Para o meu namorado, Lisboa era feroz, como um monstro. Para ele, que nasceu numa pequena cidade, uma viagem de metro era como percorrer o país de uma ponta à outra e um passeio de 15 minutos já era motivo de cansaço.
Ninguém se espantou pois que, naquele distante mês de julho em que nos apaixonámos, ele não tenha levado de bom-grado a ideia de eu, que já vivia no Porto, ir de repente para essa outra cidade sem limites. Eu na Lisboa das linhas de metro coloridas e das caminhadas longas…
Lisboa era também a cidade da especulação imobiliária, e o meu começo só poderia resumir-se a um quarto numa casa partilhada com mais três desconhecidos.
Nessa altura, não se falava de futuro, mas o futuro acabaria por impor-se.
O tempo passou e as quatro paredes começavam a levar-me ao desespero. Era a saudade de viver numa casa dantes cheia, a fúria perante os pratos por lavar no lava-loiça da cozinha ou as cinzas de cigarros na sala. Mas, sobretudo, era a sensação de ser uma estrangeira na minha própria casa.
Alguém teria de ceder. Lisboa não era o sonho dele, mas talvez o assustassem mais os fins-de-semana no meu quarto numa casa de desconhecidos. Ele respondeu a um anúncio que tinha Lisboa no título. E começou a busca. Ativámos os alertas das plataformas de arrendamento.
Acordámos uma manhã com um alerta de um T1 nos Olivais por 680 euros. Mandámos mensagem imediata. No mesmo dia, marcou-se a visita. Mandámos todos os documentos, com pressa, e tentámos parecer o mais responsáveis e financeiramente seguros possível. Eu sabia que era só mais um animal esfomeado neste circo. Um circo feito de olhares, de julgamentos.
Mas havia algo que me dizia que havia um futuro para mim naquele T1 nos Olivais. Tive a sensação de que seria feliz ali, naquele bairro. Projetei um futuro que ganharia contornos ainda mais reais quando, à distância, vi uma senhora a aproximar-se com uma menina de patins e um menino agarrado à sua playstation.
Aquela seria a minha senhoria, aquele seria o meu bairro, e aquela pequena casa, toda remodelada: o meu primeiro lar. Senti-o no corpo e, pela primeira vez em muito tempo, quis abraçar Lisboa – quis abraçar a ideia de poder ser feliz aqui.
Depois, chegaram os medos – e se houvesse alguém que ganhasse mais que nós? E se houvesse alguém que desse mais pela casa?
Numa Lisboa onde todos procuram o mesmo, é fácil olhar-se só para o umbigo. O sonho que eu construí numa só noite esqueceu-se dos dos outros. Dos que tantas vezes dormem sem teto, daqueles a quem apontam o dedo por causa do sotaque, da cor de pele, do dinheiro que guardam na carteira. Eu, que nascera com tudo, e que chegara a ter medo de não ter o suficiente…
Mas houve alguém que não se esqueceu.
O telemóvel vibrou com uma notificação, e o texto surgiu no ecrã.
Olá Ana,
Espero que esteja tudo bem desde ontem e que tenhas tido um bom início de semana.
Escrevo-te porque estou aqui dividida e de coração nas mãos. Nem pensei que isto me fosse afetar tanto mas na verdade até dormi mal.
Ontem, como sabes, em menos de 12H e com o anúncio em uma única plataforma, recebi mais de 250 contactos, dos quais apenas consegui responder a 9 e fazer 5 visitas. Das 5 visitas que fiz, recebi os documentos e proposta de 4 sendo todos eles casais.
Isto demonstra o quão complicado está o mercado habitacional e deixou-me totalmente perplexa.
Na verdade eu nem acho que esteja a pedir um valor baixo nem que o apartamento seja uma coisa do outro mundo, mas basta não estar a ser oportunista e colocar um valor absurdo para entender a manifestação de interesse. Quem me dera ter uma solução para todos. E não estou a falar pela rentabilidade mas porque de facto todos me pareceram boas pessoas, a iniciar vidas em conjunto e merecedoras de terem essa oportunidade.
