Por estes dias, Lisboa está a transformar-se aos poucos: os trabalhadores do município e das 24 juntas de freguesia trabalham num frenesim – dentro dos seus escritórios, a ultimar planos; ou nas ruas, a consertar chuveiros, a construir instalações sanitárias temporárias ou a trabalhar no desafio que será a limpeza das ruas, de 1 a 6 de agosto, para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
Será um dos eventos a trazer mais pessoas para a cidade (e dos concelhos limítrofes), num curto e concentrado espaço de tempo: Lisboa pode vir a triplicar a sua população, com estimativas de visitantes que chegam aos 1,5 milhões de pessoas.
Mas, durante aquela semana, a vida dos lisboetas para viver e trabalhar vai estar mais condicionada. E a tolerância de ponto comunicada pelo Governo e pela Câmara Municipal de Lisboa para os trabalhadores públicos na cidade durante a Jornada está a ser encarada como uma tentativa de afastar as pessoas da cidade.
É apenas um dos primeiros sinais das dificuldades que quem vive e trabalha em Lisboa poderá viver em consequência da vinda do Papa a Portugal. Até porque para quem trabalha nestes dias a entrada nalguns locais da cidade estará dependente da apresentação de uma declaração da entidade patronal.
E aqueles que por norma são os dias mais tranquilos da cidade (sem trânsito, com boa parte das pessoas de férias e fora do concelho) poderão vir a tornar-se nos mais movimentados e caóticos.

Onde vão estar os dormitórios?
A necessidade de alojar centenas de milhares de pessoas levou à assinatura de protocolos entre a fundação responsável pela organização do evento e várias Juntas de Freguesia de Lisboa e dos concelhos limítrofes – sem compensações financeiras.
Lisboa cidade cedeu grande parte dos seus espaços comunitários, escolas, instalações sanitárias, equipamentos desportivos e até espaços públicos exteriores, como praças e miradouros – os equipamentos afetos à igreja católica não foram suficientes para tanta gente prevista.
Segundo a Câmara Municipal de Lisboa, prevê-se o alojamento de 42 mil pessoas em equipamentos e espaços maioritariamente públicos. Só as freguesias de Marvila e Benfica contam com uma capacidade instalada superior a dez mil.
A pernoita de centenas de milhares de peregrinos deu origem a um esforço sem precedentes: centenas de famílias prontificaram-se a receber peregrinos nas suas habitações. Mas o lado mais visível desta mobilização está na cedência de equipamentos e infraestruturas da cidade – em alguns casos por mais de duas semanas – e os encargos com eletricidade, água, gás e com artigos consumíveis de higiene que serão utilizados por peregrinos e voluntários em dezenas de instalações balneárias públicas de toda a cidade.
Em alguns casos, como acontece na Escola Eurico Gonçalves, na freguesia de Santa Clara, os balneários “estão a ser concebidos e construídos pelos próprios profissionais da junta, que comprará os materiais necessários”, esclarece a presidente da junta de freguesia, Maria da Graça Pinto Ferreira.
No caso da freguesia de Carnide, o impacto fez-se sentir cedo e de forma indireta: a realização das colónias de férias e as atividades dirigidas à população mais velha foram canceladas na altura da JMJ, por falta de disponibilidade de autocarros, noticiava a TSF em maio.
Na freguesia do Beato, a necessidade de reparação de balneários no Espaço Ideias – onde decorrem várias atividades desportivas e outras, como aulas de guitarra – as aulas de bicicleta tiveram de ser feitas noutro lugar no final do mês de maio.
Veja que espaços se estão a transformar para serem dormitórios:

São várias as escolas da cidade one vão pernoitar os peregrinos e voluntários. A Escola Secundária do Lumiar é uma das que tem maior capacidade de acolhimento, para 833 peregrinos. A Escola Secundária Fonseca de Benevides, em Alcântara, entre dois ginásios, refeitório e salas de aula, receberá 624 peregrinos. Na mesma freguesia, o Pavilhão Desportivo vai ter 800 peregrinos.
