Capítulos:

1 - Zona subocupada?
2 - O que faz deste quarteirão uma escolha para 22.990 pessoas?
3 - (Quase) Tudo mudou desde há sete anos
4 - Onde fica o resto de Lisboa?

Ao final da tarde e início da noite, o reboliço testemunhado no cruzamento entre a Avenida Almirante Reis e a Rua Morais Soares faz prova das estatísticas. Vídeo: Inês Leote

Para explicar as regras, Nahid Opu só precisa das migalhas da massa folhada que caíram de um pastel de nata sobre o pires. “Este é o campo”, delimita as bermas do prato com o bolo. Move uma migalha para um dos lados e percebemos que posiciona um jogador. Fala de “um taco achatado”, de “uma bola de madeira” e dos pontos que podemos ganhar se a soubermos atirar ao ar.

Hoje, joga num prato de café, porque a chuva ameaça cair lá fora; mas é nos relvados da Alameda que costuma jogar críquete, desde que chegou a Portugal, vindo do Bangladesh, naquele frio dezembro de 2019. Uma modalidade seguida naquele país desde que se é criança (com o mesmo entusiasmo com que por cá se fala da bola que corre nos pés de Cristiano Ronaldo) e que é cada vez menos estranha a Lisboa.

Agora na Alameda, Nahid pratica o desporto pelo qual é apaixonado há anos, como muitos jovens no Bangladesh. Em Portugal, divide-se entre o críquete, o trabalho no minimercado e as aulas de condução. Foto: Rita Ansone

Na Alameda, este bengali de 26 anos faz desporto. E em qualquer rua do bairro dele encontra comida e pessoas do país que deixou para trás.

Por isso é que escolheu viver e trabalhar aqui – tem um minimercado, o Rahman, com o tio -, ele e tantos outros, de múltiplas nacionalidades, naquele que é o quarteirão com maior concentração de moradores em Lisboa. Uma área partilhada entre as freguesias de Arroios e Penha de França, e que cruza ruas tão movimentadas como a Almirante Reis, a Morais Soares e a Paiva Couceiro.

Reunimos os dados do último Censos, para confirmar a hegemonia deste quarteirão nas estatísticas.

Seguimos a medida de 1000 por 1000 metros do INE para definir um quarteirão, o que serão exatamente 100 hectares. Aqui caberiam cerca de 136 campos de futebol. E vivem atualmente 22 990 pessoas, segundo os Censos de 2021. É como se tivéssemos pouco mais que a lotação total das bancadas do estádio do Restelo a ver 136 jogos de futebol diferentes. E depois se espalhassem pelos relvados para lá viver, em 14 425 lares.

Nota sobre o mapa: As zonas pintadas a azul claro e sem dados mostram áreas sem qualquer residência ou residentes – como é o caso da zona do aeroporto, de Monsanto e à entrada da Ponte Vasco da Gama. Pela anatomia da cidade, nem todos os quarteirões têm o mesmo tamanho, ficando os das pontas da cidade com menor peso.

Ainda assim, nada que se assemelhe aos muitos quarteirões do Bangladesh, lembra Nahid. Lugares “onde até se torna difícil de respirar” com tanta população concentrada num só espaço.

São muitos mais como ele, fugitivos de uma vida que esperavam melhorar assim que aterrassem em Lisboa, que ajudam a explicar estes dados. Basta ver que, na freguesia de Arroios, dos 33 302 residentes, 23% são estrangeiros – a maioria chegados do Nepal e do Bangladesh. Na Penha de França, representam cerca de 15% do total. Encontram neste espaço um aconchego qualquer que dizem que outras zonas da cidade não lhes deram: em termos afetivos – aqui moram tantos outros com a mesma origem; mas também financeiros – foi aqui que Nahid encontrou uma casa à medida do bolso dele.

Até na toponímia a história deles está inscrita, neste quarteirão onde outros países e cidades viraram nomes das ruas, como Guiné, Zaire, Moçambique, São Tomé e Cardiff.

Por isso é que, quando a moradora Irina Pampim, 41 anos, também estudiosa das transformações urbanísticas da cidade, soube das estatísticas, “foi apenas um reunir de conclusões”: havia mesmo uma razão para a quantidade de gente, portuguesa e imigrante, que ao início da manhã e final da tarde, sobretudo, enchia os passeios, “muito mais do que noutras zonas da cidade”.

E para as tantas pessoas que, no dia em que nos encontramos, “não pararam de passar, mesmo em horário de expediente” – quase todas de sacos com dizeres internacionais e um cheiro a especiarias que Portugal não costuma provar na comida.

