Podiam ser só pedras, coisas largadas ao acaso. Mas há décadas que as crianças que aprendem a brincar ao relento as usam como desculpa para o famoso jogo da mosca. Três pedras: quem não conseguir saltá-las, perde.

À infância de Joice Veiga, agora com 21 anos, não faltaram as vitórias e derrotas à volta destes pedregulhos, pousados sobre um campo de cimento, ladeado por quatro baixos muros onde se desenharam balizas e se improvisou um campo de futebol.

Aqui, no bairro dos Navegadores, em Oeiras, tudo se improvisa. Até o aceitar de que a primeira pedra que aqui se ergueu, há 20 anos, seria então a nova casa de centenas, vindos dos maiores bairros de barracas de Algés.

A história faz jus ao nome do atual bairro. A maioria chegou da velha e desfeita Pedreira dos Húngaros, considerado o maior bairro de barracas da Grande Lisboa, mal afamado durante anos pela droga e onde Joice viveu até ter um ano de vida. Mas também do Alto de Santa Catarina, do Gato Preto, de Len Ferreira, do Ferro Velho, entre outros.

Todos estes bairros acabaram demolidos, alguns dando lugar a condomínios com os quais os seus ex-inquilinos nunca puderam sonhar.

Muitos choraram a perda e há quem ainda esteja a aprender a viver ali. Tal como no jogo, há sempre alguém incapaz de dar o salto sobre a última pedra. Por isso, Joice cresceu a ouvir: “No meu tempo é que era”. Intrigada, duas décadas após o seu nascimento e o do bairro, decidiu procurar saber de onde vem tanta saudade de tempos que todos sabem terem sido difíceis.

“Fiquei sempre com aquilo na cabeça”. Moeu, moeu, moeu.

“A minha perspetiva de bairro é completamente diferente. Tenho ligação com os meus amigos e alguns vizinhos, mas eles lá eram todos mais unidos. Tinham uma relação muito mais forte com a igreja e até tinham as suas próprias festas, vendiam a sua arte aos vizinhos, tinham a sua venda ambulante.”

Perguntou e foi entrando no passado e nas suas personagens. “[Na Pedreira dos Húngaros] Havia um senhor que fazia cinema em casa. Nem todos tinham televisão e a malta ia lá ver filmes. Tinham grupos de dança de jovens. De lá, veio a ideia de jogarem aos fins de semana num campo de futebol. E viviam sempre com as portas de casa abertas. Eu quis saber de onde vinha isso tudo que eu nunca tive.”

Através de uma exposição de memória, Joice Veiga quer reavivar o passado dos bairros que deram, depois, origem ao seu. Foto: Orlando Almeida

Agora, quer devolver toda esta memória ao bairro dos Navegadores.

Através de um programa de desenvolvimento jovem, ON Oeiras, da Câmara Municipal de Oeiras e da Fundação Aga Khan, cada jovem do bairro teve a oportunidade de desenvolver um projeto seu.

Este é o de Joice: recolher arquivo fotográfico e testemunhos dos seus vizinhos para contar o passado dos bairros de Algés.

Bairros de porta aberta, mas “pé de lama”

“Vamos até minha casa, filha!” Isabel, cabo-verdiana de 74 anos, recebe-nos à porta do prédio onde mora e convida-nos a entrar. “Então? Eu sou da Pedreira dos Húngaros!”, como que justificando a hospitalidade e antecipando a conversa.

Tal como Joice veio a descobrir, na antiga Pedreira dos Húngaros, não se abria a porta de casa nem se pedia licença, ela estava sempre aberta. O espírito de comunidade era como nenhum outro, dizem. Lá, morou cerca de 30 anos, até ao realojamento.

Cartaz utilizado por Joice, divulgado nos vários lotes do bairro. Foto: DR

No átrio das escadas que dão acesso aos vários pisos, pára para nos provar como sabe do que fala. Aponta o dedo a um cartaz, ali deixado por Joice, em jeito de apelo, para que os moradores a ajudassem com lembranças do passado destes bairros. Nele, uma fotografia. “Isto aqui é a Pedreira! O poste que ficou lá no largo. Isto é um prédio que ficou lá. Por aqui, vai-se para a Carris.” Tudo parece ter ficado por lá, menos as velhas barracas. Isabel vai espicaçando a memória, em busca de certezas que a idade já não lhe permite. Arrasta o dedo pela imagem de cinco jovens, fixados de costas, mãos nos bolsos, atentos ao que se passava além bairro.

Entramos porta adentro e as fotografias são outras. A família posa em cenários africanos idílicos, ainda que a preto e branco, ou em retratos tradicionais. Conversamos na sala, onde duas bacias com feijão descansam ao sol, preparados “para uma feijoada”.

