De mãos nos ombros da estátua do poeta, Richard Quest absorvia a atmosfera de um Chiado a despertar. Diria quem passasse pel’A Brasileira nesta manhã que se tratava de um sósia, admirador de Fernando Pessoa, pela escolha do chapéu. Mas a verdade é que Pessoa teve de ser apresentado a Quest.

O correspondente de economia da CNN, conhecido também pelos seus programas de viagens, chegou à capital num mês quente para os lisboetas. Quente pelo calor que se faz sentir e porque a cidade está a “ferver com o turismo”. Ele próprio viveu a agitação da última noite de Santos Populares na Vila Berta, no dia 12.

Richard Quest na Vila Berta, no arraial dos Santos Populares. Foto: Líbia Florentino

No silêncio matinal do Chiado, sentado numa das mesas do icónico café A Brasileira (sede emocional da Mensagem), tomou o pequeno-almoço com a equipa.

Chamou-lhe “otimismo partilhado” na forma de um pastel de nata e um café. É com esses dois protagonistas que se senta ao lado de Fernando Pessoa e lhe elogia o chapéu, dando início à gravação que fechará o episódio do Admirável Mundo lisboeta, na CNN.

“Alma, soul” foi a palavra que Quest escolheu para resumir a essência de Lisboa, uma capital que admite ter menosprezado erradamente até agora – uma cidade “elegante e encantadora” que tinha sido “ofuscada” por outras capitais europeias mais agitadas, mais enérgicas.

Ficou fã, revela, e convida os futuros espetadores a “provar por si” desta Alma.

Com outro trabalho em mãos, também aproveitou Lisboa como cenário para uma peça sobre economia.

Afinal, enquanto turista, as notícias sobre o aeroporto de Lisboa não lhe passam ao lado e, enquanto jornalista, a economia do país também lhe interessa. Desconfia que Portugal tenha “enfrentado melhor a pandemia devido à crise financeira”.

Richard Quest acrescentará Lisboa ao seu mapa de capitais agitadas. Viu que há muitas pessoas a visitar Lisboa e muitas a querer fazê-lo – “Lisbon is very hot at the moment”. Foto: Inês Leote

Richard Quest acredita que a chegada de voos e cruzeiros tem brindado o comércio de Lisboa, mas tem dúvidas que Portugal consiga evitar o “excesso de turismo”, principalmente no centro da cidade.

Cidades como Nova Iorque são grandes o suficiente, mas são um ponto de passagem para os turistas que também visitam os estados vizinhos. Quest diz que Lisboa ainda não está preparada para isso.

“O desafio é criar pontos atrativos fora daqui.” Di-lo no coração do Chiado, e questiona a capacidade dos políticos portugueses para admitir que “é necessário controlar os números”.

Richard Quest acredita que a chegada de voos e cruzeiros tem brindado o comércio de Lisboa, mas tem dúvidas que Portugal consiga evitar o “excesso de turismo”. Foto: Inês Leote

Com o cenário atual no aeroporto Humberto Delgado, o ministro das Infra-estruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, diz estar em marcha um plano de contingência, que se pode estender à limitação de voos em 2023. Quest diz que “não haverá solução fácil”.

O otimismo dos pastéis de nata que trincou nas gravações parece não ter chegado para o convencer. Talvez por isso tenha pedido a receita d’A Brasileira.

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Inês Leote

Nasceu em Lisboa, mas regressou ao Algarve aos seis dias de idade e só se deu à cidade que a apaixona 18 anos depois para estudar. Agora tem 23, gosta de fotografar pessoas e emoções e as ruas são o seu conforto, principalmente as da Lisboa que sempre quis sua. Não vê a fotografia sem a palavra e não se vê sem as duas. É fotojornalista e responsável pelas redes sociais na Mensagem.

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