O que encontra neste artigo
- As escolas com mais fast food ao pé
- As regras sobre alimentação escolar
- Opiniões divergem sobre regras
- O caso de Londres e como o mayor interveio
Nada detém a excursão de 500 metros ao supermercado mais próximo de estudantes da Escola Secundária Camões, nem mesmo a manhã fria, a chuva que já molhou a calçada e até uns tantos desprevenidos. São apenas 11 da manhã e a próxima paragem dos jovens é a vizinha loja de uma cadeia de hipermercados, onde os doces parecem estar dispostos em quantidades mais generosas do que noutros espaços do mesmo género na cidade.
Quando a meteorologia o permite, há quem comece o dia no coreto do jardim mesmo em frente à escola. Aqui encontram-se tostas, hambúrgueres, wraps, sanduíches, snacks e gelados. E numa certa manhã, a música dos Maneskin, a banda do último Festival Eurovisão da Canção. A resposta não é de discoteca, mas há gestos dançantes envergonhados. E snacks e mais snacks.
O supermercado ou o bar do coreto têm montras que contrastam cada vez mais com a de um bar e de uma cantina de escola. A promessa foi de que este ano letivo seria de cortes na ementa e no sal e açúcar consumido pelos mais novos. Passou a ser proibida a venda de produtos como pizzas, gelados, rissóis, hambúrgueres, refrigerantes. Tudo o que continuam a encontrar fora das grades da escola.
Eles procuram e a oferta responde.
“Fui à cantina duas vezes e a refeição vegetariana era arroz com ervilhas. Não é muito bom”, diz uma das miúdas na esplanada. Ainda que os preços das refeições escolares sejam imbatíveis (nunca passando dos 2 euros e podendo até ser gratuito para os alunos beneficiários do escalão A de ação social), a opção não convence duas jovens, de 17 e 18 anos – cuja identidade pedem que se mantenha resguardada.
“A qualidade daquilo que se come influencia claramente o rendimento dos alunos”
Jorge Ferreira, investigador
Para um almoço ou lanche, os alunos de uma escola na freguesia de Arroios têm várias opções num raio de apenas 800 metros. No que se pode traduzir numa caminhada de sensivelmente dez minutos, encontram 74 ofertas de restauração e pastelaria, entre elas três cadeias de fast-food conhecidas. “Se não comermos no bar da escola, vamos ao supermercado aqui perto. Não comemos neste bar já aqui porque é muito caro”, confidenciam duas alunas.
São alarmes para a saúde dos mais novos. Diversos estudos, ao longo dos anos, não deixam margem para dúvidas ao estabelecer uma correlação clara entre o consumo de refeições de qualidade nutricional pobre com a prevalência do excesso de peso e doenças que daqui advêm.

Mas não só à saúde física pesa a fast-food. “A qualidade do que se come influencia claramente o rendimento de quem está nas escolas. Para muitas crianças, a única refeição que têm durante o dia é na escola e, portanto, isso leva-nos a perceber que a esta tem um papel determinante na qualidade de vida das crianças, que está diretamente relacionada com o rendimento escolar. Comer bem é fundamental para estudar bem”, diz Jorge Ferreira, investigador da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Lisboa e autor de um breve estudo sobre a geografia da nutrição em Lisboa.
Estará a causa das más escolhas alimentares nas escolas? Ou o problema prende-se com o crescimento de restaurantes e cafés com fast-food nas redondezas? E do que dependem estas escolhas dos mais jovens? Estará a condição económica diretamente ligada à ingestão de fast-food? Fizemos as contas e lançámos a discussão a jovens, professores e especialistas.
Uma tentação em cada esquina
Têm cores fortes, cheiram a comida acabada de fazer e são altamente aliciantes, para crianças e adultos. Estão por toda a cidade. Os estabelecimentos de fast-food fazem parte do quotidiano português desde os anos 1990 e Lisboa é a cidade do país que melhor os acolheu.
As conclusões estão numa rota pelo mapa da capital, mas também num estudo a nível nacional, realizado pela investigadora Adriana Loução Ramos, da Universidade Nova de Lisboa, em 2019. No documento, Lisboa surge como a cidade portuguesa com menor distância de estabelecimentos de fast-food por habitante.
Os dados deste estudo lembram um país de profundas diferenças: numa ponta está Lisboa, com uma distância média de 0,002 quilómetros entre habitantes e fast-food; no lado oposto, a pequena vila raiana de Barrancos, com 40,19 quilómetros. A média nacional? Diz o estudo que está nos 3,14. Ainda assim, muito acima da realidade por que se pauta Lisboa.
