Com o novo contrato de publicidade exterior, serão instaladas em Lisboa duas mil novas paragens de autocarro. Dessas, 500 terão ecrã digital com tempos de espera pelos próximos autocarros. Cerca de 200 paragens de autocarro atualmente sem proteção dos elementos vão passar a ter abrigo. Foto: Inês Leote

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A publicidade exterior e o mobiliário urbano andam, há muito, de mãos dadas na cidade. A instalação e manutenção de elementos como paragens de autocarro e elétrico, ou até mesmo sanitários, tem sido da responsabilidade das empresas concessionárias, mas há vários anos que a renovação destes equipamentos esperava um novo contrato que permitisse a sua modernização. Vai acontecer agora.

Depois de um período de cinco anos marcado por queixas de concorrentes e tentativas de impugnação, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) aprovou em setembro do ano passado o novo contrato de concessão de publicidade exterior.

Será o grupo francês JCDecaux o responsável pela gestão da publicidade exterior na cidade de Lisboa, uma tarefa com impacto visual nas ruas da cidade, já que a empresa fica ainda responsável pela instalação de novo mobiliário urbano e pela sua manutenção.

Desde 2015, altura em que terminou a anterior concessão de publicidade exterior à JCDecaux e Cemusa, que a renovação do mobiliário urbano da cidade estava em suspenso. Com a situação agora desbloqueada, a JCDecaux será responsável pela exploração, por um período de 15 anos e com uma remuneração anual de 8,3 milhões de euros, da publicidade exterior em Lisboa, subcontratando à portuguesa MOP 40% do total da operação.

Entre outras renovações de mobiliário urbano, os abrigos de transporte público vão agora ser substituídos e modernizados. Com esta mudança na paisagem urbana da cidade chega também a promessa, contratualizada, da redução do número de elementos publicitários nas ruas.

Menos 25% de publicidade nas ruas e a “harmonização” do mobiliário urbano

Atualmente, há nas ruas de Lisboa 298 painéis publicitários de grandes dimensões, de diferentes formas, feitios e de várias empresas publicitárias. Mais de metade vai deixar de existir em breve. Conforme estipulado nos termos do novo contrato, os painéis de grande formato passam a ser apenas 125, uma redução de 58% face ao existente.

De menores dimensões, os expositores de publicidade exterior mais frequentemente utilizados – conhecidos como mupis – também passam a ter uma presença menos invasiva na cidade. Presentes em expositores espalhados pelas ruas, mas também integrados em abrigos de transporte público, há cerca de 1200 mupis em Lisboa. Em breve, serão 900, menos 25%.

O novo contrato de publicidade exterior significa a redução do número de painéis publicitários espalhados pela cidade, sendo esperada uma “harmonização ao nível do design” dos equipamentos, explica Philippe Infante, diretor da JCDecaux Portugal.

Limpar a “floresta de painéis” e digitalizar a publicidade nas ruas

Philippe Infante fala numa “floresta de painéis”, ilustrando-a com um exemplo da zona das Amoreiras em que são visíveis vários equipamentos instalados quase lado a lado. “O que propusemos à câmara é limpar tudo e ter só um [painel] digital”.

O antes e o depois. À esquerda, a situação atual, com vários painéis publicitários instalados no espaço público da Avenida Engenheiro Duarte Pacheco, na zona das Amoreiras. À direita, a proposta de substituição dos atuais equipamentos pelos novos modelos, com uma redução significativa do número de suportes publicitários, com um único expositor de publicidade digital, a ser aprovada pela CML. Fonte: JCDecaux

O resultado da “limpeza” imposta pela redução do número de elementos “vai ser realmente impactante”, afirma o responsável pela empresa em Portugal. “Estamos habituados a ver isto e já faz parte, mas quando limpamos [a rua] e digitalizamos, uau”.

Entre abrigos de transporte público, mupis, painéis de grandes dimensões e sanitários, a JCDecaux teve de apresentar três alternativas de design para cada tipo de mobiliário urbano. A escolha foi, depois, feita pela CML, que fica com a responsabilidade de aprovar os futuros locais de instalação dos novos elementos, a partir de um levantamento feito pela empresa concessionária.

