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GIF: Inês Leote

As ruas de Lisboa estão num frenesim há várias semanas, a preparar um dos eventos que promete trazer mais pessoas para a cidade (e dos concelhos limítrofes), num curto e concentrado espaço de tempo: de 1 a 6 de agosto, acontece a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e a vinda do Papa Francisco. Só Lisboa pode vir a triplicar a sua população, com estimativas de visitantes que chegam aos 1,5 milhões de pessoas.

E, claro, haverá consequências para a vida dos lisboetas, para quem a cidade estará mais condicionada.

A 14 de julho, era apresentado o Plano de Mobilidade e Transportes para a JMJ, prevendo mudanças na circulação de transportes públicos, um plano de estacionamento e outro de tráfego e circulação.

Se é verdade que haverá reforço da rede de transportes públicos, também é verdade que haverá vida difícil para quem circula em Lisboa – de parques de estacionamento em que deixa de ser possível estacionar, a zonas da cidade onde apenas residentes e trabalhadores poderão circular e outras zonas, como a Avenida da Liberdade ou a Baixa, em que a circulação estará inteiramente interdita.

Eis o que se pode esperar:

Reforço de transportes

  • Autocarros da Carris reforçados com mais 1250 circulações (mais 119 mil lugares) durante a semana e com mais 4700 circulações (mais 429 mil lugares);
  • A CP/Fertagus vai ter mais 50 circulações durante a semana (mais 90 mil lugares) e mais 120 circulações durante o fim-de-semana (mais 170 mil lugares);
  • A Transtejo reforça os barcos em mais três circulações durante a semana (mais 2 mil lugares) e mais 50 circulações durante o fim-de-semana (mais 27 mil lugares);
  • O metro e metro de superfície aumenta 320 circulações durante a semana (143 mil lugares) e 390 circulações durante o fim-de-semana (mais 154 mil lugares);

Encerramentos e relocalizações

GIF: Inês Leote
  • Nos dias 1, 3 e 4 de agosto, as estações de metro da Avenida, Marquês de Pombal, Parque e e Restauradores estarão encerradas;
  • Nos dias 5 e 6 de agosto, as estações de comboio de Moscavide, Sacavém, Bobadela e Santa Iria estarão encerradas;
  • Durante o dia 1 a 6 de agosto, o terminal da Carris Metropolitana do Marquês de Pombal será relocalizado para a Rua Marquês Sá da Bandeira,
  • As linhas da Carris que servem as zonas delimitadas pelos perímetros de segurança ou em arruamentos estreitos, serão suprimidas ou alteradas;
  • Nos dias 1 a 3 e 6 de agosto, os ascensores da Bica, Glória e Lavra não estarão em funcionamento.

Os voluntários da JMJ serão transportados em shuttles rodoviários, com o apoio da Carris e da Carris Metropolitana.

Estacionamento

GIF: Inês Leote
  • Para quem vive e trabalha em Lisboa, há restrições previstas no estacionamento. A EMEL anunciou o encerramento de um parque de estacionamento próximo dos pastéis de Belém entre 26 de julho e 9 de agosto. Para os parques da empresa municipal localizados nas zonas identificadas a amarelo no mapa de restrições, o estacionamento não será possível, exceto para quem tenha assinatura mensal. Assim, de 31 de julho a 4 de agosto, não será possível estacionar nos parques Calçada do Combro, Campo das Cebolas, Chão do Loureiro, Parque Mayer e Sousa Pinto. Nos dias 5 e 6 de agosto, os parques do Lidl (Av.ª Infante D. Henrique) e dos Olivais (Av.ª de Pádua) terão restrições no acesso. Não estão, contudo, previstas restrições no estacionamento na via pública.
  • Estão a decorrer obras de preparação para acomodar os autocarros para os eventos centrais, na Alta de Lisboa (840 lugares) a na Zona Norte ao Campo da Graça (1000 lugares);
  • Foram identificados 2250 lugares de estacionamento no Terrapleno de Algés e ainda 14 locais adicionais que podem acomodar mais de 1900 lugares;
  • Foram identificados lugares de estacionamento específico para o evento no Jamor (3 mil lugares), Loures (2 mil lugares), Parque das Nações (400 lugares)
A amarelo, os parques EMEL encerrados durante a JMJ. A vermelho, o parque encerrado, em Belém. A verde, os dois parques com restrições no acesso, na zona oriental da cidade. Fonte: EMEL

