As mulheres são praticamente invisíveis nas placas das ruas da cidade, tal como um estudo de Manuel Banza apurou: apenas 5% das nossas ruas levam o nome delas. Mas isso pode vir a mudar, agora que uma proposta do Partido Socialista, subscrita pelo Bloco de Esquerda, pelo Livre e pelos Cidadãos por Lisboa, foi aprovada por unanimidade em reunião de Câmara. O objetivo é esse mesmo: reparar a realidade de uma cidade dominada por topónimos masculinos.
É uma iniciativa que surge numa altura em que se tem verificado um “salto qualitativo” na representação das mulheres em cargos de poder, nomeadamente no que diz respeito à representação do executivo da Câmara Municipal. “Não queremos perder este balanço”, explica Cátia Rosas, vereadora do PS.
E que coincide com celebração dos 25 anos da publicação do livro A mulher na Toponímia de Lisboa, de Luiz Silveira Botelho.
Propõe-se:
- A atribuição de nomes de mulheres com relevo na História da cidade às ruas que ainda não tenham nome ou cuja designação se encontre obsoleta, como, por exemplo, no bairro de São João de Brito, neste momento em processo de legalização;
“A toponímia já está muito consolidada na cidade”. Era isso que o PS estava habituado a ouvir quando se falava em toponímia feminina. Mas é com o exemplo do bairro de São João de Brito que os vereadores do PS provam exatamente o contrário. “Nós, vereadores do PS, temos estado a acompanhar o processo de legalização, e achámos que faria sentido aproveitar e dar o nome de mulheres significativas a estas ruas”.
Mas a verdade é que não é só no bairro de São João de Brito que se pode dar nomes às ruas – há muitos bairros na cidade cidade cujas ruas só têm números e também esses podem ser batizados com topónimos de mulheres.
- Promover com as populações do bairro de São João de Brito um processo de auscultação e diálogo sobre os nomes a atribuir, bem como avaliar os contributos de topónimos alternativos escolhidos pela população;
Para os vereadores do PS, é importante envolver a população local no processo de escolha dos topónimos do bairro deles. “Pode ser uma forma de envolver a população, de terem um maior sentido de pertença”, diz a vereadora.
- Desencadear o procedimentos necessários para se voltar a atribuir anualmente o Prémio Municipal Madalena Barbosa;
Foi em 2019 a última vez que se entregou o Prémio Municipal Madalena Barbosa, instituído pela Câmara Municipal em parceria com a Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG) para premiar o melhor projeto ou ação na área da Igualdade de Género.
Foi a pandemia que o interrompeu, mas até agora ainda não regressou. “Era importante recuperar”, ressalva Cátia Rosas. Ainda não se sabe quando, mas a vereadora do PS espera que ainda este ano.
- Promover a atribuição de nomes de mulheres com relevo na História da cidade nos novos edifícios municipais (equipamentos educativos, sociais, desportivos, culturais) e em jardins e obras do espaço público;
Segundo o estudo de Manuel Banza, a discrepância entre topónimos femininos e masculinos arrasta-se para lá das ruas – só 7% dos jardins contemplam topónimos femininos, por exemplo.
“Esta questão da visibilidade pode parecer que é pouco significativa, mas é muito mais do que simbólico”, diz Cátia Rosas. “O espaço público é onde estamos, onde nos deslocamos e tem que estar pensado para toda a população”.
- Propor ao Conselho Municipal para a Igualdade que estude a propositura de nomes de mulheres com relevo para Lisboa, para que a Comissão Municipal de Toponímia possa avaliar, submetendo, posteriormente, a deliberação de Câmara;
O que está aqui em causa é também, claro, inspirar as gerações futuras através de exemplos do passado: “Há que dar voz e visibilidade a séculos de esquecimento. Os topónimos femininos podem servir de exemplo para inspirar as próximas gerações”, conclui.

Ana da Cunha
Nasceu no Porto, há 26 anos, mas desde 2019 que faz do Alfa Pendular a sua casa. Em Lisboa, descobriu o amor às histórias, ouvindo-as e contando-as na Avenida de Berna, na Universidade Nova de Lisboa.
✉ ana.cunha@amensagem.pt

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