A substituição de equipamentos vai ser total. O investimento global é, garante o responsável da JCDecaux, “de várias dezenas de milhões de euros”. A manutenção dos cerca de três mil novos equipamentos está assegurada contratualmente durante os próximos 15 anos.

A instalação do novo mobiliário urbano está a acontecer, por agora, a conta gotas. No Parque das Nações já são visíveis, desde o ano passado, exemplares dos novos painéis publicitários de grandes dimensões.

Em frente à Gare do Oriente, no Parque das Nações, está instalado um dos novos painéis publicitários digitais. Foto: JCDecaux

A espera pela aprovação final das localizações, mas também os tempos de produção e entrega dos materiais não permitem, para já, um ritmo de instalação elevado, mas Philippe Infante avança que já este mês “vamos começar a ver mais [painéis] digitais”. Será a partir do mês de maio que a “grande instalação” vai chegar à cidade, com dezenas de colocações a cada semana.

No total, serão colocados 3025 novos elementos de mobiliário urbano, menos 21% do que os 3816 equipamentos atuais. “Vamos ter uma cidade mais harmoniosa”, garante o diretor da JCDecaux Portugal.

A digitalização da publicidade será uma das faces mais visíveis da mudança em Lisboa. Todos os 125 painéis de grandes dimensões serão digitais e dos 900 mupis que serão instalados, 250 serão digitais. A digitalização vem substituir o papel pelo ecrã e oferece ao mercado publicitário, mas também à cidade, mais controlo e adaptabilidade.

Duas mil novas paragens de autocarro

Atualmente com cerca de 1800 abrigos de transporte público, Lisboa vai passar a ter duas mil paragens de transportes públicos, entre autocarros e elétricos, um acréscimo de cerca de 200. Todas as paragens da cidade serão integralmente substituídas pelo novo modelo da cidade, desenhado especialmente para o efeito.

Se o desenho está, ainda, por conhecer, sabe-se já que o novo modelo não está em utilização em nenhuma outra cidade. Vai possibilitar a utilização de um conjunto de funcionalidades que os atuais abrigos não disponibilizam.

Entre os dois mil novos abrigos, um número ainda por apurar vai dispor de ecrãs com informação de hora, temperatura e tempos de espera de autocarros e elétricos. A operacionalização destas funcionalidades estará, contudo, dependente de articulação entre a Câmara Municipal de Lisboa, Carris e JCDecaux.

Adicionalmente, estes abrigos vão ainda contar com porta USB para carregamento de dispositivos móveis e com pré-instalação de rede Wi-Fi, cuja ativação estará, igualmente, dependente do município.

Apesar de não ter ainda sido apresentado o futuro modelo de abrigo de Lisboa, Philippe Infante garante que o seu desenho se caracteriza por “linhas muito direitas, elegantes”.

Atuais painéis informativos da Carris com tempo de espera. Este ano, o número de paragens com disponibilização desta funcionalidade vai aumentar. Foto: Inês Leote

Está ainda por saber se as novas paragens correspondem às reivindicações de munícipes e trabalhadores em Lisboa, que pedem abrigos de maior dimensão, quando se justifica, e capazes de proteger eficazmente da chuva e do sol quem espera pelo elétrico ou pelo autocarro.

A expectativa da JCDecaux é a de que a partir de maio o ritmo de substituição dos antigos abrigos por novos atinja as 60 a 75 por semana.

Para além dos abrigos de transporte público, a nova concessão de publicidade exterior assegura, também, um importante acréscimo no número de sanitários exteriores. Se o contrato anteriormente em vigor assegurava a colocação e manutenção de 24 equipamentos destes espalhados pelas ruas da cidade, o novo contrato garante que serão agora 75.