A viagem de Cabo-Verde até Portugal não se fez em linha reta. Apesar de ter nascido no país da célebre e cantada morna, cedo partiu para São Tomé, já casada. Era “o país para ganhar algum dinheirinho”. Lá, teve a maioria dos seus 11 filhos. A vida tirou-lhe três – dois devido a complicações poucos dias após o parto, outro levado por uma paragem cardíaca.

A mente é matreira e já não guarda datas certas, mas há cerca de 50 anos, “quando abriu aquela emigração para aqui”, o marido rumou a Portugal. “Mas eu não queria vir, queria viver na minha terra”, diz com ar pesaroso, como se ainda guardasse o rancor de o destino ter sido mesmo este.

Mas o marido de Isabel “achava que se podia viver melhor cá”, por isso, ela lá seguiu pouco depois. Não para Lisboa. Primeiro, Beja, onde o seu homem era operário da construção civil, “para uma terra chamada Baleizão, terra de Catarina Eufémia”. Depois, Mina de São Domingos, “onde tinha uma vida muito triste, no monte, sozinha com crianças”.

“A rua e a casa eram a mesma coisa. Chegada da rua, vinha com pé de lama. Ia para a rua, ficava com pé de lama.”

ISABEL, 74 ANOS
Primeiro Cabo-Verde, depois São Tomé, Beja e, mais tarde, Lisboa, na Pedreira dos Húngaros. Isabel, 74, conta a vida no velho bairro de barracas. Foto: Catarina Reis

Preocupados com a segurança da família, decidem finalmente mudar-se para junto da cunhada de Isabel, residente na Pedreira dos Húngaros. “Arranjámos um bocado de terreno, fizemos uma casa.” De tijolo, “muito pequenina”. Já a Pedreira era um manto de gente.

Isabel enrijece a expressão. Prepara-se para elevar o dedo e dar uma lição: ali, “havia casas boas”, sim, construídas pelas mãos dos próprios que as habitavam, “mas havia outra em que a casa de banho era aqui e a cozinha logo aqui também”. Se fazia chuva, as desigualdades eram patentes. “A rua e a casa eram a mesma coisa. Chegada da rua, vinha com pé de lama. Ia para a rua, ficava com pé de lama.” A bata branca das crianças, lembra, num instante se pintava de “castanho sujo”.

Um dia, “o padre Henrique”, já falecido, residente no bairro e figura quase lendária da Pedreira dos Húngaros, acordou com vontade de mudar o destino destas crianças e das suas famílias. Conta Isabel que se terá dirigido à Câmara Municipal, onde “pediu areia, pediu pedra pequenina”, para transformar, com as suas próprias mãos, as ruas e becos do bairro. Trocou a lama pelo cimento. E a pobreza deixou de estar pintada na roupa.

Mas a fama que há anos o bairro ganhava não ficou debaixo desse cimento. A Pedreira dos Húngaros foi vista como um vai e vem de venda e consumo de droga. “Foi aquele que ficou com a fama”, defende Isabel. “Tinha lá gente boa, gente trabalhadora e gente honesta.”

Por isso, ressalva: “a gente vivia bem”. “Quando uma pessoa ficava doente, quando morria uma pessoa… tudo junto. Era uma comunidade. Nesse aspeto, é melhor do que aqui.” Aqui, onde “todos se fecham nas suas casas”, empilhadas em prédios. Antes, os vizinhos olhavam-se olhos nos olhos, através da porta ou da janela. As condições habitacionais, diz, melhoraram significativamente, mas o sentido de comunidade ficou lá no bairro. “Tenho saudade.”

A droga era a saída fácil para muitos que nasceram e cresceram na miséria que rotulava este bairro. “Não havia trabalho, havia fábrica e não era toda a gente que ia para lá – era para quem tinha conhecimento. Fazíamos um docinho, um pastel, para ganhar um dinheirinho.” Isabel correu tudo quanto pôde. Apanhou e vendeu papelão e pregos. “Juntava, juntava, ganhava dois euros e meio. Sempre dava ajuda.”

A vida financeira contava-se a tostões e pelos filhos nos braços. “No meu caso, eu encontrava trabalho, mas onde deixava a criança?” Até que o padre Henrique volta a tentar mudar o rumo do bairro: “Foi à Câmara pedir creche para as crianças e alguns começaram a ir trabalhar”.

Em tempos, foi peixeira. “Levantava-me às três ou quatro horas da manhã e ia comprar peixe na Docapesca. Andava o dia todo com o peixe na cabeça, num alguidar, ia pelos bairros vender. Ia ao calor, ia ao frio.”