Mas infelizmente não tenho e por isso tenho de decidir.
Consegui excluir 2 mas estou muito indecisa entre vocês e um casal brasileiro.
Se fosse uma decisão puramente individual optaria sem dúvida por vocês os dois – têm fiadores, empregos mais estáveis e bem pagos e senti afinidade contigo: foste prática, simpática e simples – tem tudo para correr bem.
Por outro lado o casal brasileiro, apesar de terem emprego, têm contratos com termo (ele ainda trabalha para o Brasil) com piores condições e já sofreram algumas discriminações por serem de fora. Estão à procura há já algum tempo e a percepção com que fiquei é que com tanta, mas tanta procura – ninguém lhes dará uma oportunidade. Em igualdade de circunstâncias qualquer pessoa opta por aquilo que conhece e tem mais confiança e, na verdade, sendo muito honesta eu só marquei com ela por ter sido a primeira pessoa a mandar mensagem.
Desculpa o testamento.
Estava a escrever-te este email porque estava indecisa e queria explicar que ainda não tinha tomado uma decisão e precisava de mais um dia mas parece-me que no processo de escrever – encontrei a minha resposta.
Lamento, se estivesse na tua pele sentiria que era uma enorme injustiça esta discriminação positiva porque no fundo tu também tens um problema por resolver – precisas de encontrar uma casa decente a um preço minimamente decente o que não parece ser fácil – mas acontece que eu também já fui emigrante e estou sensível a este problema da discriminação e da habitação. E apesar de saber agora que não será fácil para vocês encontrarem uma boa oportunidade, para eles será certamente mais difícil e por isso não ficaria bem em consciência se não os tentasse ajudar.
Espero que compreendas.
Não consegui ler o texto todo seguido. Parei várias vezes, sem perceber o que estava a ler. Quando as palavras começaram a ganhar o seu sentido, senti um misto de tristeza e de alívio. Teria de me livrar da vida que já projetara naquela casa. Numa noite, já imaginara tudo: onde ia pôr a estante com os meus livros, o meu namorado a montar o seu ecrã e computador.
Mas depois lembrei-me da Cesaltina, a senhora guineense que me contara como se matava a trabalhar para alugar uma casa. Quantas vezes os senhorios não lhe desligavam o telemóvel quando lhe perguntavam de onde era, ou o que fazia. Conseguir uma casa é uma performance. Um jogo de quem dá mais, quem tem mais.
Resgatei a palavra “discriminação” deste e-mail e imaginei esse casal brasileiro, também eles com uma nova vida a começar. Imaginei-os a encontrar naquele apartamento a resposta para todas as suas ansiedades. Aquele amparo que eu também queria e que, no fundo, eu sabia, tal como a senhoria, que acabaria por conseguir. Eles… era uma incógnita.
Revivi todos os medos – e se eu não ganhasse o suficiente? E se nos discriminassem por sermos jovens? Se o senhorio obedecesse à imagem do negociante que quer sempre mais?
O destino não me levou à minha casa, mas deu-me mais uma boa história de Lisboa.
A roleta russa da habitação parou na atitude desta mulher que quis dar uma oportunidade a quem habitualmente não a teria. E eu, que secretamente temia o monstro de Lisboa tanto quanto o meu namorado, cheguei à difícil conclusão que não podia ter pedido uma melhor experiência para aquela que fora a primeira visita na procura por um novo lar.
Essa procura não se revelou assim tão difícil. Tivemos muita sorte, é certo. No dia a seguir a receber a notícia que abalou o meu mundo, acordava com uma outra: desta vez, tinham-nos escolhido a nós para um outro T1.
E aqui se confirmou a sabedoria da senhoria dos Olivais. Não nos escolheram a nós porque dávamos mais, mas antes porque éramos um jovem casal… português.