Com o objetivo de perceber a dimensão do esforço feito pela cidade em parceria com a organização do evento religioso, a Mensagem contactou as 24 juntas de freguesia da cidade. Responderam, até à data de publicação, 18 freguesias.
Em baixo, entre locais de pernoita e de utilização diária, partilhamos alguns dos locais que acolhem peregrinos e voluntários durante a JMJ:

Alcântara
- Escola Secundária Fonseca de Benevides – 624 peregrinos
- Escola Secundária Rainha Dona Amélia – 526 peregrinos
- Escola Básica Raúl Lino – 95 peregrinos
- Escola Básica Homero Serpa – 80 peregrinos
- Pavilhão Desportivo de Alcântara – 800 peregrinos
- Salão da Junta de Freguesia de Alcântara
- Balneário Público de Alcântara
Arroios
- Auditório Mercado das Culturas
- Ginásio da Pena
- Jardim da Praça José Fontana
- Largo do Intendente
Santa Maria Maior
- EB1/JI Maria Barroso – 121 peregrinos
Misericórdia
- Ginásio de São Paulo
- Ginásio de São Marçal
- Parque Polivalente de Santa Catarina
- Miradouro S. Pedro de Alcântara
- Largo Trindade Coelho
- Largo do Corpo Santo
1200 peregrinos (estimativa da Junta de Freguesia da Misericórdia)
Estrela
- Estabelecimentos escolares
- Pavilhão
- Salão Nobre
Marvila
- Estabelecimentos escolares
- Pavilhões
- Salão de festas
- Clube Oriental de Lisboa
5000 peregrinos e voluntários (estimativa da Junta de Freguesia de Marvila)
Penha de França
- Escola Nuno Gonçalves
- Escola Vítor Palla
- Escola Patrício Prazeres
- Escola Oliveira Marques
- Salão do Clube de Futebol Varejense
- Centro de Educação e Desenvolvimento D. Maria Pia
- Espaço Multiusos da Junta de Freguesia de Penha de França
- Salão da Igreja da Penha de França
- Centro Social e Paroquial da Penha de França
- Centro Social e Paroquial São Francisco de Assis
- Associação Penha França
- Colégio Externato Mãe de Deus
- Obra de Santa Zita
- Escola Ator Vale
- Escola António Arroio
3257 peregrinos e voluntários (dados fornecidos pela Junta de Freguesia de Penha de França)
Santa Clara
- Escola Eurico Gonçalves – 160 peregrinos
Avenidas Novas
- Pavilhão Avenidas Novas – 300 peregrinos
- Escola Mestre Arnaldo Louro de Almeida (MALA) – 70 peregrinos
- Liceu D. Pedro V – 500 peregrinos
- Complexo de piscinas de Avenidas Novas, para apoio na higiene de 500 peregrinos
- Polidesportivo da Rua Filipe da Mata para apoio na higiene de 150 peregrinos
São Domingos de Benfica
- Delegação das Laranjeiras, na Rua Lúcio de Azevedo – 60 peregrinos
- Escolas EB da freguesia
Benfica
- Estabelecimentos escolares
- Complexo desportivo da Junta de Freguesia de Benfica
- Complexo desportivo do Bairro da Boavista
- Paróquia
- Espaço verde Quinta da Granja para realização de evento Rise up, com capacidade para até 10 mil pessoas
5500 peregrinos (estimativa da Junta de Freguesia de Benfica)
Carnide
- Pavilhão Desportivo do Bairro Padre Cruz
- Espaço Comunitário
- Espassus 3G
- Escola EB 2,3 do Bairro Padre Cruz
- Associação Amigos da Luz
- Convento de Santa Teresa
- Igreja da Luz
- Externato da Luz
- Jardim da Luz
Lumiar
- Escola Básica Dr. Nuno Cordeiro Ferreira – 167 peregrinos
- Escola Básica Lindley Cintra – 484 peregrinos
- Escola Básica Quinta dos Frades – 259 peregrinos
