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Como é que Lisboa pode aproveitar o embalo da pandemia para ser uma cidade mais sustentável? O primeiro passo será “não olhar para si apenas como uma cidade fechada”, diz Sérgio Ribeiro, da Planetiers, uma plataforma online de produtos sustentáveis e responsável por um dos maiores eventos mundiais sobre inovação sustentável: Planetiers World Gathering 2020 e sedeada na Startup Lisboa. Ou seja, aplicar uma lógica de autossustentabilidade, “naquilo que for possível”.

Esta não é, diz Sérgio, uma visão irrealista. “Não estou a dizer que vamos começar a meter painéis fotovoltaicos em Lisboa, não há esse espaço. Mas, se calhar, há uma forma de colaborar com os espaços à volta”. No abastecimento alimentar, por exemplo: “Olhar para o que está a sair e para uma expressão muito famosa que é ‘economia circular’. Tudo o que pode ser refeito para aproveitar resíduos orgânicos que são oriundos da cidade, deve ser refeito”, diz.
O que é que isto significa, na prática? “Para começar, deve-se tentar perceber como é que pode trabalhar no sistema logístico ou as cadeias alimentares. Onde é que se está a abastecer e como? Como é que está a ser feito o transporte deste abastecimento? No fundo, é não se limitar a olhar para o que está a fazer internamente, mas olhar muito para o que vai entrar na cidade. Avaliar muito que nós temos de reduzir o impacto de toda a cadeia de valor”, aponta o empreendedor.
“Porque é que tanta gente sabe que tem de ser mais sustentável, mas, no dia a dia, não toma as decisões corretas?”, pergunta Sérgio Ribeiro
E porque não trabalhar num projeto “em que, aproveitando todos estes resíduos, estamos a criar agricultura, alimento para outros, talvez para os mais necessitados”? O que ajudaria, desde logo, a que a cidade ficasse perto de resolver dois problemas: “Estamos a libertar a poluição de resíduos, a saber alimentar os solos; e estamos a alimentar os mais pobres”.
Formado em Engenharia Biológica, o fundador da Planetiers dá a cara pelo segundo artigo de uma série de análises de cinco empreendedores de diversas áreas, ligados à Startup Lisboa. Desafiámo-los a desenhar, nas suas áreas, uma proposta para quando a cidade retomar o ritmo habitual.
“Porque é que tanta gente sabe que tem de ser mais sustentável, mas, no dia a dia, não toma as decisões corretas?”, pergunta Sérgio Ribeiro que acredita que a pandemia veio trazer boas notícias neste campo. “A minha única preocupação é que o medo de que a economia demore a levantar faça com que se abram as torneiras que estavam abertas antes e que não eram sustentáveis. Não é por ser mais fácil, é por ser mais conhecido”, alerta. “Estaria a cometer um erro ao dizer que a solução é uma. Num sistema saturado de atividade humana”, como Lisboa, a tarefa de encontrar um modelo de sustentabilidade ambiental “torna-se difícil”.
Mais poluída que Madrid
Segundo dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior a redução de emissões poluentes chegou até aos 80% em Lisboa. Mas teme-se que quando as coisas acalmarem, rapidamente se volte ao que era dantes, e não era bom: a poluição atmosférica custa a cada residente em Lisboa 1159 euros por ano e custa anualmente à cidade 635 milhões de euros, de acordo com um estudo da Aliança Europeia de Saúde Pública (EPHA na sigla original), lançado no final do ano passado. O que é mais do que a despesa que acarreta para uma cidade como Madrid, onde os custos são de 1069 euros, ainda que os danos provocados pela poluição do ar ultrapassem os 3,3 mil milhões de euros.
No entanto, tudo vai resumir-se a uma à velha máxima: participação. Qualquer que seja a solução a aplicar em Lisboa, a ela tem de anteceder um processo participativo, contínuo e não esporádico. “A solução passa por a cidade libertar os fazedores, os cidadãos que querem fazer algo, com mecanismos de empreendedorismo e de apoio [financeiro] aos testes.” Talento e vontade dentro da cidade não faltam. Por isso, “é preciso trazer à discussão estes empreendedores que estão no terreno”.

“A cidade deveria ter um papel agregador de incentivo, mas também de orientação nesta espinha dorsal: mostrando que há determinados problemas e perguntar que soluções é que se podem testar”, remata.
E porque não trabalhar num projeto “em que, aproveitando todos estes resíduos, estamos a criar agricultura, alimento para outros, talvez para os mais necessitados”?
Pelo mundo fora, vão somando-se os bons exemplos. Não “por serem os melhores”, mas “por serem os mais ambiciosos” e mais perto de alcançar as suas metas, como as que Sérgio Ribeiro propõe para Lisboa.
Acontece já sobretudo em cidades nórdicas, principalmente nas da Dinamarca, Finlândia e Suécia, “que fazem um trabalho incrível naquilo que é reduzir a pegada ecológica e trabalhar a economia circular”. Amesterdão merece, para si, entre todos, um lugar de destaque como “um excelente exemplo de como está a implementar a inovação na economia circular”.
- Siga amanhã as próximas ideias da Startup Lisboa
- Leia aqui o artigo anterior, com Rita Marques, da Impact Trip.

Catarina Reis
Nascida no Porto há 27 anos, foi adotada por Lisboa para estagiar no jornal Público. Um ano depois, entrou na redação do Diário de Notícias, onde aprendeu quase tudo o que sabe hoje sobre este trabalho de trincheira e o país que a levou à batalha. Lá, escreveu sobretudo na área da Educação, na qual encheu o papel e o site de notícias todos os dias. No DN, investigou sobre o antigo Casal Ventoso e valeu-lhe o Prémio Direitos Humanos & Integração da UNESCO, em 2020.
✉ catarina.reis@amensagem.pt
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