Entre os casos mais preocupantes, está o da Escola de Pedro Nunes, em Campo de Ourique, com cerca de 74 estabelecimentos de restauração e pastelaria, entre os quais sete pertencem a cadeias de fast-food
E quem aqui mora não lhes é indiferente, muito menos as crianças e os jovens que cá crescem. A tentação está à porta das escolas. Neste caso, fast-food signgifica o que a tradução livre permite: refeições prontas, como sanduíches, snacks salgados e doces, pizzas, hambúrgueres. Nem toda a fast-food é apenas vendida em cadeias de fast-food.
O problema da proximidade com as escolas é transversal a várias capitais. Em 2017, o autarca de Londres Sadiq Khan sugeriu que os restaurantes de fast-food fossem proibidos num perímetro de 400 metros em relação às escolas.
Uma proposta que teve por base uma investigação do Brent Council realizada em sete escolas secundárias, em que os alunos foram questionados sobre quanto tempo estariam dispostos a caminhar até um estabelecimento de fast-food. Do total, 27% responderam que não caminhariam mais do que oito minutos. Quer isto dizer que não iriam além dos 400 ou 800 metros fora das suas escolas.
Foi à luz destes dados que averiguámos quantos restaurantes e cafés (cadeias de fast-food incluídas) existem a dez minutos (aproximadamente 800 metros) das escolas lisboetas (públicas e privadas).
Entre os casos mais preocupantes, está o da Escola de Pedro Nunes, em Campo de Ourique, com cerca de 74 estabelecimentos de restauração e pastelaria, dos quais sete pertencem a cadeias de fast-food. Um caso semelhante ao da Escola Secundária de Camões, onde falámos com alunos, embora aqui a presença das cadeias de fast-food seja menor: três.
No quadro abaixo, foram apenas consideradas escolas com 3.º ciclo e secundárias, por serem níveis de escolaridade a partir dos quais os alunos têm autorização para sair da escola durante o período de aulas.
Devido a este critério, a freguesia de Santo António ficou fora da análise – não tendo no seu território instituições com estes anos de escolaridade. É de notar também que os números são baseados nos estabelecimentos marcados no Google Maps (mapa Google), podendo, na maioria dos casos, ser até superior ao aqui apresentado.
Regra geral, são as freguesias que têm mais instituições de ensino as que mais opções alimentares contabilizam no total. Considerando apenas os locais ocupados por cadeias de fast-food:
Campo de Ourique é a freguesia com maior número: 23 para seis escolas.
Logo a seguir, e não muito longe nas estatísticas, Lumiar, com 21 cadeias para 11 escolas.
Perceberemos, mais à frente, se os estabelecimentos de ensino entram diretamente na decisão das grandes cadeias na hora de mapear um novo restaurante.
Já no caso dos restaurantes e cafés (além das cadeias de fast-food) disponibilizados num raio de 800 metros das escolas, é Arroios quem lidera a tabela, com mais de 247 estabelecimentos.
Qual é o mal da comida das cantinas?
Uma pequena radiografia às escolas e aos hábitos dos alunos permite-nos compreender onde escolhem alimentar-se e porquê. Numa manhã à porta da Escola Secundária Camões, são vários os que se predispõem a um testemunho. E se há conclusão a tirar é que nenhum deles pode ser generalizado.
Uma aluna do 11.º ano, 17 anos, sentada no café do coreto, levava um chá quente à boca e confessava como a cantina lhe parece sempre boa opção, até porque disponibiliza opção vegetariana. Mas lamentava o que se perdeu no bar escolar: “Agora já não há salgados, tiraram-nos, mas mantiveram os bolos. Se tiver uma baixa de tensão, tenho de comer um bolo cheio de açúcar, gostava mais dos salgados.”
“Extremismo”, classifica uma professora de Biologia desta escola, Catarina Leal, antiga adjunta da direção. A docente de 48 anos é crítica das mais recentes limitações aos bares da escola. “O bar poderia manter os alunos mais aqui. E, se calhar, mesmo com as opções de antigamente, o bar era mil vezes mais saudável do que aquilo que vão comer lá fora.”
Mas a cantina não convence toda a gente. Um grupo de três raparigas e dois rapazes, do 12.º ano:“Ei! Já comeste na cantina?”A resposta na ponta da língua: “Sim. Uma vez e o peixe era preto. Não tinha muito bom aspeto.” Um a seguir ao outro reforçam a resposta. “Nada tem bom aspeto na cantina. Mas o bar é bué fixe. Tem hambúrgueres, tostas e bifanas.” Não será por muito tempo, se forem aplicadas as diretrizes do Governo.