Irina mora há sete anos neste quarteirão. Foto: Rita Ansone

É que este não é só o quarteirão mais populoso de Lisboa, é também o mais populoso do país.

Na Península Ibérica, é logo ultrapassado por um quarteirão na Corunha. Mas, em 2018, o jornal The Guardian já o apontava como 13.º numa lista dos 15 quarteirões mais populosos na Europa.

São 22 990. Mas poderíamos ter mais adeptos ainda nas bancadas desta mais de uma centena de jogos? Um Jamor, um Estádio de Alvalade ou um Estádio da Luz inteiros? É que ainda que o elevado número de residentes faça deste quarteirão digno de registo, o contexto da zona pode indicar que está subocupada.

Os dados do INE mostram que a concentração habitacional é baixa: há o equivalente a 1,5 pessoas por alojamento. “Com 14 425 habitações, já é considerada uma área urbanisticamente densa, mas a densidade residencial apesar de alta poderia ser ainda maior, porque a concentração também. Esta área poderá estar subocupada. Se considerarmos duas ou três pessoas por casa, estaríamos a falar de 40 mil pessoas, o dobro”, Jorge Malheiros, geógrafo e investigador do Centro de Estudos Geográficos (CEG) da Universidade de Lisboa levanta a questão.

O INE considera “alojamento” todo o “local distinto e independente que, pelo modo como foi construído, reconstruído, ampliado, transformado ou está a ser utilizado, se destina a habitação com a condição de não estar a ser utilizado totalmente para outros fins no momento de referência”. Quer isto dizer que, à partida, estarão excluídos os alojamentos de fim turístico.

E não foi preciso escavar tão fundo para perceber como em algumas habitações há sobrelotação (e não subocupação), que pode não estar representada nos Censos: Nahid vive com mais três pessoas num T1; o vizinho com mais sete num T1 também. E, quando Irina cá chegou, o prédio para onde foi morar tinha imigrantes e chegou a ver “oito a dez pessoas na mesma casa”, conta. Vivem, muitas vezes, em situações de insalubridade, com falta de privacidade e quase como fantasmas na cidade – sob o receio de comunicar a situação às mesmas autoridades que podem denunciar a falta de regularização com que vivem.

Então, o que pode justificar que o Censos indique uma concentração de pessoas por habitação tão reduzida? O geógrafo avança alguma explicações possíveis:

  • “Arroios, Penha de França e Santa Maria Maior ainda são áreas de transição, em projeto de regeneração – as obras que vemos a acontecer nos prédios evidenciam isso. Mas nem sempre o recenseamento reflete este aspeto.” E encontramos um sinal destes tempos nos Censos de 2o21: neste quarteirão em questão, o número de edifícios clássicos (segundo o INE, “edifícios cuja estrutura e materiais empregues tem um caráter não precário e duração esperada de 10 anos pelo menos”) é 1976. Assim sendo, dos mais de 14 mil edifícios, apenas 13% não são considerados precários.
  • “Interessante é saber quantas casas vazias ou parcialmente vazias há.” Ainda que um relatório municipal lançado em 2022 tenha avançado que a cidade terá 48 mil casas desocupadas, o próprio município tem alertado para a falta de certezas sobre este número. Mas já nos dá algumas pistas: o relatório indica precisamente as freguesias de Arroios e da Penha de França como aquelas que, em números absolutos, mais registam casas vagas – 3890 na primeira, 2867 na segunda.
  • “Podem não estar contabilizados os imigrantes em situação irregular, ou aqueles que não querem denunciar que vivem numa casa sobrelotada e diminuem o número de residentes anunciados.”
  • “E o INE nem sempre capta novos fenómenos: temos agora os nómadas digitais e o INE ainda adota um conceito muito clássico de ‘residente’”, o que significa que podem ser mais não considerados nas estatísticas.
  • “Pode o inquiridor não ter distinguido todo o Alojamento Local de habitação”, o que ajudaria a explicar porque há tantos “alojamentos”: se fosse menor, a diferença entre alojamento e residentes seria maior e não teríamos 1,5 pessoas por casa. “E duvido que o INE vá verificar as licenças. Atenção que os Censos são muito fiáveis, mas nem sempre captam o momento de transição de um edifício ou alojamento – nesta era de grande transformação na cidade”, volta a frisar o geógrafo.