“Corrigir erros do passado” e três minutos por hora em cada mupi para a cidade

Utilizados como refúgio do sol, da chuva e do vento, enquanto se espera pelo transporte, são vários os abrigos de transporte público instalados na cidade que são também obstáculo à mobilidade pedonal. A sua colocação em passeios estreitos, bloqueando zonas de passagem, é por vezes um obstáculo à circulação a pé e em cadeira de rodas. O mesmo se passa com mupis e outros elementos de mobiliário urbano. O processo de substituição e identificação de novos locais de instalação que agora decorre é, por isso, para Mário Alves, especialista em mobilidade e transportes, “uma boa oportunidade para corrigir erros”.

À Mensagem, Mário Alves lembra que esta é a oportunidade de fazer cumprir as boas práticas presentes no Manual de Espaço Público da CML, que ilustra também situações a evitar existentes no espaço público de Lisboa.

O novo contrato de publicidade exterior servirá também de ferramenta de comunicação do município para os munícipes. “Cada mupi será uma face para a cidade”, diz Philippe Infante. Em cada hora de conteúdo publicitário, três minutos serão da responsabilidade do município, que poderá utilizar as centenas de novos ecrãs da cidade para realizar campanhas e para informar lisboetas.

Para além disto, o contrato prevê a instalação de 20 mupis digitais – com o tamanho tradicional de dois metros quadrados – e de cinco painéis digitais de 12 metros quadrados dedicados inteiramente à comunicação da Câmara Municipal de Lisboa.


*13.01.2023 16h00
Correção: alterado título e corpo de notícia, que aludia à instalação de 500 novos abrigos com disponibilização de informação horária, temperatura e tempos de espera de transportes públicos. A empresa concessionária pediu a clarificação das declarações inicialmente prestadas, explicando que o número de abrigos com estas funcionalidades ainda não estará definido, sabendo-se, apenas, que 25% dos novos mupis e abrigos terá elementos digitais.


Frederico Raposo

Nasceu em Lisboa, há 30 anos, mas sempre fez a sua vida à porta da cidade. Raramente lá entrava. Foi quando iniciou a faculdade que começou a viver Lisboa. É uma cidade ainda por concretizar. Mais ou menos como as outras. Sustentável, progressista, com espaço e oportunidade para todas as pessoas – são ideias que moldam o seu passo pelas ruas. A forma como se desloca – quase sempre de bicicleta –, o uso que dá aos espaços, o jornalismo que produz.

frederico.raposo@amensagem.pt

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1 Comentário

  1. Quando li “tempos de espera dos transportes” no título, pensei que o articulista ia finalmente abordar o declínio acentuado dos serviços de autocarros nos subúrbios desde que as várias operadoras se fundiram sob o nome de Carris Metropolitana. A Vimeca, que até Dezembro funcionava bem, foi completamente destruída e hoje é um risco usá-la. Desde Janeiro que carreiras são suprimidas diariamente, há atrasos de 40 minutos. É actualmente impossível prever quando se chega ao destino. Basta passar uns minutos numa paragem para se ouvir o descontentamento. Isto passa-se no Cacém, em Monte Abraão, Damaia, Oeiras, Algés, Miraflores. Reclamações por escrito redundam em representantes chutando as responsabilidades de uns para outros. O silêncio é total nos canais de TV; é como se estivesse tudo a correr bem.

    Há um mês que ando à espera que o Mensagem pegue neste assunto. Mas o que o jornal julga importante é informar que, no futuro, vão substituir as velhas paragens com novas. E com monitores de tempos de espera – que piada! Se forem como o da paragem do 750 diante da estação de comboios de Benfica, ficarão a enfeitar sem nunca funcionar um só dia nos últimos 3 anos.

    Seria mais útil averiguar se haverá autocarros passando pelas novas paragens a horas, cumprindo o horário. Quando os horários são cumpridos, não é preciso haver monitores de tempo de espera, basta saber o horário, que por norma está afixado na paragem e só custa uma página impressa. Monitores electrónicos e portas USB são só modernismos de chacha caros que não abordam os fundamentais problemas dos passageiros.

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