Outras duas jovens de 14 anos, do 10.º ano, falam da “falta de sabor” da comida da cantina da escola. “Tínhamos um serviço de cantina mau, que está a melhorar”, comprova a professora Catarina Leal. “A empresa nem sempre tinha os ingredientes, a quantidade necessária para os alunos comerem bem. E eles, com fome, acabavam por procurar outras opções. Almoçavam e iam reforçar o almoço lá fora.”
O aspeto, o sabor e até o ambiente de cantina podem estar a manter os alunos afastados da escola na hora das refeições.
“Há muito barulho, porque é uma extensão da sala de aula (as cadeias e as mesas até são as mesmas), há fila e os alunos não querem estar sob o olhar dos funcionários e professores.” Além de que as opções alimentares nos serviços de restauração externos à escola são maiores, alerta a bastonária da Ordem dos Nutricionistas, Alexandra Bento.
A professora Catarina Leal alerta que “a oferta é enorme à volta da [sua] escola e não vai deixar de ser, porque é um conjunto de serviços que são rentáveis porque contam com a população estudantil”. Se os jovens não frequentam as conhecidas cadeias de fast-food, vão aos supermercados. De lá, saem com “merendas folhadas, refrigerantes e batatas fritas”.
Com cerca de 27 anos de profissão, Catarina Leal lembra tempos e contextos muito distintos que as escolas podem testemunhar. E era, de facto, diferente numa das primeiras escolas onde lecionou, a D. José I, no Alto do Lumiar. Uma zona carenciada, “onde havia alunos que faziam sandes de puré instantâneo”. “A cantina era muito importante para esses alunos.”
Ainda assim, diz não concordar com a “a categorização social como influenciador de escolhas alimentares”. Ao contrário da bastonária, que é taxativa: além da disponibilidade geográfica, “a condição socioeconómica e a literacia [alimentar]” contam na hora de fazer essas escolhas. “Se tenho pouco dinheiro e menos literacia, é claro, mais depressa vamos fazer piores escolhas alimentares.”
“Se o controlo das atividades comerciais fosse maior e houvesse menos oferta de má qualidade alimentar na periferia das escolas, claro que os alunos não saíam tanto”
Jorge Ferreira, investigador
Ambas concordam que a disponibilidade é, de facto, um fator determinante das escolhas do alunos. “Há um conjunto vasto de estudos que mostram que a disponibilidade condiciona a escolha alimentar”, adianta Alexandra Leitão.
Significa isto que, numa escola que está rodeada por diversas opções alimentares (mais ou menos nutritivas), a tendência dos estudantes para os preferir aos serviços escolares será maior.
O “geógrafo da nutrição” Jorge Ferreira dá o exemplo de uma escola na zona mais oriental do Parque das Nações. “Uma zona muito despovoada, digamos assim, de atividades comerciais. Os miúdos tinham tendência a ficar mais na escola porque tinham de andar mais para ir buscar essas guloseimas e essa fast-food“. Já na zona da Praça de Londres, “com o McDonald’s ao pé, com pastelarias, com minimercados, os miúdos iam nos intervalos a correr buscar qualquer coisa e voltavam”.
Daqui, sai uma conclusão pessoal: “Este cenário leva-me a pensar que se o controlo das atividades comerciais nessa área fosse maior e houvesse menos oferta de má qualidade alimentar na periferia das escolas, claro que os alunos não saíam tanto.”
Sabia que…?
Nem tudo é sobre as cantinas de má qualidade e o acesso a cadeias de fast-food. Os nossos sentidos também pesam na hora de decidir o que comer. Um estudo de 2013, “Marketing e alimentação no espaço escolar: estímulos sensoriais/corporais e a sua apropriação pelas crianças”, mostrou como o olfato, a visão (cores vivas) e a audição influenciam a predileção por nos alimentarmos nestes espaços. “O cheiro nas imediações das escolas é, por vezes, muito atrativo, servindo mesmo como chamada de atenção quando os alunos passam à porta dos estabelecimentos e reconhecem determinados odores.
O som é igualmente atrativo, já que, por vezes, ouvem-se temas musicais agradáveis para esta faixa etária”, lê-se.
Também em 2013, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou mesmo que o marketing de alimentos obesogénicos dirigidos a crianças é um principais influenciadores da obesidade infantil.
