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A processar…
Feito! Obrigado pelo seu interesse.

Antes de mergulhar no Tejo, gostava só de dizer que Lisboa é tudo o que dizem, Lisboa é tudo o que não dizem, mas Lisboa é sobretudo aquilo que fica sempre por dizer.

Lisboa é uma bica a sessenta cêntimos, mas de que se paga a diferença na conversa incessante do vizinho do lado sobre o Benfica — logo ele que veste o manto de honra debaixo do robe em flanela.

Lisboa é populismo, brutalismo e um abismo para quem acha que beber álcool todos os dias com amigos boémios não vai ter repercussões na qualidade da pele.

Lisboa é a gaivota pousada na coluna do cais para um momento fotográfico perfeito, mas Lisboa também é aquele sem abrigo que entra no McDonald’s com o euro que lhe deste porque confessou estar cheio de fome, mas consegues vê-lo a sair pela porta do fundo com a moeda por gastar.

Lisboa é um vizinho brasileiro, um vizinho do Bangladesh e uma vizinha nómada digital que tu não sabes de onde é, mas cujos olhos azuis são tão translúcidos que permitem ver como é a conta bancária dos pais a bancar o apartamento nesta cidade cénica que descobriu na Monocle.

Lisboa é o sorriso do empregado mal-disposto que só surge uma vez por dia quando entra a miúda morena do teu escritório (não confundir com um prémio para a regularidade da tua presença num restaurante com baratas porque Lisboa tem canos com três séculos).

Lisboa são duas estrelas Michelin — mas também é o pneu furado na Calçada do Combro quando já estavas atrasado para uma sessão de Cassavetes no Cinema Ideal.

Lisboa é hora de ponta na pastelaria da tua esquina quando vais pegar pastel, hora de ponta no elétrico para Belém desde dois mil e dezasseis, hora de ponta nas tuas ideias quando vês ligar as luzes de Natal e és inundado por décadas de memórias.

Lisboa é ouro sobre azul e um carro mal-estacionado sobre a linha do elétrico.

Lisboa é uma fonte inesgotável de literatura portuguesa, mas também de deslize sobre as pedras da calçada (voto numa competição popular de maior slide na Rua das Trinas sem cair num brunch com tosta de abacate).

Lisboa é mãe, mas também madrasta. Lisboa é primeira namorada, mas também é lua-de-mel e casamento de longa-data. Lisboa é viuvez, quando muda e te lembra que o teu tempo era outro. Lisboa é a lembrança de que o amor é a melhor forma de passar o tempo.

Lisboa é devoção ao mármore morto em prol de Deus, mas também é Deus me livre do quanto a minha a renda vai aumentar já em janeiro.


* Nasceu em Setúbal, mas sonhou com Lisboa desde cedo. Aproveitou a carreira em publicidade para se mudar para a cidade e entretanto já passou uma década a mudar de apartamentos. É pós-graduado em Artes da Escrita pela FCSH, onde ganhou forças para perseguir os seus sonhos literários. Sente que Lisboa o aceitou e continua agradecidíssimo por isso. Twiter: @infinitogesto

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