Bairro a bairro. Foi nessa altura que conheceu Antónia Gonçalves, 70 anos, no bairro do Alto de Borronha, que em tudo diz assemelhar-se à Pedreira. Um bairro de barracas, onde a vida se media pela força do Inverno nas portas e pelo calor do Verão nos telhados de zinco. Tornaram-se vizinhas com o realojamento e a vinda para o bairro dos Navegadores.

A barraca como solução para o muro linguístico

Antónia tinha 35 anos quando chegou a Portugal, vinda de Cabo Verde. Tal como aconteceu com Isabel e a maioria das mulheres de origem africana que chegavam a estes bairros, o marido veio abrir caminho. Dez anos antes, aceitou ir trabalhar para o Algarve, até achar que podia dar uma vida melhor à família em Portugal e pedir a Antónia que viesse, com os dois filhos (uma de seis anos, outro de sete meses) – o terceiro acabaria por nascer cá.

O trabalho trá-los rapidamente até Lisboa, para o Alto de Borronha, onde a comunidade africana já se somava, uma a seguir à outra. “Era barato construir lá e não conseguíamos falar para arranjar casa”.

Antónia compreende português, mas admite sérias dificuldades – cada vez menores – na expressão própria da língua. E a barreira linguística valeu-lhe uma barraca e não uma casa melhor.

Um dia, Antónia foi surpreendida por agentes policiais. As lágrimas salgavam-lhe o rosto, enquanto escondia os filhos na sua saia longa. Sem saber bem falar português, defrontava-se sozinha com homens preparados para os forçar a abandonar a casa, ainda sem número.

Antónia Gonçalves mal sabia falar português quando cá chegou, o que a impediu de ter uma casa melhor. Foto: Catarina Reis

Pediram um espaço emprestado na casa de uma amiga por uma noite, chamaram “uns pedreiros” e, da noite para o dia, a casa foi construída. “Tinha de estar pronta numa noite, senão a polícia vinha e mandava abaixo o que estava por acabar.” Um dia, foi mesmo surpreendida por agentes policiais. As lágrimas salgavam-lhe o rosto, enquanto escondia os filhos na sua saia longa.

Sem saber bem falar português, defrontava-se sozinha com homens preparados para os forçar a abandonar a casa, ainda sem número. O marido, que só via de mês a mês, estava a trabalhar no Algarve como cozinheiro numa cantina de obra.

Perante a terceira gravidez e a constante iminência de ser despejada, Antónia mudou-se para o Algarve durante três anos, para junto do marido, a quem o patrão ofereceu apoio na procura por uma casa. Mas não tardaram a regressar ao bairro.

Um dia, receberam a carta da sua vizinha no Alto de Borronha: que viessem porque se a polícia a encontrasse vazia e sem número de porta, ficariam sem a barraca. Uma casa de tijolo, com reboco, “com janela de vidro e porta de alumínio”, recorda Antónia, como quem elogia a vitória que era tê-la.

Esta casa acabaria, semanas depois, por ganhar o número 12 e inquilinos permanentes. A polícia, essa, nunca abandonou o bairro, devido às suspeitas de tráfico de droga.

Leia também a reportagem “Neste bairro de Corroios de tijolo e sucata, ninguém deixa ninguém com fome”

Anos mais tarde, uma nova paragem: o bairro dos Navegadores, que em tudo prometia ser melhor. “Quando chegamos aqui, era muito bom. Tínhamos jardim, com rega automática e tudo. Mas tudo ficou destruído.”

A pintura dos prédios estava fresca, o alcatrão da estrada também. Finalmente, esta família poderia sonhar com uma vida mais digna, um teto onde não caísse água. Mas “as pessoas vieram com aquela mentalidade de barraca”.

“Isso não sai”, mesmo com paredes pintadas de fresco, diz. Num instante, o vandalismo começou a ser assunto do dia entre vizinhos. “Pegaram em nós e meteram-nos aqui”. Sem qualquer preocupação sobre a adaptação a esta nova realidade.

Antónia não hesita por um segundo em dizer que vive melhor agora. “Porque a barraca é fria.” Mas a relação com os vizinhos mudou drasticamente.

“Uma pessoa chegou a dizer-me que nem conseguia vir à janela, porque não via nada nem ninguém.”

JOICE VEIGA

“O que havia de tão especial?”, perguntou-se a jovem Joice ao longo dos anos, sobre os bairros de onde os seus vizinhos tinham partido. Por que razão havia lamúrias na hora de falar deste novo bairro como um coletivo de pessoas?