- Escola Secundária do Lumiar – 833 peregrinos
- Jardim de Infância do Lumiar – 126 peregrinos
- Escola Básica São Vicente – 500 peregrinos
- Escola Básica 2/3 Telheiras (Mário Chicó) – 416 peregrinos
- Escola Básica do Lumiar (Alto da Faia ) – 259 peregrinos
- Escola Básica de Telheiras – 267 peregrinos
- Espaço do Metropolitano de Lisboa nas Calvanas – 700 peregrinos
- Campus Académico do Lumiar (ISEC Lisboa) – 450 peregrinos
- Galeria Liminare
- Pavilhão Alto do Faia
- Centro de Artes e Formação do Bairro da Cruz Vermelha
Beato
- Polidesportivo da Mata da Madre de Deus
- Espaço Ideias
- Dois balneários públicos, na Quinta dos Ourives e na Rua Gualdim Pais
- EB1 da Madre de Deus, EB1 do Beato, EB1 Engenheiro Duarte Pacheco, EB2.3 Luís António Vernay e EB2.3 da Olaias
- Paróquia do Espírito Santo (na zona da Picheleira) e Paróquia de São Bartolomeu do Beato
3500 peregrinos e voluntários (estimativa da Junta de Freguesia do Beato)
São Vicente
- Pavilhão Castelbranco
- Ginásio do nosso Polo Clínico
- Mercado de Santa Clara
Campolide
- Escola Mestre Querubim Lapa
Coube à Câmara Municipal de Lisboa e à empresa pública Parque Escolar a decisão de ceder espaços escolares e outros equipamentos municipais. No caso das juntas, a cedência deu-se através de protocolos aprovados em assembleia de freguesia, contemplando vários espaços e equipamentos sob sua gestão, como complexos desportivos, espaços verdes ou espaços comunitários.
Também o Metropolitano de Lisboa, tutelado pelo governo, cedeu um espaço no seu parque de material e oficinas localizado nas Calvanas, com capacidade para receber 700 peregrinos.
São ainda vários os espaços públicos e verdes da cidade que estarão cedidos à organização da JMJ durante a primeira semana de agosto. Entre estes, contam-se o jardim da Praça José Fontana, perto do Saldanha, a Alameda Dom Afonso Henriques, o Jardim Vasco da Gama, em Belém, o Largo do Intendente Pina Manique, em Arroios, o Miradouro de São Pedro de Alcântara, na Misericórdia, o Largo do Corpo Santo ou o Largo Trindade Coelho, na mesma freguesia. Apesar de cedidos à organização do evento, não são esperadas medidas de restrição no acesso aos espaços.

E o lixo?
O lixo produzido pelos peregrinos na JMJ é motivo de preocupação e são várias as juntas de freguesia a dar conta do reforço de equipas e do redobrar de esforços para fazer face ao aumento substancial dos resíduos gerados.
À Mensagem, a Câmara Municipal de Lisboa afirmou prever um aumento de “30 a 50%” das 900 toneladas de lixo que são recolhidas diariamente durante a semana de 31 de julho a 6 de agosto. Tendo isso em conta, desenvolveu um Plano de Gestão de Resíduos, com os serviços a funcionarem 24/7 a partir do dia 24 de julho até 11 de agosto.
Para além dos 1.200 funcionários do Departamento de Higiene urbana, a CML diz ter contratado temporariamente mais 300 pessoas, criando ainda um sistema paralelo e temporário de deposição de resíduos através de contentores de grande capacidade (20 a 28M3) e também de pequena dimensão (120 e 240L). Estes equipamentos temporários serão instalados nos locais na semana de 24 a 28 julho.
