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O escritor argentino Aberto Manguel mora agora em Lisboa, cidade a que doou a sua bibioteca de mais de 40 mil livros que ficará no Centro de Estudos de História da Leitura (CEHL), no Palacete dos Marqueses de Pombal, na Rua das Janelas Verdes – cedido pela CML.

Esta entrevista foi publicada em francês e espanhol, na revista Le Grand Continent do Groupe d’Etudes Géopolitiques, e cedida à Mensagem de Lisboa para publicação exclusiva em Portugal.

Manguel fala da sua Lisboa, dá uma nova – e mais otimista – perspetiva da saudade e da “alma portuguesa” refletida na cidade… e nos seus livros – e anuncia a sua biblioteca para 2024, pela primeira vez.

Podemos dizer que Lisboa é uma cidade literária?

Sim, Lisboa é definitivamente uma cidade literária. Não só graças às muitas livrarias e leitores que tem, mas também aos escritores que aqui vivem. Sei que as estatísticas me contradizem e dizem que há poucos leitores, mas as pessoas que conheço no mercado ou num café estão muito interessadas em ler.

A Feira do Livro de Lisboa está sempre cheia. As estatísticas podem não refletir com precisão o clima cultural nesta cidade e neste país.

Acha que há um livro em particular que descreve bem a cidade de Lisboa?

Os livros que melhor refletem Lisboa são os que se passam na ditadura, como os romances de Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis, ou Afirma Pereira, de António Tabucchi. Descrevem muito bem a cidade de Lisboa na atmosfera da ditadura. Também gosto de jovens autores como Rui Couceiro que escreveu um romance sobre uma aldeia no Alentejo, Teresa Veiga, que tem histórias em Lisboa, Matilde Campilho que também criou textos maravilhosos sobre Lisboa. Mas não conheço um que seja o equivalente a um romance de Dickens sobre Londres ou romance de Manuel Puig sobre Buenos Aires. Talvez seja a minha ignorância, mas os autores que descubro falam de muitos lugares em Portugal, sem que o enredo tenha lugar especificamente na cidade de Lisboa.

Qual é o melhor lugar para ler ou escrever em Lisboa?

Gosto muito de um lugar onde vou todos os domingos de manhã. Portugal tem cafés maravilhosos com quiosques e esplanadas. O meu quiosque favorito é perto do miradouro do Adamastor. Ao amanhecer, pode ver-se os barcos navegando. Sento-me lá todos os domingos de manhã às 9:00 para beber um expresso duplo e comer torradas com manteiga. Sento-me, leio, tomo notas e escrevo. Esta é a época mais pacífica da semana para mim.

Tem alguma memória literária em particular em Lisboa?

A estátua que representa o Adamastor, o gigante das tempestades, evoca a figura mítica criada por Camões. Nos Lusíadas define, de certa forma, o sentimento épico e heroico que ainda existe nas profundezas da alma portuguesa. Obviamente, depois do colonialismo e da noção dos horrores cometidos, Camões passou a ser visto de forma diferente. Mas continuo a achar que é um importante poeta da história portuguesa pela sua extraordinária imaginação.

O Adamastor em Santa Catarina. Foto CML

Qual foi o seu primeiro encontro com Lisboa? Foi precisamente através da literatura?

Sim, foi através da literatura. Formamos uma geografia imaginária feita de lugares reais, claro, mas também de lugares fictícios. E esta biografia geográfica é construída através de experiências vividas e imaginadas. Surpreendentemente, a minha Lisboa fazia parte daquilo a que os franceses chamam de “imaginário”. E é curioso ver como na minha idade – tenho agora 74 anos – há de repente um encontro entre um indivíduo e um lugar que o define, com força.

Antes de me mudar, viajei várias vezes para Lisboa para participar em conferências organizadas pela Fundação Gulbenkian em particular. Mas não conhecia bem a cidade. Ficava entre o meu hotel e a Fundação, sem realmente descobrir a cidade.

Quando me mudei de França para Nova Iorque, todos os meus livros permaneceram em caixas no Canadá. Perguntava-me quando é que estes livros encontrariam o seu lugar numa biblioteca. E como acontece frequentemente, pelo menos, como acontece comigo, a vida é feita de acontecimentos inesperados e inéditos. Recebi um convite do presidente da Câmara Municipal de Lisboa para expor a minha biblioteca em Portugal.

Manguel com Fernando Medina, na cerimónia da doação. Foto: CML

Recebi outras ofertas da Cidade do México, Istambul ou Quebec. Mas todos estes projetos falharam por razões burocráticas, económicas e outras. O Fernando Medina ofereceu-me um dos muitos palácios do município. Escolhi um belo palácio do Marquês de Pombal datado do século XIX. A minha doação foi aceite em setembro de 2020 e, desde então, é aqui que vivo. A pandemia não era uma boa altura para descobrir a cidade, mas gradualmente conheci uma cidade extraordinária com características muito especiais numa sociedade que talvez seja uma das últimas democracias do mundo.

Diz que aceitou a proposta de Lisboa “sem grande convicção”… Foi por causa dos fracassos anteriores? Ou tinha preconceitos sobre a cidade?

Não tinha preconceitos sobre Lisboa. A burocracia preocupa-me porque é um mecanismo de colocação de obstáculos. Não fazia ideia de como seria a vida em Lisboa. Guardei uma vaga memória da literatura galaico-portuguesa e de alguns autores como Pessoa, Saramago, Lobo Antunes, a quem admiro muito e que escrevi sobre o Império Português e o seu colapso. Na altura, não havia nada que me permitisse contruir um retrato da cidade.

De todos os lugares que visitou, por que escolheu falar sobre Lisboa?

Talvez porque o último amor é o que tem mais força. Sei que a mitologia dita que o nosso primeiro amor é aquele que define a nossa relação com o mundo, mas não acho que seja esse o meu caso. Tenho uma grande afeição pelos lugares onde vivi, mas já não existem como os conhecia: o Buenos Aires da minha adolescência é uma invenção minha; a Paris do final dos anos 60-1970 já não existe; Veneza ainda lá está, mesmo que não tenha vivido lá. Alguns lugares fazem parte desta geografia imaginária de que falei. O que senti com Lisboa é semelhante ao que experimentei quando cheguei ao Canadá no início dos anos 80. Era um país de que nada sei e descobri uma sociedade em que acreditava; uma sociedade democrática e ativa, interessada nas artes.