“Uma pessoa chegou a dizer-me que nem conseguia vir à janela, porque não via nada nem ninguém.” É através destas matriarcas que está a encontrar a resposta: “Percebi que havia um espírito de comunidade.”

A conclusão irá resultar numa exposição fotográfica e de testemunhos, no decorrer dos próximos meses.

Novo velho bairro

De carro, o caminho para o bairro dos Navegadores é só um. Situado na extremidade do município de Oeiras, a norte de Porto Salvo, largado entre três grandes polos de inovação, a sua morada é um encontro direto entre profundas desigualdades sociais. De um lado, o Tagus Park, onde não entra ninguém do bairro para ter emprego.

Estas pessoas habituaram-se a ter outro lugar na cadeia laboral – não por acaso, quando Joice frequentava o autocarro das 5:00 da manhã, partilhava-o com dezenas de mulheres que seguiam para os serviços de limpezas nas várias empresas. Do outro lado, o Lagus Park e Quinta da Fonte.

“Estamos no centro de tudo, mas longe de tudo”, lembra Joice.

Joice conheceu Lisboa pela primeira vez aos 15 anos. “Descobri o metro e o elétrico. Já sabia que havia, já tinha visto nos manuais. Mas a minha mãe trabalhava muito e não tínhamos oportunidade de sair.”

Aqui, vivem cerca de 1400 pessoas, a maior parte cabo-verdianos, outros vindos da Guiné-Bissau, entre outros também já nascidos em Portugal – sobretudo a comunidade cigana. Jovens e idosos ocupam praticamente a mesma dimensão territorial neste pedaço de mapa, mas vivem distanciados entre si no dia-a-dia.

Enquanto no rés-do-chão dos lotes se vão formando grupos de jovens preparados para discutir mudanças no bairro, a solidão bate à porta dos mais velhos. “Com os CENSOS [onde esteve a recolher respostas ao questionário], consegui perceber que existem aqui muitos idosos a morar sozinhos e em condições realmente precárias. E há quem tenha problemas motores e viva num 3.º andar sem elevador.”

Logo após a estreia deste bairro, os dias eram de festa e avizinhava-se uma melhor vida para todos. Celebrava-se a Gincana de Primavera, assim que a estação arrancava, mas hoje já nem a festa em honra da Senhora da Paz é o que era. A fé no futuro era grande e a igreja, com morada num rés-do-chão de um dos lotes, era mais frequentada. “Agora já não há muitos jovens ligados à igreja”, diz Joice.

Num instante, o novo bairro tornou-se velho. Hoje, reclama-se a arquitetura, pensada para colocar vizinhos uns sobre outros e não em comunidade, e a pintura. Desde as portas de vidro dos prédios trocadas por aço que “mais parecem de uma prisão”, às paisagens artísticas desenhadas nas paredes que os moradores não sabem quem desenhou – apesar de terem proposto artistas do bairro para esta obra.

Não tardou até que este bairro se parecesse com tantos outros de cariz social, deixados visualmente (e não só) à margem.

A marginalidade perpetua-se de geração para geração. Arredado do resto do município, mesmo que as suas pontas toquem os grandes polos centralizadores de desenvolvimento e inovação de Oeiras, o bairro criou jovens que nunca conheceram sequer Lisboa.

A primeira vez que Joice viajou até à capital tinha 15 anos, decidida a fazer o 3.º ciclo na cidade. “Descobri o metro e o elétrico. Já sabia que havia, já tinha visto nos manuais. Mas a minha mãe trabalhava muito e não tínhamos oportunidade de sair.”

O confronto com Lisboa desencadeou uma paixão pelas paisagens sobre o Tejo, mas até lá chegar o caminho era, todos os dias, longo. “Tinha de apanhar o autocarro das 6:25 para chegar lá às 8:20. Duas horas para ir, duas horas para vir. Quando o autocarro [da transportadora Vimeca] vinha. Avaria, vem de hora em hora, tem péssimas condições (chegamos a ver baratas no autocarro), e às vezes falha, não vem. Eu tenho de apanhar este autocarro para chegar, dentro de meia hora ou 40 minutos, à estação de Oeiras. Lá, apanho o comboio até Cais do Sodré. E, lá, apanho o 736 ou o metro.”

Joice é uma das poucas jovens no bairro a ingressar no ensino superior. Foto: Orlando Almeida

Ainda assim, Joice escolheu o percurso mais difícil, para sair do ciclo vicioso em que via as gerações mais novas entrar, ano após ano. Com ensino secundário quase à porta, escolheu ir estudar para Lisboa. “Em primeiro lugar, não tinha a área que eu queria seguir: Moda. E, em segundo lugar, nesta escola nunca tinha ouvido falar de faculdade.”