Ana da Cunha
Nasceu no Porto, há 27 anos, mas desde 2019 que faz do Alfa Pendular a sua casa. Em Lisboa, descobriu o amor às histórias, ouvindo-as e contando-as na Avenida de Berna, na Universidade Nova de Lisboa.
✉ ana.cunha@amensagem.pt

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Muito bonito o texto. Mas gostava de perceber como é que se imagina numa casa e começa a projetar uma vida nova sem antes receber a confirmação da senhoria, num mercado de, como você mesma chamou, um circo cheio de animais esfomeados.
Quanta sensibilidade para um texto tão pequeno. É daqueles textos que nós renovam as esperanças.
Muito sensível o seu texto, com reflexões extremamente necessárias e reais. Adorei lê-lo!
Parabéns pelo texto!
Não percebo a questão de “éramos um jovem casal… português”.
Falamos como se nos portugueses não fossemos tão ou mais emigrantes que o povo brasileiro ou qualquer outro.
Existem cerca de 550mil emigrantes em Portugal, mas existem mais de 2 milhões de portugueses emigrados.
Foram os 550mil emigrantes em Portugal que vieram criar esta palhaçada de custos de aluguer em Portugal? As pessoas falam como se na Europa as coisas fossem diferentes, seja em Dublin, em Londres e até mesmo a em Atenas, onde a banca rota apareceu mais recentemente, o drama vive-se na mesma forma, inclusive em cidades como Berlim e Copenhaga.
É excessivo essa xenofobia. Faz-se tanto alarido simplesmente por serem pessoas de outro país. São pessoas! São gente! São seres humanos como nós. Sofrem as mesmas dificuldades que muitos portugueses sofrem quando emigram…
Mas muitas vezes os que mais reclamam, são os que nunca tiveram a experiência de estar lá fora. Seja por opção, por necessidade, ou simplesmente por se sentirem mais valorizados financeiramente ou não, nas mesmas empresas multinacionais que aqui estão e que pagam metade dos ordenados que pagam lá fora (independentemente da carga fiscal)…
Que fixe este texto! Admiro a empatia da autora e coragem, tanto da autora quanto da senhoria, de assumirem uma postura anti-capitalista neste cenário caótico que é a habitação em Lisboa (Portugal?). Eu sou brasileira e cheguei a ter a seguinte experiência (em 2018): liguei para um anúncio e “já está arrendado”, 5 minutos depois ligou minha cunhada portuguesa e “venha visitar amanhã”. O preconceito é real e nem é preciso ver a cor da pele porque duas ou três palavras já dizem de onde viemos — mas não dizem do que somos capaz.
Parabéns.
Uma excelente, verdadeira, crônica do cotidiano de muitos emigrantes, como eu.
Ana, também eu não consegui ler o seu texto todo seguido. Obrigada. Por ser feita da mesma matéria impalpável que a sua quase-senhoria. A empatia é uma forma linda de amar ao próximo. Muita sorte na sua casa nova, que — daqui a nada — há de chegar. 🍀🤞🏼❤️
Uma excelente história. Um bom debate. Remete para os anos 50 do século passado, quando os portugueses, vindos do interior do país, alugaram o seu quarto, em Lisboa, para iniciará sua nova vida. Foi assim que os meus pais começaram.
Parabéns pelo texto, e principalmente pelo espetáculo de empatia, é isto que nos falta em muitas situações da nossa vida.
Muito emocionado com a senhoria de olivais e com o texto!
Gostei muito. Que bom seria se todos fossemos como essa senhoria!
É bom sonhar mesmo sem certezas. O sonho comanda a vida, é ele mesmo que nos faz seguir em frente e não perder a Esperança. No outro dia tudo pode acontecer,e o sonho voltar a ser incerteza, mas a vida vai continuar ate àquele dia em que tudo se pode concretizar.
Belíssima história, Ana. Obrigada pela partilha! Assim como a discriminação dói a alma, histórias como essa curam!
Texto belíssimo, um misto de alívio e frustração, mas infelizmente uma história real de pessoas reais tentando sobreviver e viver sonhos, a ganância do homem os levará ao fundo do poço.