Mas o Canadá pertence ao meu passado e o meu presente está agora em Portugal. Encontrei a mesma generosidade e nobreza de espírito, um certo sentido de honra que associamos à era feudal. Não há nada pior para um português do que uma mentira ou a rudeza. Os portugueses não gostam de investir dinheiro. Quando vou aos comerciantes do meu bairro, tenho dificuldade em pagar porque eles começam uma conversa sobre cultura, ou os últimos movimentos sociais… Tenho sempre de encontrar estratégias para pagar e que as minhas dívidas não se acumulem.

Lisboa é uma cidade tranquila que se adequa ao meu ritmo de vida. É uma cidade com muitas colinas, muito mais do que Roma. Isto permite-me fazer exercício e manter-me em forma. Os portugueses centenários sobem e descem as ruas de Lisboa a toda a velocidade, como cabras. Estou a habituar-me gradualmente a este exercício de que gosto muito.

O tempo está esplêndido. Mesmo quando chove, as chuvas podem ser muito agradáveis, terminam muito rapidamente e o sol reaparece sempre. Lisboa ilumina-se então, adornada com as suas extraordinárias cores. Não conheço azul como o dos azulejos de Lisboa, nem amarelo e rosa equivalente às cores das fachadas dos becos da cidade. Sinto-me muito confortável aqui. Aprendi a não me apressar e a contemplar o que me rodeia.

A vantagem de viver numa sociedade que não está com pressa é que os infortúnios do mundo chegam aqui com atraso. Todos os disparates que prevalecem nos Estados Unidos, por exemplo, o clima de censura académica, fake news, etc. Tudo isto também afeta a sociedade portuguesa, mas em menor grau. O partido de extrema-direita surgiu muito tarde na cena política portuguesa e a sua votação continua muito baixa.

Como todas as sociedades, Portugal tem, naturalmente, algumas desvantagens. Por exemplo, a administração é muito lenta. No entanto, ao contrário das administrações italiana, argentina ou turca que também conheço, se um português lhe disser que fará alguma coisa, mesmo que leve tempo, pode ter a certeza de que o fará. Tivemos de esperar dois anos para que os trabalhos de renovação para a criação de um Espaço Atlantis de história da leitura começassem. Estamos a planear uma inauguração em 2024.

Tem que se ser paciente aqui. Em Portugal, a impaciência está associada à rudeza. Todas as conversas devem começar com uma saudação e depois com “como estás” ou “como está a tua família”. Só depois de trocarmos estas poucas fórmulas educadas é que podemos passar ao tema que nos interessa.

Alberto Manguel numa conferência na Câmara de Lisboa, sobre os prémios Nobel. Foto: CML

Sente que Lisboa o mudou, que também o transformou numa espécie de “cabra” capaz de escalar tudo?

Sim, do ponto de vista físico, sinto-me muito melhor. De um ponto de vista espiritual, estou a aprender a ser paciente como a compota, algo que nunca tinha sido antes na minha vida. Agora sou a pessoa menos impaciente que conheço. Vivo num bairro histórico de Lisboa entre o Chiado, que é o centro turístico, e Santos, que é o bairro onde se situa o Palácio do Marquês de Pombal.

Neste bairro há muitas livrarias, o que mostra que Lisboa é uma cidade apaixonada pela cultura. Ainda há muitas livrarias antigas chamadas “alfarrabistas” em português, talvez em homenagem a Al-Farabi, o filósofo árabe. Nestes locais, é possível ter trocas reais. Sempre tive uma aversão a conversas nas livrarias. Quero ser deixado em paz, poder olhar para as prateleiras, folhear livros. Mas aqui, por outro lado, os livreiros falam comigo de uma forma tão gentil e inteligente e guiam para alguns livros que não teria sido capaz de conhecer.

Tenho alguns livreiros favoritos. A poucos passos da minha casa está a livraria Letra Livre. Foi inicialmente uma editora clandestina de poesia durante a ditadura de Salazar. A minha livraria, por assim dizer, onde compro livros em línguas estrangeiras, chama-se Palavra de Viajante. É gerida por uma livreira, Ana Cuello, com quem tenho muitas conversas. Ela recomenda-me livros e eu conto-lhe sobre os autores que me interessam. Tenho a impressão de que desenvolvemos verdadeiros laços de amizade.

Não são só os livreiros que me fascinam aqui. Há também uma loja que vende chá, a Companhia Portugueza do Chá. Esta loja parece saída do século XIX, com chás requintados do mundo, tudo é uma maravilha. O meu talhante também se tornou amigo.

Agora, tenho um rubrica num programa de televisão, mesmo que não saiba falar bem português, para falar de um livro durante 15 minutos. É “A vida privada dos livros“. O meu talhante e a mulher seguem o meu programa com rigor e depois falam-me sobre os livros que escolhi. Em Portugal, o peixe também é extraordinário. Descobri que o meu peixeiro era um artista que faz belas obras. Então desenvolvi uma relação especial com muitos lugares na cidade.

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Estava a falar da alma portuguesa. Falamos muitas vezes da melancolia de Lisboa – especialmente através do fado – partilha esta imagem?

O grande filósofo português Eduardo Lourenço escreveu um ensaio sobre a saudade, que é considerada a expressão da melancolia portuguesa. Mas acho que é um erro. A saudade é uma espécie de calma que atravessa a mente. Não é necessariamente triste. Está ligada a um momento de reflexão mais próximo da ideia de melancolia que os filósofos da Idade Média e do Renascimento tinham, ou seja, uma melancolia criativa. Esta saudade está também ligada ao sentido de dignidade, à forma de se comportar de forma responsável na sociedade.

Acho que a saudade se faz sentir noutros aspetos da cultura portuguesa. A cozinha portuguesa é deliciosa porque os produtos são muito frescos mas há também uma certa simplicidade na gastronomia, no peixe preparado na grelha ou no forno, nos legumes, nas sopas, numa certa modéstia. E acredito que as características da saudade – o sentido de honra, a calma, a simplicidade, a necessidade de respeitar os outros e de ser respeitado, manifestam-se, como qualquer característica humana, de forma positiva e negativa. De forma positiva, a saudade dá aos portugueses uma sensação de identificação com a Europa.

O que nos pode dizer sobre a relação de Portugal ou de Lisboa com a Europa continental?

Os portugueses vêem-se à beira da Europa. Se fores um pouco mais para oeste, cais no mar. Mas os portugueses também se identificam com o continente africano, o Mediterrâneo, que impregna a atmosfera. Num sentido negativo, a saudade produz uma espécie de modéstia que obriga os portugueses a não falarem por si mesmos, não a elogiarem o seu próprio país.