Para os peregrinos, serão disponibilizados, nos locais de pernoita, contentores para os diferentes resíduos: biorresíduos, papel/cartão, embalagens de plástico e indiferenciados.
Em Campo de Ourique, a junta revela a antecipação da “aquisição de dois veículos elétricos de apoio à limpeza do espaço público” e sublinha a articulação com o departamento de higiene urbana da CML para assegurar o reforço da capacidade operacional de recolha e acondicionamento de resídduos na freguesia. Haverá informações bilingues para “esclarecer os peregrinos sobre a melhor forma de acautelar o lixo produzido” e distribuídos 500 cinzeiros portáteis para tentar reduzir as beatas no chão.
O esforço adicional teve consequências na vida dos trabalhadores: as férias da equipa de cantoneiros e de trabalhadores afetos à higiene urbana da freguesia foram “recalendarizadas para outros períodos dos meses de verão”, assume a junta, “com vista a assegurar a disponibilidade do máximo número de efetivos e a máxima eficácia de todo o dispositivo”.
Na Penha de França, será feito um reforço de contentores nos locais de acolhimento de peregrinos e voluntários e, avança a junta, serão criadas “rotas de limpeza consecutiva”, abrangendo as 24 horas do dia.
Transportes e trânsito
O Plano de Mobilidade e Transportes para a JMJ foi apresentando esta sexta-feira, com mudanças para os transportes públicos, um plano de estacionamento, outro de tráfego e circulação.
Eis o que se pode esperar:
Reforço de transportes
- Autocarros da Carris reforçados com mais 1250 circulações (mais 119 mil lugares) durante a semana e com mais 4700 circulações (mais 429 mil lugares);
- A CP/Fertagus vai ter mais 50 circulações durante a semana (mais 90 mil lugares) e mais 120 circulações durante o fim-de-semana (mais 170 mil lugares);
- A Transtejo reforça os barcos reforçados em mais três circulações durante a semana (mais 2 mil lugares) e mais 50 circulações durante o fim-de-semana (mais 27 mil lugares);
- O metro e metro de superfície aumenta 320 circulações durante a semana (143 mil lugares) e 390 circulações durante o fim-de-semana (mais 154 mil lugares);
Encerramentos e relocalizações
- Nos dias 1, 3 e 4 de agosto, as estações de metro da Avenida, Marquês de Pombal, Parque e e Restauradores estarão encerradas;
- Nos dias 5 e 6 de agosto, as estações de comboio de Moscavide, Sacavém, Bobadela e Santa Iria estarão encerradas;
- Durante o dia 1 a 6 de agosto, o terminal da Carris Metropolitana do Marquês de Pombal será relocalizado para a Rua Marquês Sá da Bandeira,
- As linhas da Carris que servem as zonas delimitadas pelos perímetros de segurança ou em arruamentos estreitos, serão suprimidas ou alteradas;
- Nos dias 1 a 3 e 6 de agosto, os ascensores da Bica, Glória e Lavra não estarão em funcionamento;
Os voluntários da JMJ serão transportados em shuttles rodoviários, com o apoio da Carris e da Carris Metropolitana.
Estacionamento
- Estão a decorrer obras de preparação para acomodar os autocarros para os eventos centrais, na Alta de Lisboa (840 lugares) a na Zona Norte ao Campo da Graça (1000 lugares);
- Foram identificados 2250 lugares de estacionamento no Terrapleno de Algés e ainda 14 locais adicionais que podem acomodar mais de 1900 lugares;
- Foram identificados lugares de estacionamento específico para o evento no Jamor (3 mil lugares), Loures (2 mil lugares), Parque das Nações (400 lugares);
Tráfego e circulação
Restrições à circulação rodoviária em duas zonas principais da cidade:
- Imediações Parque Eduardo VII, Avenida da Liberdade e Baixa;
- Zona do Parque das Nações contígua ao Parque Tejo-Trancão;
No caso do centro da cidade, foram definidos três perímetros onde são esperadas restrições à circulação rodoviária: uma zona verde, uma zona amarela e uma zona vermelha.