Como chegámos até aqui?
1985. O país enfrentava duas eleições – autárquicas e legislativas -, curava ainda feridas com onze anos desde o início da democracia e o Futebol Clube do Porto sagrava-se campeão nacional. Foi o ano em que a fast-food chegou a Portugal, com uma humilde loja de hambúrgueres no Centro Comercial das Amoreiras. Só mais tarde, em 1991, chegariam as marcas que hoje conhecemos melhor.
Lisboa foi o palco de estreia de um momento que se tornaria um fenómeno e que viria a repercutir-se pelo resto do país.
A matemática deste fenómeno é simples: desde 1985 e 1991, a cada ano, as cadeias de fast-food somam restaurantes na cidade. Raras vezes se fazem contas de subtração em Lisboa. E basta pegar no exemplo de uma das mais famosas empresas internacionais do ramo: a McDonald’s, que em 2002 contava com 111 espaços em Portugal, hoje tem 182 (continente e ilhas), 24 deles em Lisboa. Em outubro, voltou a inaugurar um restaurante, bem no centro da cidade.
O grupo Ibersol, detentor de algumas das maiores marcas de fast-food como KFC e Pizza Hut, assume um crescimento “gradual” no município, além de em toda a zona da Grande Lisboa, nos últimos 20 anos. A cidade é uma prioridade “dada a sua importância demográfica quer para os residentes, quer para quem trabalha na cidade ou quem a visita, nomeadamente os turistas”.
Então, e as escolas entram nas contas? Foram contactadas mais de uma dezena de marcas que vendem fast-food com presença em Lisboa, para saber a resposta a esta pergunta. Apenas três responderam: além do grupo Ibersol, que responde por várias marcas, a Padaria Portuguesa e a Choco&Nut. Nenhuma delas é perentória em dizer que a proximidade com instituições de ensino é um fator para a implementação de espaços, mas aqueles que a têm justificam a proximidade com a grande afluência de pessoas e densidade habitacional.
As cadeias de fast-food nunca estiveram tão perto dos mais jovens como hoje – e em número. Oferecem onde há quem possa procurar, os jovens respondem à oferta e quanto mais respondem a esta oferta, mais afluência criam na zona, justificando cada vez mais o seu crescimento nestas áreas.
“Não estamos a ouvir as crianças e jovens. Ninguém lhes pergunta o que eles gostavam de comer.”
Catarina Leal, professora
Parece confuso? Vamos a dados. Vejamos como têm crescido grandes marcas: a Burguer King, em 2017 anunciava um investimento de 100 milhões em Portugal, para se tornar “uma das cadeias de restaurantes líderes no mercado português”. A Domino’s Pizza, que chegou a Portugal com seis restaurantes na manga, já conta um total de 40.

Se por um lado são criadores de postos de trabalho no país e na cidade, por outro carregam o peso de fazer parte de um futuro sombrio: a Organização Mundial de Saúde estimou que até 2025 cerca de 70 milhões de crianças venham a ter excesso de peso.
Onde entra Portugal aqui? No grupo de países mais afetados pela obesidade infantil. As crianças e jovens consomem mais alimentos fora de casa, principalmente de alto valor energético e com mais gordura saturada, o que terá, como se sabe, repercussões drásticas na sua saúde.
Diz o ditado que é de pequenino que se inverte caminho. Não só o ditado, mas vários estudos norte-americanos, que concluíram que quase metade dos adultos com sobrepeso já tinham excesso de peso em crianças.
Prevê-se que cerca de 80% dos adolescentes obesos assim continuem na idade adulta.
Como pode Lisboa travar a escalada?
Procurámos contactar a Câmara Municipal de Lisboa para saber se há planos neste âmbito para o executivo que acaba de tomar posse. Não obtivemos resposta até à data de publicação desta reportagem.
Mas deverá ser das autarquias este papel? A bastonária Alexandra Leitão não tem dúvidas. “Estão melhor posicionadas para trabalhar, para fazer o diagnósticos locais mais aprofundados e tomar medidas. Devem estudar e perguntar-se o que fazer. E, em Lisboa, do meu conhecimento, não há este tipo de trabalho ainda.”
Mesmo o que se faz no resto do país fica aquém, lamenta o investigador Jorge Ferreira, um dos primeiros em Portugal a tratar a “geografia da nutrição”. Uma área “que nada está a ser explorada em Portugal”.