O conceito vigente de “residentes” abrange “pessoas que viveram no seu local de residência habitual por um período contínuo de pelo menos 12 meses anteriores ao momento censitário; chegadas ao seu local de residência habitual nos 12 meses anteriores ao momento censitário, com a intenção de aí permanecerem por um período mínimo de um ano; que estiveram temporariamente ausentes do seu local de residência habitual por um curto período de tempo, nos últimos 12 meses, por motivos de trabalho, férias ou outros.”

Talvez nem todos os imigrantes estejam aqui registados. Mas e os estudantes que vemos caminhar dia e noite por estas ruas, para dentro e fora dos muitos quartos alugados? Estão contemplados? “Podem estar contabilizados, sim, outros não”, diz Jorge Malheiros.

Quando Irina cá chegou, o quarteirão já soava a outras línguas, mas não como hoje. Foto: Rita Ansone

“Tenho amigas e amigas de amigas que alugam quartos das suas casas a estudantes”, conta Irina. A própria já decidiu alugar um dos quartos da casa, numa altura da vida em que a ajudaria a fazer face às despesas. E a conversa chega à pastelaria de Hernâni, a Pastelaria Granada, com vista para o início deste quarteirão e onde Irina estava sentada: “Em setembro, bem se vê, toda a gente a perguntar se há quarto aqui, se há quarto ali”, partilha o comerciante.

Hernâni não fazia ideia destas estatísticas, embora nem o surpreendam. “É normal. Pelas reportagens que eu vi sobre Arroios, cada casa tem não sei quantos certificados de residência”, o documento que os imigrantes necessitam para a regularização.

E tem outro dado para a troca: “Sei que é a zona mais cool do país, tem muitas nacionalidades. Até vi isso numa notícia. Do país ou da Europa?”, atira para Irina. “Não faço a mínima. Sei que é a mais cool do meu coração”, riposta a moradora.

Mais à frente – como o comércio mudou:
“Passou a ser uma clientela mais de passagem. Todos os dias caras novas.”

Ainda a conversa não era nem inflação nem quando iríamos ver a bolha imobiliária rebentar, Irina Pampim comprou casa neste quarteirão. Era novembro de 2016, tinha 34 anos e era a segunda vez que comprava uma habitação. Queria sair da Amadora, ficar mais próxima do trabalho, perto do Martim Moniz.

Fez obras nesta cave com quintal situado na Rua Carlos Mardel, num troço deste quarteirão que veio a descobrir ser o mais populoso de Lisboa, do país e um dos mais da Europa.

É a casa em que vive atualmente, mas que não comprou a preços assim tão atuais: 132 mil euros. A pesquisa não foi fácil: “Já era difícil este valor por um T2, na altura” – mas não impossível. “E esta distância, que não é assim tão relativa, diz muito sobre o que aconteceu em Lisboa”, no que toca à habitação.

E a zona? Foi um critério de escolha? “Eu dependo muito da vida de bairro”, ela nascida em Lisboa, mas sem esta vida de bairro que tanto passou a almejar, com passagens pela Amadora e Castro Verde. Por isso é que, em conversa com o Hernâni, que lhe diz como gostaria de fazer ali uma esplanada, em cima do mercado de Arroios, Irina diz que: “se houver pessoas, é bom, eu gosto é de ver pessoas”. “De matriz, sou muito pouco urbana. Precisava de uma praceta, de uma comunidade, de estar mais próxima do trabalho, fazer vida ali, não ser só o dormitório.”

Encontrou-o aqui.

O quarteirão divide-se entre prédios altos, de construção nova, mais antiga e restaurada. Fotos: Rita Ansone

Mas o que explica que seja uma zona tão habitada?

Os especialista em sociologia, demografia e geografia assim o confirmam: será sempre difícil chegar a uma resposta única para uma pergunta que depende de tanto contexto histórico como de geográfico, antropológico e sociológico. Mas moradores como Irina avançam com algumas possibilidades: além de ser o ponto de encontro de várias nacionalidades, que encontram no comércio de rua e nos lugares comuns (como o Martim Moniz) um pouco de casa, Irina lembra que ainda há por aqui casas cujos preços parecem não ter atingido o de outras zonas da cidade. E casas em que há uma flexibilidade para dormirem vários num só quarto. O que se reflete num quarteirão caracterizado pela “precariedade”.

Mas isto parece estar a mudar.

Veja-se um exemplo do que há disponível na freguesia de Arroios, ao nível do aluguer e compra de quartos e casas. Numa pesquisa na plataforma Idealista, sem aplicação de qualquer teto financeiro no motor de busca, estes são os resultados de quartos para arrendar – 184 disponíveis.

