A cerimónia fúnebre em homenagem a Jorge Costa vai acontecer no próximo dia 17 de maio (terça-feira), pelas 9:30, no Crematório dos Olivais. O cronista da Mensagem de Lisboa, que ao longo de 14 crónicas mudou a forma como muitos lisboetas olham as pessoas em situação de sem-abrigo, morreu no dia 20 de abril, vítima de um cancro que piorou com a chegada dele às ruas de Lisboa, sem teto. O funeral acontece quase um mês após a morte, por questões legais.

Em 2021, tornou-se cronista da Mensagem, a convite da equipa. Escreveu, na primeira pessoa, aquela que foi uma experiência pessoal e muito pouco transmissível: oito meses a ter o céu de Lisboa como teto, a cidade que o viu nascer e crescer. Inaugurou o Diário de um Sem-abrigo, onde contou como a rua pode ser uma selva, mas também foi o sítio onde fez um amigo: o Zé, que nunca chegamos a conhecer, mas que quase sentimos ter conhecido, pelas palavras do Jorge.

Desde então, nunca mais olhamos da mesma maneira para todos aqueles que não têm uma casa.

Centenas de leitores encheram as nossas caixas de e-mail e de comentários. Muitos eram ditos de lágrimas nos olhos, depois de um qualquer encontro com uma realidade que era, até então, só paisagem na cidade onde viviam, agora desbravada pelo Jorge. Tantos outros arregaçaram mangas, tornaram-se voluntários, fizeram chegar cabazes e até um computador novo ao cronista, para que ele pudesse trocar o pequeno visor do telemóvel por um maior quando escrevesse para a Mensagem.

Em tempos e durante anos, Jorge trabalhou como técnico administrativo na área de contabilidade de uma empresa que abriu falência e o deixou no começo deste caminho. Foi um pequeno passo até não ter dinheiro para pagar uma renda e acabar num banco da Gare do Oriente.

Jorge Costa e Nuno Markl
Jorge Costa com Nuno Markl, na redação da Mensagem.

A vida dele estava a mudar, aos poucos. Já tinha uma casa, era cronista e deixou o início de um livro que está em andamento e cujo apoio à edição será votado na Câmara Municipal de Lisboa, por proposta do Bloco de Esquerda. Além disso, um filme, que Nuno Markl, radialista e humorista, está a preparar.

Esses sonhos aos quais a Mensagem vai dar continuidade.

Dia 17 de maio, estão convidados a vir prestar uma última homenagem ao Jorge Costa, cronista e homem de Lisboa.

Leia aqui todas as crónicas de Jorge Costa

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2 Comentários

  1. RIP
    tive a honra e o prazer de o conhecer e de trocar com ele algumas conversas quando fiz voluntariado no pavilhão do Casal Vistoso.

  2. Um grande bem haja à Catarina Reis, jornalista da Mensagem de Lisboa, pela publicação do Diário de um sem-abrigo”, com ele a vida dos sem abrigo entrou-me de facto “pelos olhos a dentro”.
    “És grande”, também tu, Jorge Costa! Vais, certamente, ficar no coração de muitos Portugueses, oxalá todos os outros “invisíveis”, “inconvenientes”, “ignorados”, das ruas de Portugal, passem a ser olhados de outra forma, que “os leve a acreditar na vida e, no seu semelhante”.

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