Isabella Glock Desculpe dizer-lhe mas a sua falta de empatia meteu-me impressão ou talvez nunca tenha sentido um desejo de mudança imenso pela exaustão da situação em que alguém vive durante muito tempo. O texto tem lá todas as emoções, ânsias e sonhos explicados. Tente ler novamente.
Adorei o texto e sua história, principalmente a sensibilidade, tanto da senhoria dos Olivais, quanto a sua, em entender a decisão de priorizar o casal de brasileiros que seguramente teriam mais dificuldade em conseguir uma casa. Quanto a criação de expectativa sobre a qual outra pessoa comentou, preciso dizer que sou igualzinha! Tento muito não ser pois no fim as coisas podem não correr como eu espero e o desapontamento ser grande… mas é impossível, me vem sempre um filme à cabeça quando mergulho assim em alguma coisa 🙂
Bom dia!!
Não me espanta o facto de se imaginar no T1 dos Olivais e começar a arranjar espaço para os móveis!!!
O momento é tão importante e tão desejado que dá origem a um desenvolvimento se sonhos com possibilidade de se realizarem!!!
Ao contrário da renda do apartamento, sonhar não pede fiador!!
Olá, Ana. Cheguei ao seu texto quase por acaso. Comecei a ler, verdade seja dita, mais motivado pelo título misterioso… Ao ler seu texto, relembrei minha conturbada chegada às terras lusitanas. Sou brasileiro e ao chegar à Portugal, há 3 anos, passei por enormes dificuldades para arrendar um T3 para mim e minha família. O problema não foi financeiro, posto que eu e minha mulher somos reformados e com boas pensões. O problema de fato foi a grande demanda e a pouca oferta, o que fez – e ainda faz – com que os senhorios optem pelo sotaque que lhes é mais familiar, com uma falsa ilusão de que assim estão mais seguros. No fim, acabei por encontrar um apartamento em Oeiras, no qual morei por um ano antes de mudar-me para um imóvel próprio. Confesso que aquele período fez-me ter um perceção negativa – e distorcida – dos portugueses. Com o tempo, percebi que tratou-se de uma situação muito particular – a busca do primeiro imóvel -, mas que infelizmente é um dos primeiros desafios para quem quer viver em outro país. O seu relato confirmou o que eu já suspeitava. Há, em cada canto dessa rocha espacial errante, pessoas bondosas e maldosas, gananciosas e generosas, com coração de ouro ou com coração de pedra. Não importa a língua, a terra natal, a cor da pele, a orientação religiosa ou sexual, o gênero ou mesmo a classe social. Pessoas são pessoas, com todo o potencial de fazer o bem ou o mal. Parabéns à senhora dona do T1 e muito obrigado por compartilhar sua experiência. Tornou o meu dia melhor.
Esta história fez o meu dia, realça a bondade intrínseca do ser humano, que flutua num oceano poluído por interesses e lucros. Os meus sinceros, agradecimentos!
Como brasileiro, agradeço o texto que explica bem a situação do imigrante hoje em Lisboa. E não só isso, gostaria de a parabenizar pela escrita. Ótimo texto. Agradeço de coração.
Muito lindo e muito sensível, obrigado pela partilha. Como brasileiro, sinto uma empatia enorme pelo casal na sua jornada e pela sua história.
De certeza que o casal de brasileiros não irá chatear com exigências desnecessárias e irá pagar em dia!!
Que estória linda!
Obrigada por partilhar.
Como imigrante fico feliz de ver que tem e muito, pessoas boas.
É o que quero acreditar.
Sucesso na sua jornada.
Lindo texto! Parabéns pela sensibilidade e felicidades na nova casa!
Parabéns Ana pelo excelente texto, bem explicado, articulado e pelo ênfase aplicado. Obrigado pela partilha da sua história! De facto é muito difícil ter sorte nesta selva do arrendamento e também sinto que os emigrantes têm menos oportunidades no nosso país (e acho que também nos outros). Tenho por hábito acreditar que há sempre uma razão por detrás de tudo o que nos acontece, quem sabe este outro T1 trará ainda mais e bonitos sonhos! Parabéns também pela atitude da sua ex senhoria. Muitas felicidades para o início de vida a dois!