ZONA VERDE
- Restrições pontuais, não havendo restrições à entrada de veículos.
ZONA AMARELA
- A sul da Avenida de Berna e até ao rio, os dias 1, 3 e 4 de agosto vão ser de grandes restrições, garantindo-se a circulação rodoviária no perímetro a residentes, trabalhadores com declaração da entidade patronal, transportes públicos, táxis, automóveis com avenças de parques de estacionamento e tuk tuks;
- Ainda a sul da Avenida de Berna, as cargas e descargas de veículos com mais de 3,5 toneladas devem acontecer entre as 24 e as 7 horas. Para veículos com menos peso, as operações de cargas e descargas podem ser feitas também entre as 7 e as 10 horas;
- No perímetro amarelo do Parque das Nações, mais reduzido e com menos densidade de moradores e serviços, as mesmas restrições aplicam-se nos dias 5 e 6 de agosto, dias em que estão previstas cerimónias religiosas com a presença do Papa;
ZONA VERMELHA
Nestas zonas junto dos dois eventos principais vigora uma “restrição absoluta”. Será na zona à volta do Campo da Graça, depois do Parque das Nações, e do Parque Eduardo VII – Av. da Liberdade (exceto as laterais), Marquês de Pombal, rotunda interior, rua Castilho, Joaquim António de Aguiar, Marquês da Fronteira, Avenida António Augusto de Aguiar e Avenida Fontes Pereira de Melo, Baixa, Restauradores e Rossio, Praça do Comércio, até à Ribeira das Naus.
Aqui, anuncia a CML, a circulação poderá apenas acontecer “em determinadas situações”, a decidir pela Polícia de Segurança Pública, não se encontrando garantida a possibilidade de acesso a moradores, trabalhadores ou comerciantes.


Bicicletas e trotinetes públicas não entram
Numa nota a letra pequena deixada no documento assinado pela Direção Municipal de Mobilidade, a autarquia informava que “bicicletas [incluindo as do sistema público partilhado de Lisboa – GIRA] e trotinetas não poderão circular para e no interior do perímetro da Zona Amarela”.
Esta proibição acontecia no mesmo perímetro em que é possível a moradores, trabalhadores e cargas e descargas acederem com recurso a outros veículos, motorizados ou não.
A discriminação já foi criticada pela Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta (MUBi) e tem sido alvo de comentário nas redes sociais.
Em maio, a MUBi enviava um e-mail dirigido a Carlos Moedas, ao vice presidente da CML e responsável pelo pelouro da mobilidade, Filipe Anacoreta Correia, e à Fundação JMJ, responsável pela coordenação do evento. No texto enviado, a associação congratulava-se com a promoção das deslocações a pé no evento e sugeria a conjugação das deslocações pedonais com as deslocações em bicicleta como forma de as “pessoas chegarem ao evento de forma sustentável, económica e saudável”.
No mesmo texto, era pedida a concretização de ciclovias de ligação dos bairros da Portela e Encarnação ao Parque das Nações e o reforço das estações GIRA e de estacionamento para bicicletas na zona oriental da cidade e em redor do recinto, “de forma a facilitar os visitantes a usar a bicicleta para chegar ao evento”.
Ao final da tarde desta quarta-feira, após ter sido noticiada a proibição da circulação de bicicletas nas Zonas Amarelas, a MUBi enviou novo e-mail, dando conta do seu “espanto” perante a proibição proposta pela Câmara Municipal de Lisboa, quando dentro do perímetro continua a ser permitido “quase todo o tipo de tráfego, inclusive tuk tuks”.
Para a associação, no decorrer da JMJ “deveria ser claro que a mobilidade ativa deveria ser o modo de transporte prioritário de deslocação e uma forma óbvia se aliviar o uso do transporte público, que será testado no limite da sua capacidade”.