Uma das maiores surpresas que tive quando me mudei para Portugal foi descobrir que ninguém conhecia a riqueza da literatura portuguesa. Muito poucos livros portugueses são traduzidos para inglês, francês, italiano ou espanhol, não são promovidos. Os escritores portugueses com quem falo gostariam, naturalmente, de ser lidos noutros países. Mas, ao contrário de um americano ou de um francês, eles não querem fazer esse esforço para procurar ser imediatamente traduzido e serem os melhores. A busca do sucesso e da glória não é uma aspiração comum em Portugal.

Como explica? Isto vem da geografia e da situação de Portugal, localizada numa das extremidades do Ocidente?

Em geral, ouvimos dizer que a modéstia dos portugueses vem do facto de não terem nenhum sentido de ironia que aqui está associado à rudeza. A falta de ironia em Portugal, o facto de estarmos no fim da Europa, mas também este sentido, digamos, da honra, africano e árabe, é muito importante. Não é o caso noutros países da Europa.

A Espanha tinha este sentido de honra na Idade Média e depois perdeu-o completamente; a França nunca a teve, substituiu-o por uma rejeição do ridículo: o pior não é ser desonrado, é ser ridicularizado. Na Alemanha, o valor supremo era uma questão de poder físico; quanto aos ingleses, não falemos sobre isso… Acho que algo neste sentido de honra explica a modéstia. Para os portugueses, a satisfação de fazer o que faz de melhor é a recompensa final.

Aberto Manguel: “Houve este ano a celebração de mais um dia de democracia do que de ditadura – celebram-se 50 anos de democracia em 2024. É uma forma de dizer à ditadura, de uma forma muito educada e calma: “ganhámos”.” Foto: CM

O terramoto de 1755, seguido do tsunami e incêndio, foi um momento traumático para Lisboa, mas também um desastre e um fenómeno europeu. Ao reler Voltaire, podemos considerar que foi também um momento fundador de um certo movimento intelectual europeu?

Para Voltaire, mostra que os desastres não acontecem porque são um castigo de Deus ou um destino. Para Portugal, foi uma catástrofe material e espiritual. Muitas pessoas morreram, mas foi também um momento de mudança que permitiu a reconstrução e uma forma de renovação. Posteriormente, com a ditadura salazarista, as coisas mudaram. Voltando a este sentido de honra, os portugueses celebram todos os anos, a vitória da democracia contra a ditadura. Houve este ano a celebração de mais um dia de democracia do que de ditadura – celebram-se 50 anos de democracia em 2024. É uma forma de dizer à ditadura, de uma forma muito educada e calma: “ganhámos”.

Sabemos a importância que atribuem às palavras, estou a pensar, naturalmente, na Cidade das Palavras… O que o inspira no nome da cidade de Lisboa e na sua possível etimologia?

Acredita-se que a Cidade das Palavras foi fundada por Ulisses. Talvez Ulisses e o nome Lisboa estejam associados a um nome mitológico. Agora associo este nome à experiência que tenho da cidade. Então é uma nova inscrição na minha geografia imaginária.

Voltando ao seu Guia para Lugares Imaginários, qual é o seu lugar imaginário favorito?

Não tenho um lugar imaginário favorito, porque são quase todos horríveis, e é isso que torna o romance interessante. Lugares perfeitos para o autor, como um Cristianopolis ou uma utopia, não são perfeitos para mim. O livro que escrevi com Gianni Guadalupi, O Guia dos Lugares Imaginários, refere-se à questão de como é possível que, desde os tempos antigos, com toda anossa ingenuidade humana, com toda a nossa inteligência, com a nossa capacidade de inventar, não tenhamos sido capazes de inventar uma sociedade mais justa, igualitária e feliz.

Em toda a história humana, não há um tempo em que possamos dizer que a sociedade, como um todo, foi feliz. Penso que temos de continuar a procurar um sistema mais justo, agora que sabemos que o socialismo não funciona, que o comunismo não funciona, que o fascismo não funciona, e que a democracia como é praticada nos Estados Unidos não funciona. Pode haver um ideal democrático que possa emergir algures, e Portugal mantém alguns aspetos daquilo a que chamamos democracia.

Mas quanto tempo pode uma sociedade resistir num mundo corrupto como o nosso, onde potências nacionalistas como a Rússia, a China e os Estados Unidos estão a afundar-se num caos de ambição e agressividade como nunca tínhamos experimentado antes?

Disse que conheceu e viveu em vários lugares que já não existem. Já não existem devido a um mecanismo de memória algo proustiano ou porque estas cidades realmente mudaram?

Cada memória é uma invenção. Vemos e imaginamos o que nos lembramos. As imagens que guardo da minha adolescência na Argentina, antes da ditadura militar, são uma memória maravilhosa de aprendizagem, encontros e descobertas. Mas esta memória já não existe. A Argentina é hoje um dos países mais corruptos do mundo. Talvez sempre tenha sido assim, mas a minha memória retém uma forma de utopia da minha adolescência. O Canadá em que vivi tinha uma grande ambição para o século XXI. E posso dizer o mesmo de tantos outros lugares que conheci. Mas não importa, só porque um lugar é imaginado não significa que não exista.

A nossa noção de tempo está sempre errada. Não há passado que tenhamos perdido e um futuro que ainda não temos. “Vivemos num presente que é a nossa única realidade” é absolutamente falso do ponto de vista matemático, astrofísico e espiritual também. Estamos sempre em todos os momentos e em todos os lugares. Não precisamos de inventar um universo paralelo porque estamos num universo paralelo. A minha presença na Argentina em 1960 ainda existe e existirá até à minha morte. Continuarei a existir em algumas relações que tive e através de alguns dos livros que escrevi. Só porque a nossa memória constrói e retém certos acontecimentos não significa que não sejam verdadeiros. A nossa memória é seletiva e necessariamente individual. Não tem nada a ver com notícias falsas.

Tem o desejo ou o sonho de viver em outro lugar em algum momento?

Várias vezes na minha vida, tive a oportunidade de viver por um tempo em lugares onde não me instalei, como o Japão. Fui convidado a viver no Taiti porque estávamos a imprimir livros lá. Também em São Francisco, quando o meu editor se mudou e me convidou para o acompanhar. Sempre tive a sorte de poder viajar. Mas o caminho é feito de encruzilhadas, direções que desenham uma espécie de mapa em que nos reconhecemos.

Borges tem um pequeno texto que diz que “um homem desenha ao longo da sua vida uma imagem das pessoas que conheceu, das coisas que fez, dos lugares onde esteve e no final da sua vida percebe que esta imagem é a imagem do seu rosto”.

Chateaubriand disse que não se pode descobrir novos lugares porque os associamos sempre a outro lugar que já vimos. Teve esta impressão quando chegou a Lisboa ou descobriu certas coisas?