Ainda existem pessoas sensíveis e
empáticas. Esta situação é prova disso. Bem haja aos intervenientes. Desejo vos tudo de bom.
Texto e experiência incríveis
Olá boa noite, gostaria de dizer que amei demais o texto, e dizer que esse sentimento de solidariedade que tiveste foi o diferencial para tudo dar certo, sou um jovem assim como a senhora era na época (um pouco mais novo, 17) mas hoje sinto me como esse casal, moro em Fátima mas tenho que arrumar outro lugar pra ficar até o fim do mês e esse medo de não ter onde ficar me assustava tanto, até que li seu texto e resolvi ir na olx, enquanto fazia isso recebi a notícia de que minha mãe encontrou uma casa pra nós, muito obrigado pelo artigo, me deu esperança e isso fez a diferença pra mim, escrevo com lágrimas nos olhos de felicidade.
Adorei o texto, só quem já passou na pele de ter o telefone desligado ao ouvir o sotaque sabe como é duro. Contudo, como este casal encontrou uma pessoa incrível, eu também fui abençoado em encontrá-los.
Parabéns pelo texto e o ponto de vista.
Infelizmente, é o que encaramos quase que diariamente no vosso país… Não podemos mostrar que temos mais, que sabemos mais, que sobressai-mo-nos melhor numa tarefa qualquer. A seleção do aluguer da casa mostrada aqui, é só um vislumbre da realidade monstruosa! Vemos diferença na mentalidade e no tratamento quando conversamos com um português que já esteve no Brasil ou já imigrou…Os que que nunca saíram daqui (tem uma mente), nos tratam como lixo, pensam que viemos tomar e se apossar do que eles nem conquistaram! Que pena!
Excelente texto. Eu mesmo escutei mais de uma vez que não arrendavam apartamento a brasileiros, mesmo com emprego estável e adiantamento de 6 meses fui rejeitado. É claro que a nacionalidade não deveria influenciar na escolha de quem vai morar no seu imóvel, mas os seres humanos são imperfeitos e isso sempre será um fator de decisão. O importante é sempre estarmos alerta e tentar evitar o preconceito.
Muito bem ilustrado a tragedia da habitação. O número de candidatos por um apartamento é no mínimo um reflexo da falência das políticas habitacionais dos vários governos. Falam dos direitos à saúde, educação, habitação, e depois é um completo vazio. Penso que os portugueses têm de ser muito mais exigentes com quem nos governa. E não deixar que os demagogos nos lancem poeira para os olhos. Casas devolutas é uma delas, escolher um alvo para as pessoas poderem descarregar as suas frustrações e não olhar o que o governo (não) faz nesse campo
Sendo brasileira e tendo vivido na pele isso que mencionou… chorei com o texto.
Chorei com a sensibilidade da senhoria, e chorei por sentir na pele essa questão da discriminação.
E essa senhoria só arrendou para o jovem casal, pois ela também já sentiu o que sentimos.
Coincidentemente, a morada que eu estou também foi arrendada por uma senhora que nasceu em Moçambique mas vive cá em Portugal desde os 5 anos, e que passou por imensas situações de preconceito.
E essa questão do preconceito me chateia tanto! Pois tratam quem veio do Brasil ou de qualquer outro lugar como se fôssemos inimigos, como se quiséssemos roubar, destruir e acabar com Portugal.
E é justamente o contrário! Pelo menos, dizendo por mim, eu não planejei essa mudança por 3 anos, cruzei o oceano e deixei tudo pra trás se não fosse para buscar uma vida melhor.
E todos sabemos que o próprio governo está sensível à necessidade de trabalhadores qualificados em várias áreas.