Tráfego e circulação

Estão previstas restrições à circulação rodoviária em duas zonas principais da cidade:

  • Imediações Parque Eduardo VII, Avenida da Liberdade e Baixa;
  • Zona do Parque das Nações contígua ao Parque Tejo-Trancão;

No caso do centro da cidade, foram definidos três perímetros onde são esperadas restrições à circulação rodoviária: uma zona verde, uma zona amarela e uma zona vermelha.

Interdições ao trânsito nos dias 1, 3 e 4 de agosto. Fonte: Documento da Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros
Interdições ao trânsito nos dias 5 e 6 de agosto. Fonte: Documento da Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros

ZONA VERDE

  • Restrições pontuais, não havendo restrições à entrada de veículos.

ZONA AMARELA

  • A sul da Avenida de Berna e até ao rio, os dias 1, 3 e 4 de agosto vão ser de grandes restrições, garantindo-se a circulação rodoviária no perímetro a residentes, trabalhadores com declaração da entidade patronal, transportes públicos, táxis, automóveis com avenças de parques de estacionamento e tuk tuks;
  • Ainda a sul da Avenida de Berna, as cargas e descargas de veículos com mais de 3,5 toneladas devem acontecer entre as 24 e as 7 horas. Para veículos com menos peso, as operações de cargas e descargas podem ser feitas também entre as 7 e as 10 horas;
  • No perímetro amarelo do Parque das Nações, mais reduzido e com menos densidade de moradores e serviços, as mesmas restrições aplicam-se nos dias 5 e 6 de agosto, dias em que estão previstas cerimónias religiosas com a presença do Papa;

ZONA VERMELHA

Nestas zonas junto dos dois eventos principais vigora uma “restrição absoluta”. Será na zona à volta do Campo da Graça, depois do Parque das Nações, e do Parque Eduardo VII – Av. da Liberdade (exceto as laterais), Marquês de Pombal, rotunda interior, rua Castilho, Joaquim António de Aguiar, Marquês da Fronteira, Avenida António Augusto de Aguiar e Avenida Fontes Pereira de Melo, Baixa, Restauradores e Rossio, Praça do Comércio, até à Ribeira das Naus.

Aqui, anuncia a CML, a circulação poderá apenas acontecer “em determinadas situações”, a decidir pela Polícia de Segurança Pública, não se encontrando garantida a possibilidade de acesso a moradores, trabalhadores ou comerciantes.

Bicicletas e trotinetes com restrições?

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Ricardo Ferreira, da Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta (MUBi). GIF: Inês Leote

Numa nota a letra pequena deixada no documento assinado pela Direção Municipal de Mobilidade, a autarquia informava que “bicicletas [incluindo as do sistema público partilhado de Lisboa – GIRA] e trotinetas não poderão circular para e no interior do perímetro da Zona Amarela”. Mais tarde, a autarquia terá afirmado que assim não seria, assegurando que bicicletas e trotinetes poderão afinal circular no perímetro das zonas amarelas, desde que se tratem de moradores ou trabalhadores.

Ainda assim, as estações GIRA dentro dos perímetros amarelos estarão deverão estar encerradas durante os respetivos períodos de restrições, numa alteração de serviço que leva ao encerramento temporário de cerca de um terço das estações GIRA – das 146 estações, 53 estarão encerradas. Nestes perímetros, também não deverão encontrar-se disponíveis bicicletas ou trotinetes de operadores privados.

A impossibilidade de utilizar a bicicleta nestas zonas por parte de quem ali não reside ou trabalha foi criticada pela Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta (MUBi).