Segundo a MUBi, “muitos voluntários planeavam deslocar-se de bicicleta durante as JMJ e com este anúncio terão muita dificuldade em desempenhar o seu trabalho, bem como muitas pessoas que habitualmente se deslocam de bicicleta em Lisboa terão limitações grandes no sua deslocação diária”, lê-se.
Segundo o site Lisboa para Pessoas, a circulação de bicicletas próprias poderá fazer-se na zona amarela – restrita a utilização de moradores ou trabalhadores.

Nem a hotelaria nem o comércio vão ser o que eram
Para estimar o impacto económico potencial do evento na cidade, a consultora PwC considerou um gasto referência de 65% do gasto médio de um turista em Lisboa. Para os peregrinos inscritos, são estimados gastos totais de entre 47 milhões a 69 milhões de euros e para os não inscritos de 49 milhões de euros a 73 milhões de euros.
O estudo da PwC divulgado este mês dá conta da presença de até 328 mil peregrinos inscritos não residentes em Portugal. Mas o valor total de peregrinos e visitantes poderá exceder largamente o valor total das inscrições, já que o registo não é obrigatório. Segundo a consultora, o número de não inscritos poderá ser de 340 mil a 415 mil.
Para Tiago Quaresma, vice-presidente da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) (e sócio fundador da Mensagem), “o maior equívoco da Jornada tem que ver com o calendário”. Considera que o evento não vem aumentar a procura registada nos setores da restauração e hotelaria em Lisboa e aponta alguns fatores que podem levar até a um menor entusiasmo económico com o grande evento.
“Já haveria muita procura, não só em Lisboa, como em todo o país, e a Jornada vem apenas substituir a procura por clientes menos qualificados. Nesse aspeto, tenho dúvidas do benefício direto para a cidade e para todo o território”.
E o efeito do evento sobre o comércio, no país e na Área Metropolitana de Lisboa, poderá não ser tão auspicioso quanto o inicialmente pensado. “Em Lisboa, haverá algum efeito de substituição, mas noutros locais a JMJ vai secar o comércio em pleno mês de agosto. Acredito que os rent a cars e hotéis vão ganhar, mas o comércio vai sofrer”.
A justificação está, diz Tiago Quaresma, no poder de compra dos visitantes do evento que vão substituir os turistas habituais nesta altura do ano. “A perspetiva é simples: já ia haver consumo, o consumo já ia cá estar. Agora, vamos trocar seis pessoas por meia dúzia, mas terão poder de compra menos qualificado.”
Apesar de reconhecer o “mérito” do evento, por “colocar Lisboa e Portugal nas bocas do mundo e trazer benefícios de reputação ao país”, considera que em Lisboa o impacto poderá ser geograficamente desigual.
“A JMJ, tal como a Web Summit, traz uma concentração em excesso em determinadas áreas da cidade, e por isso áreas como Sintra, Cascais, Belém, ficam a perder. A diferença é que a Web Summit acontece em novembro, e portanto as camas vazias acabam por ser ocupadas”. Agora, poderá haver camas que ficam vazias, dentro e fora de Lisboa.
Talvez por isso tenha sido apresentada esta quarta-feira uma campanha de descontos na hotelaria por parte de uma centena de hotéis de todo o país, num acordo entre a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) e a organização da JMJ. A poucos dias do evento religioso, serão oferecidos descontos de até 20% nas tarifas, referidos como “um mimo”, aos visitantes da JMJ.
40,2 milhões investidos pela cidade.
O que fica para depois?
Segundo dados enviados pela autarquia ao Dinheiro Vivo, a Câmara Municipal de Lisboa vai injetar mais 6,6 milhões de euros no orçamento global do evento, perfazendo assim um total de 40,2 milhões de euros – já são mais 5,2 milhões do que o total previsto (35 milhões). De acordo com a mesma notícia, este valor extra destina-se a melhorar a higiene urbana da cidade – investimento que, diz a Câmara Municipal, se manterá depois da JMJ.