Mas se limitarmos a pesquisa a 400 euros mensais, os resultados descem drasticamente para apenas dez.

Já relativamente às casas disponíveis para arrendamento, a oferta limita-se a 100, sem qualquer máximo no preço.

E um único apartamento se o teto for 900 euros.

Como moradora, a grande diferença de viver aqui está na ementa ou na música que se ouve, voluntaria ou involuntariamente. Como, “num fim de semana de verão, estar a jantar no quintal e, de repente, ouvir italianos a cantar Bella Ciao“.

“É uma comunidade muito grande de saberes e sabores diferentes. E completamente instaladas também” – como a costureira onde Irina vai desde 2017: Helena, vinda do Leste há cerca de 20 anos, com loja neste quarteirão e “já com as especificidades do sotaque português”.

Nahid Opu prova o que Irina nos contava minutos antes e cumprimenta alguns vizinhos com um “olá” bem português na rua.

Irina e Nahid conheceram-se como vizinhos que são. Começou com uma relação entre comerciante e cliente, para agora Nahid chamá-la de “amiga”. Fotos: Rita Ansone

A mesma rua que Irina já conheceu noutros modos.

“Na altura em que cheguei, tinha muito menos gente, de passagem e a habitar. Se passares na Rua Morais Soares às sete da tarde, o passeio é pouco, não chega para todos. Cada um vai comprar uma coisa aqui, outra ali, ao fim do dia – até porque a metodologia das compras mudou ao longo destes anos, já não dedicamos um só dia para ir às compras, vamos comprando”, conta.

Uma mudança que ganhou um som, que veio substituir o dos automóveis. “A partir de uma determinada altura – e eu que estou numa cave, próxima da rua, apercebi-me mais -, deixo de ouvir tantos carros ao final do dia e o som característico passa a ser o barulho dos trolleys.” Às 11 da noite, uma da manhã, duas da manhã, lá está ele: o trolley. “Não ouves o autocarro, os carros. São os trolleys das compras, porque os estabelecimentos também estão abertos até mais tarde, mas também o das malas de viagem – o que mostra que tens um constante entrar e sair de pessoas.”

Ainda aqui resiste um certo comércio tradicional, como “aquela típica loja que vende camisolas interiores”, por exemplo. E outras que competem com grandes marcas nacionais. À porta da pastelaria, dois homens perguntam a Hernâni onde arranjar o telemóvel, que tem a resposta na ponta da língua: “Vai ali ao senhor Paulo, que ele arranja-te.” O “senhor Paulo” está só a uns poucos passos à frente, do outro lado da estrada, e pelo velho letreiro estará ali instalado há décadas.

Mas é de um tempo em que Irina acredita que o bairro tivesse “muito menos vida, menos turismo”. Já com “muito comércio diversificado, só que com muito menos utilizadores e isso é o mais gritante.”

O comércio de rua tradicional vai persistindo entre o mais novo e estrangeiro. Fotos: Rita Ansone

Não é nostálgica – para ela, esta mistura é a identidade de Lisboa. “Nós ganhámos também. A loja ao lado da minha casa é uma loja de produtos brasileiros e não há ninguém lá em casa, numa população dos 7 aos 40 anos, que não queira a sua ‘paçoquinha’. Ou que o dia de ir ao restaurante não seja no Rei da Cachupa, na Praça do Chile. É uma amplitude e um rasgar de fronteiras que promove crescimento cultural. E há hoje uma relação afetiva com estes espaços como antes havia com as mercearias tradicionais.”

Já Hernâni tem queixas a fazer sobre as mudanças dos últimos anos. Fala de como a clientela mudou, “passou a ser uma clientela mais de passagem”, “todos os dias caras novas”. E se antes “se tratava o cliente pelo nome”, agora já não, está difícil fidelizar tanta gente.

“Mas as rotinas também mudaram muito”, alerta a moradora. Fala dos nómadas digitais e de quem deixou de ter um horário fixo com o teletrabalho.

A grande mudança aconteceu, para o comerciante, sobretudo depois de Arroios ter reaberto a estação de metro. “Diminuiu o fluxo para aqui, porque havia sempre quem saía na Alameda ou nos Anjos, e descia ou subia as ruas”, afluindo nos cafés das redondezas. Com Arroios aberta, a Pastelaria Granada já não faz sentido no roteiro de muitos, que “agora até saem à porta do trabalho”.

Por aqui, o assunto junta-se a muitas outras preocupações, como a perda de estacionamento, o aumento da área de esplanada, e de como faltam bancos nas ruas, para assentar a caminhada do dia-a-dia.

