Nuno Saraiva com a sua nova obra, as tolhas na Brasileira do Chiado. Foto: Líbia Florentino.

A partir desta semana conta-se um novo capítulo do café A Brasileira do Chiado e da sua galeria de arte na cidade – desta vez, não apenas nos quadros nas paredes, mas nas mesas: as novas toalhas de papel trazem os traços da vida do Chiado nas ilustrações de Nuno Saraiva.

As novas toalhas de mesa são uma homenagem d’A Brasileira do Chiado aos lisboetas e turistas de todas as partes do mundo que desfilam pelas suas mesas, esplanadas e passeio nesse mais de um século do mais icónico café de Lisboa.

A iniciativa coloca o café lisboeta na seleta lista de estabelecimentos históricos que decidiram homenagear os seus frequentadores, como o Café de Flore, em Paris, ponto de encontro dos nomes que marcaram as artes e o pensamento mundial no século vinte eternizados na série Les Parisettes, assinada pelo cartonista Jean-Jacques Sempé, ele mesmo incluído no rol dos artistas que deixaram sua marca na história – recentemente falecido.

A colorida ilustração n’A Brasileira do Chiado, impressa numa toalha de papel com 60 centímetros de diâmetro retrata famosos e também anónimos que ajudaram a montar o mosaico dos frequentadores de um dos pontos obrigatórios de passagem da cidade de Lisboa.  

Estão lá Amália Rodrigues, Júlio Pomar, Almada Negreiros, Beatriz Costa, Almeida Garrett – que, embora tenha morrido antes de o café existir, empresta o nome à rua onde este se situa – e, claro, o poeta Fernando Pessoa, a mirar a própria estátua, acompanhado pelo reflexo de três dos seus mais famosos heterónimos, refletidos numa montra. 

Quem quiser ver mais pormenores, é ir à Brasileira tomar um café.

A ilustração também “retrata” outros tipos não tão famosos assim, mas nem por isso menos conhecidos, como motoristas de tuk tuk, estafetas e as suas motas infernais, músicos de rua e, claro, os turistas.

Até o próprio Nuno pode ser visto por entre a miríade de rostos – no melhor estilo Hitchcock em seus filmes – acompanhado de filhas e enteadas, da companheira e de um telemóvel, onde regista o intenso desfile pela verdadeira passarela que é o Chiado.

A diretora de comunicação d’A Brasileira do Chiado, Sónia Felgueiras, diz que a ilustração sintetiza a disposição do café em acolher não só os lisboetas, mas todas as pessoas do mundo. “A toalha homenageia não só as personagens históricas que de alguma forma tem uma ligação com Lisboa e com A Brasileira, mas também do presente. Uma forma de dizer que há um bocadinho delas na Brasileira”, explica.

Disponível desde o dia 22 de janeiro nas mesas da esplanada do café, as toalhas já caíram no gosto dos clientes, lisboetas e turistas.

“Muitos gostam tanto que têm pedido uma toalha para levar como souvenir“, conta Sónia. “Os estrangeiros ficam curiosos em saber se as personagens são reais e os funcionários indicam entre os rostos da ilustração, as figuras mais conhecidas”, completa.

Uma perspetiva única do Chiado

Nuno Saraiva conta que o convite para produzir a ilustração foi feito ainda 2021, mas que os sucessivos confinamentos decorrentes da pandemia acabaram por retardar a conclusão do trabalho. 

“Desde o início, já tinha o modelo desenhado na cabeça, mas para mim não fazia sentido expressar o café com os frequentadores de máscaras ou com as esplanadas fechadas. Foi preciso esperar pela normalidade para compor um cenário mais fiel à história da Brasileira”, explica.

A ilustração exigiu diversas idas de Nuno ao Chiado a fim de captar o verdadeiro espírito do sítio numa perspetiva única. Foto: Líbia Florentino

O telemóvel, por sinal, teve um papel fundamental na construção da ilustração. Foi com ele em punho a registar sob diversos ângulos o café e o ambiente em volta que Nuno compôs o que chama a “perspectiva falsa” – e única – que enquadra o cenário final impresso na toalha.

“Durante três meses, fotografei o local sob diversos pontos de vista e em horários variados, a fim de captar melhor a luz e as pessoas que circulavam pela Brasileira”, conta Nuno, que chegou a subir ao último andar do prédio à frente do café para ter uma visão do alto.

O ilustrador lisboeta que colabora com a Mensagem desde o primeiro minuto é o ilustrador da cidade que ama. A parte de 2014, Nuno Saraiva deu rosto às “figuras” de Lisboa que fazem as Festas Populares e ainda hoje é o responsável pela confeção troféus aos vencedores das marchas. 

Os traços de Nuno Saraiva podem também ser “lidos” na banda desenhada da Mensagem, sob a batuta do jornalista Ferreira Fernandes – que em breve dará origem a um livro. A partir de agora, também, nas mesas do mais emblemático café de Lisboa.


Álvaro Filho

Jornalista e escritor brasileiro, 50 anos, há sete em Lisboa. Foi repórter, colunista e editor no Jornal do Commercio, correspondente da Folha de S. Paulo, comentador desportivo no SporTV e na rádio CBN, além de escrever para O Corvo e o Diário de Notícias. Cobriu Mundiais, Olimpíadas, eleições, protestos – num projeto de “mobile journalism” chamado Repórtatil – e, agora, chegou a vez de cobrir e, principalmente, descobrir Lisboa.

alvaro@amensagem.pt

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