Chegar a um lugar novo nunca é uma descoberta total porque pensamos por associação. Vejo uma casa amarela e ligo-a a uma casa amarela que vi em Maldonado, no Uruguai, quando era criança; vejo um elétrico e penso no elétrico que passou em frente à minha casa em Buenos Aires. Há sempre associações, não se pode ver algo pela primeira vez porque não o reconheceríamos. Se tivéssemos visto, por exemplo, um unicórnio, não saberíamos que o estamos a ver porque nunca vimos um. Então sim, Lisboa ecoa imagens da minha memória, fragmentos de outros lugares e outras experiências.

Manguel em Lisboa. Foto: DR

Num movimento descontínuo, mas real, Lisboa está em expansão. O que viu mudar desde que andou pela cidade?

É difícil dizer porque a minha experiência de viver em Lisboa foi única no contexto da pandemia. Nunca tive de viver preso durante dois anos. Agora saio um pouco mais, mas ainda temos de estar atentos. Então, descubro alguns lugares, mas não sei se mudaram desde que cheguei.

Lisboa está em plena construção, há muitas obras de renovação em edifícios antigos. Há casas, ruas, que têm um novo visual, mesmo que tenham o seu caráter antigo. O programa de TV em que participo consiste em falar de um livro associando imagens de um lugar que corresponde mais ou menos à atmosfera do livro. Por isso, tenho de viajar por Lisboa de uma forma que nunca tinha feito antes. Fui a uma velha sinagoga, à mesquita, às estufas e aos arredores da cidade também. Descubro Lisboa, não como turista, mas como viajante.

De que coisas que já não existem ainda há restos em Lisboa?

Lisboa é uma cidade tranquila, luminosa, amigável e respeitosa. É acolhedora, mas não imponente. Insisto neste adjetivo: respeitosa. Sentes que a cidade te dá as boas-vindas, mas não te apressa como Nova Iorque, por exemplo.

Qual seria o seu passeio ideal em Lisboa?

A minha caminhada ideal começaria onde estou, porque é onde estou presente. Dirigia-me para Santos tomando a rua das Janelas Verdes, em direção a Alcântara, passando pela maravilhosa Tapada das Necessidades. É um belo jardim que não satisfaz os critérios da beleza francesa; não tem uma visão da perfeição formal, é coberta com flores que crescem livremente. Depois apanhava o elétrico que passa em frente à porta da minha casa, o famoso 28 que todos os turistas tomam. É um elétrico que não se chama do Desejo como o do Tennessee Williams, mas dos Prazeres, porque o cemitério localizado em Lisboa chama-se Prazeres (porque vai para o cemitério). O 28 leva-nos à bela Praça do Comércio que se abre para o rio.

Em seguida, caminhamos ao longo do rio ou subimos à Sé, visitando no caminho o Museu da Resistência no Aljube, uma antiga prisão. Depois, iria aos bairros mais populares, onde os turistas não vão, como o Alto da Eira, que tem muitos cafés. Desde que me mudei para Lisboa, tenho notado que vários cafés franceses e americanos surgiram; existem 15 tipos de cappuccinos e pastelaria francesa. Geralmente, os portugueses não vão a estes lugares. Preferem cafés tradicionais onde é possível tomar um café e doces portugueses. Nos bairros populares de Lisboa estão por todo o lado se estiver à procura deles.

Qual é o seu museu favorito em Lisboa?

O Museu de Arte Antiga é extraordinário. O do Aljube é muito importante para a compreensão da história de Portugal. Mas o meu museu favorito é o das Marionetas, em Santos. Foi criado a partir de uma grande coleção de marionetas que vêm de todo o mundo. É um pequeno museu organizado de uma forma espetacular que recomendo.

Alberto Manguel no Museu da Marioneta, num espetáculo sobre Dante.

«Lisbonne est mon dernier amour, celui qui a le plus de force», une conversation avec Alberto Manguel


Cette interview a été réalisée par le magazine Grand Continent et a été donnée en exclusivité à Mensagem pour l’édition portugaise.

Qu’est-ce-que symbolise la saudade ? Lisbonne reflèterait-elle une « âme portugaise » ? L’écrivain d’origine argentino-canadienne Alberto Manguel partage avec nous ses souvenirs d’adolescence à travers le monde. Il nous raconte son arrivée dans une ville qu’il a longtemps fantasmée… mais nous rappelle surtout que nous vivons toujours dans plusieurs villes parallèles — car ce n’est pas parce qu’un lieu est imaginé qu’il n’existe pas.

Vous avez coécrit l’ouvrage, Le Guide des lieux imaginaires, mais aujourd’hui, nous allons discuter d’une ville bien réelle, ou du moins c’est ce que nous allons voir : quelle a été votre première rencontre avec Lisbonne ? Était-ce justement par le biais de la littérature ?

Oui, c’était à travers la littérature. Surtout, à mon âge, nous formons une géographie imaginaire faite de lieux réels, bien sûr, mais aussi de lieux fictifs. Et cette biographie géographique se construit à travers des expériences vécues et des expériences imaginées. Étonnamment, ma Lisbonne, mon Portugal, faisaient partie de ma géographie imaginaire, ce que les Français appellent “imaginaire”, et il est curieux de voir comment à mon âge – j’ai maintenant 74 ans – il y a soudain une rencontre entre un individu et un lieu qui définit l’individu avec force.

Avant de m’y installer, je m’étais rendu plusieurs fois à Lisbonne pour participer à des conférences organisées par la Fondation Gulbenkian notamment. Mais je ne connaissais pas vraiment la ville. Je faisais des trajets pendulaires entre mon hôtel et la Fondation, sans vraiment découvrir la ville. J’ai également été invité à Porto et à Coimbra, mais il s’agissait de visites sporadiques et très brèves.

Lorsque j’ai quitté la France pour m’installer à New York, tous mes livres sont restés entreposés dans des cartons au Canada. Je m’étais alors demandé quand ces livres retrouveraient leur place dans une bibliothèque. Et comme cela arrive souvent, du moins, comme cela m’arrive à moi, la vie est faite d’événements inattendus et inouïs. Lorsque j’étais aux États-Unis, j’ai reçu une invitation du maire de Lisbonne qui me proposait d’exposer ma bibliothèque au Portugal.

J’avais reçu d’autres offres pour installer ma bibliothèque à Mexico, à Istanbul, ou au Québec. Mais tous ces projets avaient échoué pour des raisons bureaucratiques, économiques et autres. Alors, après avoir rencontré le maire de Lisbonne et son conseiller et sans grande conviction, j’ai finalement accepté de déplacer ma bibliothèque au Portugal. Le maire de Lisbonne m’a proposé d’installer ma bibliothèque dans un des nombreux palais appartenant à la municipalité. J’ai choisi un petit palais magnifique du Marquis de Pombal datant du XIXe siècle. Ma donation a été acceptée en septembre 2020 et depuis, c’est ici que je vis. La pandémie n’a pas été une période propice pour découvrir la ville mais j’ai peu à peu appris à connaître une ville extraordinaire aux caractéristiques très particulières dans une société qui constitue peut-être l’une des dernières démocraties au monde.