Mas há portugueses que preferem escrever que Portugal não precisa de ninguém de fora, que brasileiros só vem para destruir as casas e praticar golpes, e isso dói tanto, pois há muitas famílias estrangeiras aqui ajudando o país a crescer, e recebemos ingratidão, preconceito e discriminação em troca.
Eu entendo que a questão dos imóveis é um problema pra toda a gente aqui. Mas ninguém merece passar por preconceito por procurar um sitio pra morar.
Não é como se a pessoa fosse querer viver na rua para praticar crimes contra quem mora aqui… é exatamente o contrário!
Quem procura um local pra morar e está regular e fazendo as coisas dentro da lei, jamais deveria passar o que eu passei, o que a Cesaltina passou ou que o casal conterrâneo passou.
Se houveram pessoas que abusaram e se aproveitaram de senhorios para praticar crimes, são essas pessoas que deveriam ser punidas e não quem está buscando dar seu contributo para um país tão bonito como Portugal.
Aqui parece um local de conto de fadas, de tão bonito, mas as pessoas que nos tratam assim tornam esse lugar extremamente hostil para quem chega.
Espero que as coisas melhorem, e que possam entender que não é crime buscar uma vida melhor em outro país. Que não é crime querer contribuir para a economia e o crescimento de um local. E que preconceito de qualquer tipo é asqueroso e repugnante, principalmente em 2023.
Nossa, estou sem palavras. Quanta sensibilidade! Na escrita e nas pessoas! Como brasileira, me vi nessa história, já estive nesta situação. Por pessoas como vocês, que também querem levar a vida de maneira digna e sem menosprezar ninguém é que tenho gosto em contribuir com meu trabalho e me integrar à sociedade portuguesa. Não é fácil recomeçar, mas este texto traz alento e esperança 🙂
Como brasileiro, me emociono com o relato.
Queridos conterrâneos, honrem essas oportunidades. Suas ações se refletem em todos nós.
Uma enorme salva de palmas para essa senhoria que não viu nacionalidades mas sim pessoas.
Emocionante o texto, parabéns!
Também somos um jovem casal a procura de um lar descente, porém somos brasileiros, e agora com bebé.
Já se vão 4 anos com muitas histórias boas e outras nem tanto, nessa Lisboa de mil cores e línguas.
Lindo!
Nossa, lindo relato, no começo achei que era mais uma matéria, mas olha ’tá de parabéns. E isso que falou das rendas que estão difíceis, para nós estrangeiros ’tá bem pior, talvez por erros dos que vieram antes. Vim para Portugal há 1 ano com marido e 3 filhos e foi bem duro arrendar algo e ficamos com medo. Mas obrigado pela matéria maravilhosa
Belo texto, parece até uma poesia. A sabedoria da senhora de Olivais fortaleceu ainda mais para a vida esse jovem casal português recém chegado em Lisboa.
Me emocionei lendo o texto!
Parabéns
Me emocionei lendo o texto, parabéns !
Que excelente texto, atitude de espírito, título e resgate de esperança nos trás. Parabéns por este trabalho. Não conheço os outros, mas certamente você tem um lugar privilegiado na história da escrita, ou não só.
Texto muito bom e importante .Penso que sua estruturação contribui para sensibilização de dois temáticos importantes atuais a sociedade portuguesa: habitação para pessoas e estrangeiros territoriais,estes últimos que buscam a europa para realizar sonhos de vida.
Li também os todos os comentários , e aoenas aqui comento para tecer que sempre houve xenofobia a estrangeiros .Sofri no Brasil esse sentimento repugnante de ser rejeitada por ser filha de portugueses. Então só comento para dizer aos irmãos brasileiros que também as comunidades lusobrasileiras foram muito mal tratadas no Brasil quando da onda de grande emigração na época salazarista e de guerras lusitanas aos territórios latinos americanos.
O texto, muito bem escrito e magistralmente conduzido pela autora, tornou-se, na verdade, uma belíssima crônica. E me fez lembrar as muitas pessoas de bom coração que conheci em Portugal, quando aí passei, nos anos 80, a minha adolescência.