Em maio, a MUBi enviava um e-mail dirigido a Carlos Moedas, ao vice presidente da CML e responsável pelo pelouro da mobilidade, Filipe Anacoreta Correia, e à Fundação JMJ, responsável pela coordenação do evento. No texto enviado, a associação congratulava-se com a promoção das deslocações a pé no evento e sugeria a conjugação das deslocações pedonais com as deslocações em bicicleta como forma de as “pessoas chegarem ao evento de forma sustentável, económica e saudável”.

No mesmo texto, era pedida a concretização de ciclovias de ligação dos bairros da Portela e Encarnação ao Parque das Nações e o reforço das estações GIRA e de estacionamento para bicicletas na zona oriental da cidade e em redor do recinto, “de forma a facilitar os visitantes a usar a bicicleta para chegar ao evento”.

Ao final da tarde desta quarta-feira, após ter sido noticiada a proibição da circulação de bicicletas nas Zonas Amarelas, a MUBi enviou novo e-mail, dando conta do seu “espanto” perante a proibição proposta pela Câmara Municipal de Lisboa, quando dentro do perímetro continua a ser permitido “quase todo o tipo de tráfego, inclusive TukTuks”.

Para a associação, no decorrer da JMJ “deveria ser claro que a mobilidade ativa deveria ser o modo de transporte prioritário de deslocação e uma forma óbvia se aliviar o uso do transporte público, que será testado no limite da sua capacidade”.

Segundo a MUBi, “muitos voluntários planeavam deslocar-se de bicicleta durante as JMJ e com este anúncio terão muita dificuldade em desempenhar o seu trabalho, bem como muitas pessoas que habitualmente se deslocam de bicicleta em Lisboa terão limitações grandes no sua deslocação diária”, lê-se.


Frederico Raposo

Nasceu em Lisboa, há 30 anos, mas sempre fez a sua vida à porta da cidade. Raramente lá entrava. Foi quando iniciou a faculdade que começou a viver Lisboa. É uma cidade ainda por concretizar. Mais ou menos como as outras. Sustentável, progressista, com espaço e oportunidade para todas as pessoas – são ideias que moldam o seu passo pelas ruas. A forma como se desloca – quase sempre de bicicleta –, o uso que dá aos espaços, o jornalismo que produz.

frederico.raposo@amensagem.pt


Ana da Cunha

Nasceu no Porto, há 27 anos, mas desde 2019 que faz do Alfa Pendular a sua casa. Em Lisboa, descobriu o amor às histórias, ouvindo-as e contando-as na Avenida de Berna, na Universidade Nova de Lisboa.

ana.cunha@amensagem.pt


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2 Comentários

  1. É de lamentar que em Lisboa seja feita tanta restrição principalmente para quem tem de trabalhar na distribuição,já tuk-tuks e tvde podem circular á vontade,afinal estamos em que país onde não deixam fornecer os estabelecimentos a horas decentes,querem durante a noite?porquê?por acaso os mesmos estabelecimentos vão estar abertos?os particulares vão estar acordados á nossa espera?É uma vergonha o que vão fazer a esta cidade,vão causar o caos logo na altura em podíamos ter um mês em paz,quem está no poder nem comida devia receber para perceber a dificuldade que é tentar agradar e não nos deixarem,até caça á multa praticam,mas pronto já na pandemia foi igual,pois estavam sentadinhos no sofá enquanto os transportadores e os médicos davam o corpo ás balas para não faltar nada!reconhecimento…..zero….!pobre país que ainda acha que é de primeira linha

  2. Pedro, concordo a 100%. Primeiro os outros….damos uma Lisboa espectacular p fora e depois os nossos q estao ca todos os dias, trabalham todos os dias, q contribuem p o desenvolvimento desta cidade, sao tratados como sabemos…imaginem q afinal existem mais autocarros, qd ate aqui podia esperar se 40 minutos ou mais por um autocarro numa paragem…:)

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