamos a atravessar neste momento?

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