“A questão da nutrição é uma questão isolada, quem trabalha em nutrição está ligado à área da medicina e da saúde e os estudos são feitos nessa área. Não há ligação às questões de mobilidade, hábitos sociais, demografia, classes etárias, não há a parte social do problema”, diz o investigador. Já os americanos “estudam muito isto devido aos problemas de obesidade”. E no Norte da Europa também, lembra, onde têm uma política apertada em questões de alimentação e qualidade da alimentação escolar.
Em Portugal, diz, o cenário descreve-se da seguinte maneira: as ementas das escolas obedecem a fichas técnicas e nutricionais estabelecidas pelo Governo, mas as grandes companhias de fast-food, os minimercados e cafés obedecem ao que o mercado deseja.
Por isso, não compreende que “Portugal tenha uma política de abertura e de recenseamento de atividades comerciais que permita a qualquer um abrir uma loja de gomas num perímetro perto das escolas.”
Londres é exemplo de restrições?
Entre as cidades que mais têm mostrado trabalho no âmbito da regulamentação, Londres tem vindo a destacar-se na imprensa. Tudo porque em 2017 entidades inglesas ligadas à saúde uniram-se para pôr em prática uma proposta ambiciosa: criar zonas de exclusão de fast-food, proibindo a operação de estabelecimentos de fast-food num raio de 400 metros de cada escola.

A proposta foi bem recebida pelo jurista e autarca londrino Sadiq Khan, que a incluiu na sua estratégia contra a obesidade infantil para a cidade. Um problema que dificilmente fica fora da agenda de uma capital com mais de oito mil restaurantes fast-food, um quarto deles a apenas cinco minutos de distância de uma escola.
A proposta da proibição já foi, entretanto, agarrada por outras cidades inglesas como St Helen’s, Sandwell, Dudley, Milton Keynes, e Luton.
Poderia Lisboa seguir o exemplo? “É uma das hipóteses”, aponta a bastonária. “Mas, se não queremos ir por aí, então devemos garantir que ao lado desses espaços há outros mais saudáveis. Nunca consigo advogar que há uma única solução. Mas as cidades deveriam ter um mapa da oferta alimentar, para perceberem se existe um deserto de ofertas saudáveis.”
Já Catarina Leal, professora na Escola Secundária de Camões mostra-se mais cética relativamente à aplicação desta medida de cunho londrino. Prefere resolver de dentro para fora: “Acho que a alternativa é ao contrário, é as escolas oferecerem opções equilibradas e ouvir os alunos”.
Catarina puxa pela memória para trazer à conversa o final dos anos 1990 numa escola especial. Nesta altura, a docente de Biologia trabalhava na escola Alves Redol, em Vila Franca de Xira. No refeitório, não esquece uma cozinheira “que fazia sopa de peixe que todos os alunos queriam comer. Eles adoravam e queriam comer na cantina o que ela cozinhava. Até tínhamos uma caixa de sugestões onde eles punham sugestões de refeições e ela dava-se ao trabalho de as fazer. As escolas são lugares de afetos e a massificação de serviços, com a entrada de empresas alimentares nas escolas, quebrou este elo de comunidade.”
A solução de Lisboa não precisa de ser tratada apenas com as cadeias de fast-food, ou os cafés da esquina, frisa, mas com os próprios alunos. “Não estamos a ouvir as crianças e jovens. Ninguém lhes pergunta o que eles gostariam de comer.”
E Alexandra Leitão reforça esta ideia com o caso do Japão. “É uma cultura muito diferente e o sistema deles está adaptado à sua cultura, por isso, em Portugal teria que ser adaptado à nossa”, ressalva. Mas há um qualquer fascínio “naquele modelo deles” que envolve os estudantes na organização das cantinas e que dá nutricionistas a todas as escolas.
Abrir a discussão aos estudantes é o primeiro passo, concordam.

Catarina Reis
Nascida no Porto, Valongo, em 1995, foi adotada por Lisboa para estagiar no jornal Público. Um ano depois, entrou na redação do Diário de Notícias, onde escreveu sobretudo na área da Educação, na qual encheu o papel e o site de notícias todos os dias. No DN, investigou sobre o antigo Casal Ventoso e valeu-lhe o Prémio Direitos Humanos & Integração da UNESCO, em 2020. Ajudou a fundar a Mensagem de Lisboa, onde é repórter e editora.
✉ catarina.reis@amensagem.pt
Reportagem muito interessante. Concordo com a última sugestão – ouvir os alunos, tornando a comida das cantinas escolares mais atrativa.
Excelente artigo jornalístico e de mais valia para o bem comum……