Para o imaginário de muitos lisboetas, o Intendente era zona proibida. A droga e a prostituição eram o ponto de partida para uma fama que não convidava à visita de gente de fora, mesmo que “fora” fosse apenas as ruas vizinhas. “Quando me mudei para Lisboa, avisaram-me: para todo o lado, menos para o Intendente”, lembra Marta Silva, da cooperativa cultural LARGO Residências.
Em 2011, ventos de mudança: instalava-se ali o gabinete do presidente da Câmara à altura, António Costa, e chegava também a LARGO Residências, que se instalou num edifício central em pleno Largo do Intendente. Marta contrariou todos os conselhos que lhe foram dados durante a mudança para Lisboa porque tinha uma missão maior.
Em conjunto com outros atores no Intendente, comerciantes e agentes locais de longa data, fundaram ali aquela que ficou conhecida como “a sala de estar de Lisboa”.





No meio de uma cidade que ao longo da última década começou a debater-se com a valorização imobiliária e os fenómenos da gentrificação e turistificação, o Intendente parecia passar incólume. Era um exemplo de renovação urbana.
Mas, talvez, não pudesse durar para sempre.
No decorrer dos últimos anos, várias foram as notícias de que os contratos de arrendamento começavam a não ser renovados. Com os edifícios vendidos, os hotéis e apartamentos de luxo chegavam ao largo e as lojas foram sendo obrigadas a sair. A praça foi-se esvaziando – de projetos e de pessoas.
A LARGO Residências assistiu à não renovação do seu contrato de dez anos e foi obrigada a mudar-se também. Fizeram casa temporária no Quartel da GNR Cabeço da Bola (também conhecido como Quartel de Santa Bárbara), em Arroios, casa que partilharam com mais de 50 iniciativas culturais e sociais da cidade, abrindo este quartel a esta mesma cidade.

Um quartel que, sabendo-se sempre ser alternativa de pouca dura, fechou as portas ao público pela última vez no passado dia 1 de outubro – prevê-se que os projetos aqui alocados se mudem para o velho Hospital Miguel Bombarda nos próximos meses.
Foi deste mesmo quartel que partimos para falar do passado, presente e futuro do Intendente, semanas após mais o anúncio de um fim: o da Casa Independente.
O debate “O Intendente que Sonhamos” juntou dezenas de pessoas na plateia no passado dia 1, numa conversa moderada pela Mensagem e com a participação de Marta Silva, Patrícia Craveiro Lopes (co-fundadora e co-diretora da Casa Independente) e Tiago Mota Saraiva (arquiteto, urbanista e membro da direção da LARGO Residências).
Ouça o debate na íntegra aqui:




Fotos: Inês Leote

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Intende, como evoluiu neste século, positivo com espaço para convívio e lazer para moradores, aos poucos foi-se apagando os espaços que davam vida ao local… o que vai ser num futuro próximo, não sei, há um deixar apagar todo o trabalho investido na reabilitação do espaço.
Gostei imenso.
Conheci essa realidade no Hospital Júlio de Matos onde fui estagiária em 1972.
Obrigada.
Estagiei em Enfermagem.