Vous dites que vous avez accepté la proposition de la mairie de Lisbonne «sans grande conviction», était-ce en raison des échecs précédents ? Ou aviez-vous des a priori sur cette ville ?

Je n’avais aucun a priori sur Lisbonne. La bureaucratie m’inquiète toujours car c’est un mécanisme qui consiste à dresser des obstacles. Je n’avais aucune idée de ce à quoi pouvait ressembler la vie à Lisbonne ou au Portugal car je n’en avais eu qu’un aperçu limité à travers la littérature. Je conservais un vague souvenir d’une littérature galicienne et de certains auteurs comme Pessoa, Saramago, Lobo Antunes, que j’admire beaucoup et qui ont écrit sur l’empire portugais et son effondrement. À l’époque, rien ne me permettait donc vraiment d’identifier la ville.

Parmi tous les endroits que vous avez visité, pourquoi avoir choisi de nous parler de Lisbonne ?

Peut-être parce que le dernier amour est celui qui a le plus de force. Je sais que la mythologie veut que notre premier amour soit celui qui définit notre relation avec le monde mais je ne pense pas que ce soit le cas avec moi. J’ai une grande affection pour les endroits où j’ai vécu mais qui n’existent plus tels que je les ai connu : le Buenos Aires de mon adolescence est une invention mienne ; le Paris de la fin des années 1960-1970 n’existe plus ; il y a toujours Venise, mais Venise est toujours là, même si vous n’y avez pas vécu. Certains endroits font partie de cette géographie imaginaire dont j’ai parlé. Ce que j’ai ressenti avec Lisbonne est semblable à ce que j’ai vécu en arrivant au Canada au début des années 1980. C’était un pays dont je ne connaissais rien et j’ai découvert une société en laquelle je croyais ;  une société démocratique, active et intéressée par les arts.

Mais le Canada appartient à mon passé et mon présent est maintenant au Portugal. J’y retrouve cette même générosité et cette noblesse d’esprit, un certain sens de l’honneur que nous associons à l’époque féodale. Il n’y a rien de pire pour un Portugais qu’un mensonge ou qu’une impolitesse. Les Portugais n’aiment pas parler d’argent. Lorsque je me rends chez les commerçants de mon quartier, j’ai beaucoup de mal à payer parce qu’ils entament toujours une conversation à propos de la culture, ou des derniers mouvements sociaux … Il faut toujours que je trouve des stratégies pour parvenir à payer et que mes dettes ne s’accumulent pas.

Ce que j’ai ressenti avec Lisbonne est semblable à ce que j’ai vécu en arrivant au Canada au début des années 1980. C’était un pays dont je ne connaissais rien et j’ai découvert une société en laquelle je croyais.

Lisbonne est une ville tranquille qui convient à mon rythme de vie. C’est une ville aux nombreuses collines, bien plus qu’à Rome. Cela me permet de faire un peu d’exercice et de conserver ma forme physique. Les Portugais centenaires montent et descendent les rues de Lisbonne à toute allure, comme des chèvres. Je m’habitue peu à peu à cet exercice qui me plaît beaucoup. Le temps est splendide. Même quand il pleut, et les pluies peuvent être torrentielles, elles se terminent très vite et le soleil réapparaît toujours. Lisbonne s’illumine alors, parée de ses couleurs extraordinaires. Je ne connais pas de bleu comme le bleu des carreaux de Lisbonne, ni de jaune et de rose équivalents aux couleurs des façades des ruelles de la ville. Je me sens très à l’aise ici. J’ai appris à ne pas me précipiter et à contempler mon environnement.

L’avantage de vivre dans une société qui n’est pas pressée est que les malheurs du monde arrivent ici avec un temps de retard. Toutes les absurdités qui se passent aux États-Unis, par exemple, le climat de censure académique, les fake news, etc. Tout cela affecte également la société portugaise mais dans une moindre mesure. Le parti d’extrême-droite a émergé sur la scène politique portugaise assez tardivement et son score reste très faible.

Comme toutes les sociétés, le Portugal a bien sûr quelques inconvénients. Par exemple, l’administration est très lente.  Néanmoins, contrairement aux administrations italienne, argentine ou turque que je connais aussi, si une personne portugaise vous dit qu’elle fera quelque chose, même si cela doit prendre du temps, vous pouvez être sûr qu’elle le fera. Nous avons dû attendre 2 ans pour que les travaux de rénovation pour la création d’un Espace Atlantide d’histoire de la lecture débutent. Nous prévoyons une inauguration courant 2024. Il faut être patient ici. Au Portugal, l’impatience est associée à de l’impolitesse. Toutes les conversations doivent débuter par une salutation puis par des,  “comment allez-vous” ou “comment va votre famille”. C’est seulement après avoir échangé ces quelques formules de politesse que nous pouvons passer au sujet qui nous intéresse.

Avez-vous le sentiment que Lisbonne vous ait changée, qu’elle vous a transformé vous aussi en une sorte de «chèvre» capable de tout gravir?

Oui, d’un point de vue physique, je me sens beaucoup mieux. D’un point de vue spirituel, j’apprends à être patient comme jamais je ne l’avais été auparavant dans ma vie. Je suis maintenant la personne la moins impatiente que je connaisse. Je vis dans un quartier historique de Lisbonne entre le Chiado, qui est le centre touristique, et Santos, qui est le quartier où se trouve le palais du Marquis de Pombal. Dans ce quartier, il y a de nombreuses librairies, ce qui montre bien que Lisbonne est une ville passionnée de culture. Il y a encore de nombreuses librairies anciennes que l’on appelle «alfarrabistas» en portugais, peut-être en hommage à Al-Farabi, le philosophe arabe. Dans ces lieux, il est possible d’avoir de véritables échanges. J’ai toujours eu une aversion pour les conversations dans les librairies. Lorsque que je m’y rends, je veux qu’on me laisse tranquille, que je puisse regarder les rayonnages, feuilleter les livres, être en paix. Mais ici, en revanche, les libraires vous parlent d’une manière si aimable et intelligente et vous guident vers certains livres que vous n’auriez pas pu connaître autrement.