Mas a cidade continua a questionar-se sobre qual a herança da Jornada: assim que o Papa regressar ao Vaticano e os peregrinos saírem da cidade, o que fica para os lisboetas?
A maior das fatias do investimento e a maior herança será o Parque Urbano Tejo-Trancão, num espaço verde que é partilhado entre os concelhos de Lisboa e Loures. Para este espaço, com capacidade para acolher eventos de grande dimensão e centenas de milhares de pessoas, terá sido investido um valor inferior aos 21,5 milhões de euros apontados em janeiro pelo município, já que o custo do palco altar terá descido cerca de 30%, passando de 4,2 milhões de euros para 2,9 milhões de euros.
Para a conta que perfaz o investimento total neste espaço verde, incluem-se:
- 7,1 milhões de euros na reabilitação do aterro sanitário de Beirolas,
- 4,2 milhões de euros para a ponte pedonal e ciclável sobre o rio Trancão, numa obra adjudicada pela EMEL,
- e 3,3 milhões de euros para infraestruturas de saneamento.
A ponte, tal como o parque, será uma obra que ficará para a cidade, mas há vários outros milhões de euros em colocação de palcos e infraestruturas temporárias, bem como custos suportados pelas juntas de freguesia, que podem não ter aproveitamento futuro.
À TSF, Carlos Moedas afirmou que dos 35 milhões inicialmente investidos, 25 ficariam para a cidade. “Com esta oportunidade conseguimos comprar equipamento que vai ficar para a cidade. Foram sete milhões de euros para os bombeiros, para a polícia municipal, para a Proteção Civil. São oito mil contentores de lixo que comprámos e que vão ficar para a cidade e, portanto, todo este reforço do orçamento vai ficar para a cidade”, explicou.

Frederico Raposo
Nasceu em Lisboa, há 30 anos, mas sempre fez a sua vida à porta da cidade. Raramente lá entrava. Foi quando iniciou a faculdade que começou a viver Lisboa. É uma cidade ainda por concretizar. Mais ou menos como as outras. Sustentável, progressista, com espaço e oportunidade para todas as pessoas – são ideias que moldam o seu passo pelas ruas. A forma como se desloca – quase sempre de bicicleta –, o uso que dá aos espaços, o jornalismo que produz.
✉ frederico.raposo@amensagem.pt

Ana da Cunha
Nasceu no Porto, há 26 anos, mas desde 2019 que faz do Alfa Pendular a sua casa. Em Lisboa, descobriu o amor às histórias, ouvindo-as e contando-as na Avenida de Berna, na Universidade Nova de Lisboa.
✉ ana.cunha@amensagem.pt

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Se pessoas precisam rituaís para lidar com a vida, muito bem. Quando querem rezar para estruturar os pensamentos, ótimo. Para esperitualidade não são precisas palcos e um homem num fato branco a contar contos de fadas.
Este circo não presta para nada, não existe deus então quem é este homem para que estão a construir um palco?
Sinceramente um grande perde de dinheiro
É o preço da democracia: temos que “levar” com estes trogloditas e fazer de conta que respeitamos as suas opiniões; tudo em nome da liberdade de expressão.
Concordo numa coisa com o comentador de cima: seria preciso mais educação, para duas coisas: ensinar a pessoas como ele a escrever decentemente e sem erros tremendos e também que lá porque uma pessoa não gosta ou não acredita numa coisa (ou num ente, neste caso em Deus), não tem o direito de retirar essa crença e respectiva comunhão de encontros aos outros, ainda para mais exprimindo ideias absurdas numa escrita deplorável. Infelizmente, há muito quem goste de “proibir” só porque não gosta.
Sou católica de educação. O Programa das Jornadas jé é complexo. Acho um perfeito exagero toda a programação cultural por toda a Lisboa, que ainda torna mais dificil a vida aos lisboetas e encarece o orçamento das Jornadas