Ingressou em Artes Visuais no Liceu Camões e é atualmente estudante de 2.º ano na Faculdade de Arquitetura, a caminho de um Erasmus em Milão.

Não é caso único no bairro, mas reconhece a raridade. “Conheço mais quatro ou cinco pessoas que foram daqui para a faculdade, muito poucos para os tantos que somos.”

Joice escolhe como causa para esta realidade a mentalidade familiar que se perpetua num bairro onde as dificuldades financeiras são muitas, mas também a desmotivação dos professores, que já esperam ter à sua frente “os alunos do bairro, os problemáticos, que não querem estudar ou trabalhar”. “A partir do momento em que a escola cria turmas em que junta só pessoal do bairro, não vai correr bem”, remata.

A igreja está encerrada, mas ao lado, numas salas, há um burburinho. À volta de um computador, numa sala forrada a cartazes com atividades e formações futuros e a quadros de tarefas, jovens definem o futuro da nova associação juvenil criada no bairro, oficialmente reconhecido no início deste ano: Novo Ciclo.

Chegamos acompanhados com Joice, que já conta o tempo para o final da entrevista e o início dos trabalhos nesta sala, onde irá voltar a debruçar-se sobre o seu projeto de recuperação de memórias.

Através desta associação, Joice quer lembrar até onde vão os possíveis para os mais novos. O que passa também por lembrar um passado ainda mais precário, que eles nunca conheceram.

Catarina Reis

Nascida no Porto, Valongo, em 1995, foi adotada por Lisboa para estagiar no jornal Público. Um ano depois, entrou na redação do Diário de Notícias, onde escreveu sobretudo na área da Educação, na qual encheu o papel e o site de notícias todos os dias. No DN, investigou sobre o antigo Casal Ventoso e valeu-lhe o Prémio Direitos Humanos & Integração da UNESCO, em 2020. Ajudou a fundar a Mensagem de Lisboa, onde é repórter e editora.

catarina.reis@amensagem.pt

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6 Comentários

  1. “Mas eu não queria vir, queria viver na minha terra” Isso todos queremos, mas…

  2. Trabalhei nesse bairro por causa da minha profissão.
    Um bairro que a marginalidade convida diariamente os jovens a ser parte integrante dessa marginalidade. Existe gente íntegra por norma os mais velhos. (os pais) e alguns jovens que conseguem fugir das más companhias.
    Diria também que a deposição do Bairro não ajuda uma entrada uma saída.
    Afastado de tudo e com extensão muito grande.
    No meu tempo houve várias iniciativas da associação de forma a tirar os jovens de caminhos menos bons.
    Exemplo da fama do Bairro foi Intermarché que tinha segurança e polícia em regime de gratificado por causa dos furtos.
    Hoje já se encontra fechado, as lojas dentro do espaço foram fechando e por fim fechou Hipermercado.
    Penso que terá sido o maior erro do Presidente Isaltino a construção de um bairro tão grande.
    Onde as sirenes da polícia são uma constante dentro do bairro.
    A pouca fiscalização por parte da Câmara nos prédios tem aumentado a decadência do bairro.
    Onde ao dar uma volta nos por alguns prédios se pode verificar a degradação a que reservevados por falta de manutenção.
    Enfim teria tanto para escrever.

  3. Bonita reportagem a minha velhote obrigado Joyce mas fico triste que voces da geracao millenio nao viveram a experiencia da comunidade que tinhamos ….

  4. Excelente artigo! Faz falta uma Mensagem em Oeiras, onde todos os canais de informação não passam de propaganda de Isaltino Morais.
    Autarca que tanto se gaba de ter sido o primeiro a acabar com as barracas. E, no entanto, este bairro é um exemplo perfeito de um dos principais problemas do município: mau urbanismo que levou a dispersão do território, sem transportes públicos e serviços acessíveis a quem não tenha carro.
    Enfim… o isaltinismo no seu expoente máximo!

  5. Amei

    Ainda por cima a minha mãe e a prova desta vida

    Parabéns todo o sucesso

  6. Acompanhei o realojamento no Casalinho da Ajuda,das famílias do Bairro dos Merinos (perto do CCB), no Bom Sucesso.Aí ,como nos Navegadores, o sentimento de perda foi uma constante! Um jovem escreveu: “Era bom que a casa nova fosse no Bairro antigo”… Helena Cidade Moura fez um enorme esforço para que se retomassem certos rituais, como as festas,o apoio escolar,o desporto, o grupo de danças africanas, a ocupação dos tempos livres das crianças e jovens…

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