J’ai quelques librairies préférées. À deux pas de chez moi se trouve la librairie Letra Libre. C’est une librairie alpharabiste qui était au départ un éditeur clandestin de poésie durant la dictature de Salazar. Ma librairie, pour ainsi dire, où j’achète les livres en langues étrangères, s’appelle Palabras de viajante. Elle est gérée par  une libraire, Ana Cuello, avec qui j’ai des conversations très régulièrement. Elle me recommande des livres et je lui parle des auteurs qui m’intéressent. J’ai l’impression que nous avons développé de véritables liens d’amitié.

Il n’y a pas que les libraires qui me fascinent ici. Il y a aussi une boutique qui vend du thé, la Companhia Portugueza do Chá. Cette boutique qui semble sortir du XIXème siècle, avec des thés exquis du monde entier est une merveille. Mon boucher est aussi devenu un ami. Désormais, j’interviens dans une émission télévisée, même si je maîtrise mal le portugais, pour parler d’un livre pendant 15 minutes. Elle s’intitule A vida privada dos livros. Mon boucher et sa femme suivent rigoureusement mon émission et me parlent ensuite des livres que j’ai choisis. Au Portugal, le poisson est aussi extraordinaire. J’ai découvert que mon poissonnier était un artiste qui réalise des œuvres magnifiques. J’ai donc développé un attachement particulier avec beaucoup d’endroits dans la ville.

Pensez-vous qu’il existe un livre en particulier qui décrit bien la ville de Lisbonne ?

Selon moi, les livres qui rendent le mieux compte de Lisbonne sont ceux qui se déroulent pendant la dictature, comme les romans de Saramago, L’année de la mort de Ricardo Reis, ou Sostiene Pereira d’Antonio Tabucchi. Ces romans décrivent très bien la ville de Lisbonne dans l’atmosphère de la dictature. Je découvre aussi de jeunes auteurs comme Rui Cardoso qui a écrit un roman sur un village de l’Alentejo ; Teresa Veiga, qui a écrit des histoires qui se déroulent à Lisbonne ; Matilde Campilho qui a créé de merveilleux textes sur Lisbonne aussi. Mais je ne connais pas de roman qui soit l’équivalent d’un roman de Dickens sur Londres ou d’un roman de Manuel Puig sur Buenos Aires. Peut-être est-ce mon ignorance, mais les auteurs que je découvre parlent de nombreux endroits du Portugal, sans que l’intrigue se déroule spécifiquement dans la ville de Lisbonne.

Peut-on dire que Lisbonne est une ville littéraire ?

Oui, Lisbonne est définitivement une ville littéraire. Non seulement grâce aux nombreuses librairies et lecteurs qu’elle abrite, mais aussi grâce aux écrivains qui vivent ici. Je sais que les statistiques me contredisent et disent que les lecteurs portugais sont peu nombreux mais les personnes que je rencontre au marché ou dans un café sont des personnes qui s’intéressent beaucoup à la lecture. La Foire du livre de Lisbonne est très fréquentée. Il y a en a beaucoup d’autres dans plusieurs régions du Portugal. Les statistiques ne reflètent peut-être pas fidèlement le climat culturel qui règne dans cette ville et dans ce pays.

Je m’assois, je lis, je prends des notes et j’écris. C’est le moment le plus paisible de toute la semaine pour moi.

Quel est selon vous le meilleur endroit pour lire ou écrire à Lisbonne ?

J’aime beaucoup un endroit où je vais tous les dimanches matins. Le Portugal possède de merveilleux cafés avec des kiosques et des terrasses en extérieur. Mon kiosque favori se trouve près du point de vue Adamastor. Au lever du jour, sur les hauteurs de Lisbonne qui surplombent le fleuve, on peut voir naviguer les bateaux. Une légende raconte qu’une statue d’un géant appelé Adamastor, le géant des tempêtes, garde l’entrée du fleuve. Je m’y assois tous les dimanches matin à 9h pour boire un double expresso et manger des torradas, qui sont des toasts avec du beurre et des herbes aromatiques dessus. Je m’assois, je lis, je prends des notes et j’écris. C’est le moment le plus paisible de toute la semaine pour moi.

Avez-vous des souvenirs littéraires particuliers à Lisbonne ?

La statue qui représente Adamastor, le géant des tempêtes, évoque la figure mythique créée par le poète Luís Vaz de Camões. Il a écrit un poème, Lusiadas qui définit, d’une certaine manière, le sentiment épique et héroïque qui existe encore dans les profondeurs de l’âme portugaise. Évidemment, après le colonialisme et la prise de conscience des horreurs commises, Camões a été perçu d’une manière différente. Mais je continue à penser qu’il est un poète important de l’histoire portugaise par son extraordinaire imagination.

Vous parliez justement de l’âme portugaise. On parle souvent de la mélancolie attribuée à Lisbonne – notamment à travers le fado – partagez-vous cette image ? Et, si oui, que peut-elle nous dire de la relation du Portugal ou de Lisbonne avec l’Europe continentale ?

Le grand philosophe portugais Eduardo Lourenço a écrit un essai sur la saudade, qui est considérée comme l’expression de la mélancolie portugaise. Mais je pense que c’est une erreur de la considérer comme telle. La saudade est une sorte de calme qui traverse l’esprit. Elle n’est pas forcément triste. Elle est liée à un moment de réflexion qui se rapproche plus de l’idée de mélancolie que les philosophes du Moyen Âge et de la Renaissance avaient, c’est-à-dire une mélancolie créative. Cette saudade est également liée au sens de la dignité, à la manière de se comporter de façon responsable en société.

Je pense que la saudade se ressent dans d’autres aspects de la culture portugaise.  La cuisine portugaise est délicieuse car les produits sont très frais mais il y a aussi une certaine simplicité dans la gastronomie, dans les poissons préparés au grill ou au four, dans les légumes, les soupes, une certaine modestie. Et je crois que les caractéristiques de la saudade ; le sens de l’honneur, le calme, la simplicité, le besoin de respecter les autres et d’être respecté, se manifestent, comme toute caractéristique humaine, de manière positive et négative. De manière positive, la saudade donne aux Portugais un sentiment d’identification à l’Europe. Les Portuguais se perçoivent comme étant à la limite de l’Europe. Si vous allez un peu plus à l’ouest, vous tombez dans la mer.

Mais les Portuguais s’identifient aussi au continent africain, à la Méditerranée, qui imprègne l’atmosphère. Dans un sens négatif, la saudade produit une sorte de modestie qui pousse les Portugais à ne pas parler d’eux-mêmes, à ne pas faire l’éloge de leur propre pays. L’une des plus grandes surprises que j’ai eues en m’installant au Portugal a été de constater que personne ne connaissait la richesse de la littérature portugaise. Très peu de livres portugais sont traduits en anglais, en français, en italien, ou en espagnol parce qu’ils ne sont pas promus. Les écrivains portugais avec lesquels je discute aimeraient bien sûr être lus dans d’autres pays. Mais contrairement à un Américain ou un Français, ils n’ont pas l’envie de faire d’effort pour chercher à être immédiatement traduit et à être le meilleur de tous. La recherche du succès et de la gloire n’est pas une aspiration commune au Portugal.

