Entre sombras, copas e raízes já conhecidas por todos os presentes, curiosos por pormenores, fomos guiados pelas “mães” que a natureza não deu a estes plátanos, ceibas e araucarias: Ana Júlia Francisco, botânica da Câmara Municipal de Lisboa, e Bianca Castro, a autora do diário do cedro que jaz no Jardim do Príncipe Real há mais de 150 anos – a história que deu o mote para este evento: um passeio organizado pela Mensagem para dar a conhecer as várias joias verdes deste jardim da cidade, no passado 16 de julho.
Se é verdade que o cedro é cuidado como o bebé daquele jardim, também não passa despercebida a atenção que outras cascas e pernadas recebem de Ana e Bianca (embora uma árvore classificada irá receber sempre mais mimo – pelo menos, oficialmente, garantem).





Falamos de como o estatuto das árvores se altera quando chega a idade de reforma e perdem capacidades. Mas mesmo uma casca enrugada precisará de cuidado: uma ceiba do Príncipe Real, que em tempos seria bicéfala, perdeu uma das suas “cabeças” e isso terá sido motivo para a perda de classificação na reavaliação feita pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) em 2016.
Não deixa de ser, contudo, uma das árvores de maior porte e que abraça o teto do café ao centro do jardim. Ainda é das mais mimadas pelas equipas de intervenção, a maior preocupação durante tempestades pela altura que atinge.
O seu novo estatuto impede apenas que sejam feitos tratamentos ou podas sem uma equipa do ICNF presente, já que é preciso uma grua subir 28 metros para a retocar.
Querer cuidar de uma árvore naquele jardim não é assim tão simples, chega a ser preciso recomendar os serviços municipais para que “não mexam, não toquem, nem cortem”. E ainda que Bianca se dedique mais ao cedro, não deixa de ser “ama” das restantes árvores do jardim.
O que ela nos lembrou é como podemos todos sê-lo:
- Não sentando nos grandes nós das raízes das Auraucaria;
- Não abanar ou ficar suspensão na proteção de ferro do Cedro;
- Não perturbar o crescimento de ramos ou pernadas das árvores mais baixas.
Assim, a luz de Lisboa poderá fazer do jardim um Príncipe Real durante tanto tempo quanto preservarmos as joias da sua coroa. E neste passeio ficámos a conhecê-las melhor.


Inês Leote
Nasceu em Lisboa, mas regressou ao Algarve aos seis dias de idade e só se deu à cidade que a apaixona 18 anos depois para estudar. Agora tem 23, gosta de fotografar pessoas e emoções e as ruas são o seu conforto, principalmente as da Lisboa que sempre quis sua. Não vê a fotografia sem a palavra e não se vê sem as duas. É fotojornalista e responsável pelas redes sociais na Mensagem.

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