Por aqui, a falta de espaços para se sentar na rua é um dos temas discutidos entre moradores. Foto: Rita Ansone

Este pedaço de mapa compete com o segundo quarteirão mais populoso de Lisboa, mesmo no limite da cidade, às portas da Damaia. O que nos dá pistas sobre a dinâmica de migração da cidade, o êxodo para a periferia. É que se muitos cá continuam a trabalhar pela cidade, a verdade é que já não conseguem aqui viver.

Um crise adensada nos últimos anos e que até já levantou a vontade de um referendo.

Esta é uma constatação acentuada pelo mapa que contabiliza o número de indivíduos por quarteirão da Área Metropolitana de Lisboa (AML) e no país: ainda que a zona de Arroios mencionada continue à frente no ranking, logo a seguir está um quarteirão em Agualva-Cacém, preenchendo ambos os primeiros lugares do top 100 do país.

Logo a seguir, e por pouca diferença, um quarteirão em Queluz – de facto, os comboios e autocarros sobrelotados de lá para Lisboa, de onde chegam tantos para trabalhar, dão-nos pistas diárias sobre estes dados.

A diferença de população entre o primeiro e o segundo quarteirão mais populoso é de 6 165 pessoas. Já a diferença para o segundo da AML, em Agualva-Cacém, é muito mais reduzida: 1121 indivíduos.

A nível nacional, a AML resgata grande parte do topo da lista dos quarteirões mais populosos do país – de onde se pode destacar também a Margem Sul, sobretudo a zona da Amora.

Os quarteirões com mais pessoas por alojamento

Por oposição, este é o quarteirão menos populoso de Lisboa – em grande parte, porque a área é maioritariamente habitada pelo aeroporto de Lisboa:

Ao contrário do que acontece no quarteirão mais populoso da cidade, há outros onde a concentração de pessoas por habitação supera os 1,5.

Em 1.º lugar e com 4,3 pessoas por alojamento, está um quarteirão à entrada do Parque Florestal do Monsanto. Serão 167 pessoas para 38 alojamentos apenas, numa zona de passagem e com poucas infraestruturas habitacionais.

Em 2.º lugar e com 2,7 pessoas por alojamento, um pedaço de mapa que cruza a rotunda de Pina Manique com a Estrada do Outeiro Norte, a Estrada de Monsanto e a Estrada do Barcal. Serão, assim, 4 835 pessoas para 1 755 habitações, mesmo à saída de Lisboa.

Em 3.º lugar e com 2,6 pessoas por alojamento, entre a Charneca e o Bairro da Cruz Vermelha, onde há 1 352 residentes para 512 casas.

Onde estão os mais jovens

O quarteirão mais densamente povoado de Lisboa e do país está mais envelhecido do que novo, com maior número de indivíduos entre 25 e 64 anos (a faixa etária mais larga também). E, como acontece na generalidade em Portugal, com taxas de natalidade tão baixas nos últimos anos, as crianças estão em muito menor número: até aos 14 anos, representam pouco mais de 10% do total de população registada na freguesia de Arroios nos últimos Censos, por exemplo.

Veja como se comporta o resto da cidade, por faixas etárias:

Nahid ainda não sabe como irá contribuir para as estatísticas: se aqui fica para construir família, rejuvenescer este espaço no mapa com filhos e envelhecer por cá ou se daqui sai para diminuir o número de residentes.

Aos 26 anos, com tanta vida para trás e pela frente, o jovem bengali ainda não decidiu o seu lado nas estatísticas.


Catarina Reis

Nascida no Porto, Valongo, em 1995, foi adotada por Lisboa para estagiar no jornal Público. Um ano depois, entrou na redação do Diário de Notícias, onde escreveu sobretudo na área da Educação, na qual encheu o papel e o site de notícias todos os dias. No DN, investigou sobre o antigo Casal Ventoso e valeu-lhe o Prémio Direitos Humanos & Integração da UNESCO, em 2020. Ajudou a fundar a Mensagem de Lisboa, onde é repórter e editora.

catarina.reis@amensagem.pt

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2 Comentários

  1. Excelentes artigos muito bem fundamentados, e com conteúdos interessantíssimos. Parabéns.

  2. O artigo é bom mas para uma análise mais profunda da situação teria que existir um mapa da Grande Lisboa (Oeiras, Lisboa, Amadora, Odivelas e Loures), com os seus 400 km2 e 1.2 milhões de pessoas. Assim temos apenas uma visão parcial da realidade, cerca de 1/4 do território e 1/2 da população.

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