Quelque chose dans le sens de l’honneur portugais explique leur modestie.

Comment l’expliquez-vous ? Cela vient-il de la géographie et de la situation du Portugal, situé à une extrémité de l’Occident ?

En général, on entend que la modestie des Portuguais vient du fait qu’ils n’aient aucun sens de l’ironie qui est ici associée à de l’impolitesse. Le manque d’ironie au Portugal, le fait que nous soyons à l’extrémité de l’Europe, mais aussi ce sens, disons, africain et arabe de l’honneur est très important. Ce n’est pas le cas ailleurs en Europe. L’Espagne a eu ce sens de l’honneur au Moyen Âge puis l’a complètement perdu ; la France ne l’a jamais eu, elle l’a remplacé par un sens du refus du ridicule, le pire n’étant pas d’être déshonoré mais de ne pas être ridiculisé. En Allemagne, la valeur suprême était une question de puissance physique ; quant aux Anglais, n’en parlons pas. Je pense donc que quelque chose dans ce sens de l’honneur explique cette modestie. Pour les Portugais, la satisfaction de faire ce que vous savez faire le mieux est l’ultime récompense.

Le tremblement de terre de 1755, suivi d’un tsunami et d’un incendie, a été un moment traumatisant pour Lisbonne, mais aussi une catastrophe et un phénomène européen. En relisant Voltaire, peut-on considérer que c’était aussi un moment fondateur pour un certain mouvement intellectuel européen?

Pour Voltaire, c’est un exemple qui montre que les catastrophes ne se produisent pas parce qu’il s’agit d’une punition de Dieu ou d’un destin. Pour le Portugal, ce fut une catastrophe matérielle et spirituelle. De nombreuses personnes sont décédées mais ce fut aussi un moment de changement qui a permis la reconstruction et une forme de renouveau. Par la suite, avec la dictature de Salazar, les choses ont changé. Pour en revenir à ce sens de l’honneur, les Portugais célèbrent chaque année, une année de plus pour la démocratie et contre la dictature. Il existe des célébrations appelées Un día más. Notre centre y a participé. Je pense qu’il est essentiel de se rappeler que nous allons célébrer cinquante ans de démocratie en 2024 après des années terribles de dictature. C’est une façon de dire à la dictature, de manière très polie et posée : “nous avons gagné”.

On connaît l’importance que vous accordez aux mots, je pense bien sûr à La Cité des Mots, qu’est-ce qui vous inspire le nom de la ville de Lisbonne et son éventuelle étymologie ?

La Cité des Mots est censée avoir été fondée par Ulysse. Peut-être Ulysse et le nom de Lisbonne sont-ils associés à un nom mythologique. J’associe désormais ce nom avec l’expérience que j’ai de la ville. C’est donc une nouvelle inscription dans ma géographie imaginaire.

En revenant à votre Guide des lieux imaginaires,quel est votre lieu imaginaire préféré ?

Je n’ai pas de lieu imaginaire préféré, car ils sont presque tous horribles, et c’est ce qui rend le roman intéressant. Les endroits qui sont parfaits pour l’auteur, comme une Christianopolis ou une utopie, ne le sont pas pour moi. Le livre que j’ai écris avec Gianni Guadalupi, Le guide des lieux imaginaires, fait référence à la question de savoir comment il est possible que, depuis les temps anciens, avec toute notre ingéniosité humaine, avec toute notre intelligence, avec notre capacité d’inventer, nous n’ayons pas été capables d’inventer une société plus juste, égalitaire et heureuse.

Comment est-il possible que, depuis les temps anciens, avec toute notre ingéniosité humaine, toute notre intelligence, avec notre capacité d’inventer, nous n’ayons pas été capables d’inventer une société plus juste, égalitaire et heureuse ?

Dans toute l’histoire humaine, il n’y a pas de moment où nous puissions dire que la société dans son ensemble était heureuse. Je pense que nous devons continuer à chercher un système plus juste maintenant que nous savons que le socialisme ne fonctionne pas, que le communisme ne fonctionne pas, que le fascisme ne fonctionne pas et que la démocratie telle qu’elle est pratiquée aux États-Unis ne fonctionne pas. Il y a peut-être un idéal démocratique qui peut émerger quelque part, et le Portugal maintient certains aspects de ce que nous appelions la démocratie. Mais combien de temps une société peut-elle résister dans un monde corrompu comme le nôtre, où les puissances nationalistes telles que la Russie, la Chine et les États-Unis sombrent dans un chaos d’ambition et d’agressivité comme nous n’en avons jamais connu auparavant ?

Combien de temps une société peut-elle résister dans un monde corrompu comme le nôtre, où les puissances nationalistes telles que la Russie, la Chine et les États-Unis sombrent dans un chaos d’ambition et d’agressivité comme nous n’en avons jamais connu auparavant ?

Vous avez dit que vous avez connu et vécu dans plusieurs endroits qui n’existent plus. Est-ce qu’ils n’existent plus à cause d’un mécanisme du souvenir quelque peu proustien ou parce que ces villes ont réellement changé ?

Tout souvenir est une invention. Nous parlons et nous nous représentons ce dont nous nous souvenons. Les images que je conserve de mon adolescence en Argentine, avant la dictature militaire, constituent un merveilleux souvenir d’apprentissage, de rencontres et de découvertes. Mais ce souvenir n’existe plus. L’Argentine est maintenant un des pays les plus corrompus au monde. Peut-être cela a-t-il toujours été le cas, mais ma mémoire retient une forme d’utopie de mon adolescence. Le Canada dans lequel j’ai vécu portait énormément d’ambitions pour le XXIe siècle. Et je peux dire la même chose pour tant d’autres endroits que j’ai connus. Mais cela n’a pas d’importance, ce n’est pas parce qu’un lieu est imaginé qu’il n’existe pas.

Nous sommes dans un univers parallèle. Ma présence en Argentine en 1960 existe toujours et existera jusqu’à ma mort. Je continuerai à exister dans certaines relations que j’ai eues et à travers certains livres que j’ai écrits. Ce n’est pas parce qu’un lieu est imaginé qu’il n’existe pas.

Notre notion du temps est toujours fausse. Il n’y a pas de passé que nous avons perdu et un futur que nous n’avons pas encore. “Nous vivons dans un présent qui est notre seule réalité”, c’est absolument faux d’un point de vue mathématique, astrophysique et spirituel aussi. Nous sommes toujours en tout temps et en tous lieux. Nous n’avons pas besoin d’inventer un univers parallèle car nous sommes dans un univers parallèle. Ma présence en Argentine en 1960 existe toujours et existera jusqu’à ma mort. Je continuerai à exister dans certaines relations que j’ai eues et à travers certains livres que j’ai écrits. Ce n’est pas parce que notre mémoire fabrique et retient certains événements qu’ils ne sont pas vrais. Notre mémoire est sélective et forcément individuelle. Elle  n’a rien à voir avec les fake news.

Avez-vous l’envie ou le rêve de vivre ailleurs à un moment donné ?

À plusieurs reprises dans ma vie, j’ai eu la possibilité de vivre quelque temps dans des endroits où je ne me suis pas installé, comme le Japon. J’ai été invité à vivre à Tahiti parce que nous y imprimions des livres. À San Francisco aussi, lorsque mon éditeur a déménagé et m’a invité à l’accompagner. J’ai toujours eu la chance de pouvoir voyager. Mais la vie est faite de carrefours, de directions à prendre qui dessinent une sorte de carte sur laquelle nous nous reconnaissons. Borges a un petit texte qui dit “un homme dessine tout au long de sa vie une image des gens qu’il a rencontrés, des choses qu’il a faites, des endroits où il est allé et à la fin de sa vie, il se rend compte que cette image est l’image de son visage”.

Chateaubriand disait qu’on ne peut pas découvrir de nouveaux lieux parce qu’on les associe toujours à un autre endroit qu’on a déjà vu. Avez-vous eu cette impression à votre arrivée à Lisbonne ou bien avez-vous découvert certaines choses ?

Arriver dans un nouvel endroit n’est jamais une découverte totale car nous réfléchissons par association. Je vois une maison jaune et je la relie à une maison jaune que j’ai vue à Maldonado, en Uruguay, quand j’étais enfant ; je vois un tramway et je pense au tramway qui passait devant ma maison à Buenos Aires. Il y a toujours des associations, on ne peut pas voir quelque chose pour la première fois parce qu’on ne le reconnaîtrait pas. Si nous voyions par exemple une licorne, nous ne saurions pas que nous la voyons parce que nous n’en avons jamais vue. Alors oui, Lisbonne fait écho à des images de ma mémoire, des fragments d’autres lieux et d’autres expériences.

Dans un mouvement discontinu mais réel, Lisbonne s’étend. Qu’avez-vous vu changer depuis que vous fréquentez la ville ?

C’est difficile à dire car mon expérience d’installation à Lisbonne a été unique dans le contexte de pandémie. Jamais je n’avais dû vivre enfermé pendant deux ans. Désormais, je sors un peu plus, mais nous devons toujours être vigilants. Je découvre donc certains endroits, mais je ne sais pas s’ils ont changé depuis mon arrivée.

Lisbonne est en pleine construction, il y a beaucoup de travaux de rénovation dans d’anciens bâtiments. Il y a des maisons, des rues, qui ont un nouvel aspect même si elles ont gardé leur caractère ancien. L’émission de télévision à laquelle je participe consiste à parler d’un livre en y associant des images d’un lieu qui correspond plus ou moins à l’atmosphère du livre. Je suis donc amené à parcourir Lisbonne d’une manière que je n’avais pas connue auparavant. Je me suis rendu dans une ancienne synagogue, à la mosquée, dans des serres et en périphérie de la ville également. Je découvre Lisbonne, non pas en tant que touriste, mais en tant que voyageur.

Qu’est-ce qui n’est plus dont Lisbonne porte la trace ?

Lisbonne est une ville calme, lumineuse, amicale, et respectueuse. Elle est accueillante mais pas imposante. J’insiste sur cet adjectif : respectueuse. Vous sentez que la ville vous accueille, mais elle ne se rue pas sur vous comme le fait New York, par exemple.

Ma promenade idéale commencerait là où je me tiens parce que c’est là où je suis présent.

Quelle serait votre promenade idéale à Lisbonne ?

Ma promenade idéale commencerait là où je me tiens parce que c’est là où je suis présent. Je me dirigerais vers Santos en prenant la rue d’As Janelas Verdes, vers le quartier d’Alcântara, en passant par le merveilleux parc Tapada das Necessidades. C’est un beau jardin qui ne répond pas aux critères de beauté français; il ne correspond pas à cette vision d’une perfection formelle, il est couvert de fleurs qui poussent librement. Ensuite, je prendrais le tramway qui passe devant la porte de ma maison, le fameux tramway 28 que tous les touristes empruntent. C’est un tramway qui ne s’appelle pas Désir comme celui de Tennessee Williams mais Placeres, parce que le cimetière situé à Lisbonne s’appelle Prazeres, qui est le nom d’un personnage historique. Le 28 vous emmène jusqu’à la magnifique Place du Commerce qui s’ouvre sur le fleuve. Vous pouvez ensuite vous promener le long du fleuve ou monter jusqu’à la cathédrale et, au-delà de la cathédrale, visiter le musée de la résistance à la dictature Aljube, qui est installé dans une ancienne prison. Après cela, je me rendrais dans les quartiers plus populaires où les touristes ne vont pas, comme les Altos de Eira, qui compte de nombreux cafés.  Depuis que je me suis installé à Lisbonne, j’ai remarqué que plusieurs cafés français et américains ont vu le jour; on y trouve 15 types de cappuccinos et des pâtisseries françaises. Généralement, les Portugais ne vont pas dans ces endroits. Il y préfèrent les cafés traditionnels portugais où il est possible de prendre un café en savourant des pâtisseries portugaises très sucrées. Ces endroits situés dans les quartiers populaires de Lisbonne sont partout si vous les cherchez.

Quel est votre musée préféré à Lisbonne ?

Le musée d’art ancien est extraordinaire. Le musée Aljube est très important pour comprendre l’histoire du Portugal. Mais mon musée préféré est le musée des marionnettes, qui se trouve dans le quartier de Santos. Il a été créé à partir d’une importante collection de marionnettes qui viennent du monde entier. C’est un petit musée aménagé de manière spectaculaire que je recommande à tous ceux qui sont de passage à Lisbonne.

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2 Comentários

  1. Contando os dias para visitar o Centro de Estudos de História da Leitura e voltar a palmilhar Lisboa, agora ainda mais engrandecida em meu “imaginário geográfico”, graças à presença de Alberto Manguel nela. Viva o informativo A mensagem, aproximando brasileiros, como eu, de Portugal!

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