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A Câmara Municipal de Lisboa, através do gabinete da vereadora Laurinda Alves, com o pelouro dos Direitos Humanos e Sociais e do projeto para a implementação e monitorização do Plano Municipal para as Pessoas em situação de Sem Abrigo, emitiu, esta sexta-feira, um voto de pesar pela morte de Jorge Costa.
O cronista, que escreveu na Mensagem sobre a sua experiência enquanto pessoa em situação de sem -abrigo, morreu na passada quarta-feira, aos 55 anos, vítima de doença prolongada.
Morreu Jorge Costa.
Cronista.
55 anos de idade.
Dedicou os últimos meses da sua vida a escrever sobre a sua cidade, onde sempre viveu, mas vista por outros olhos.
Os olhos de quem tem a rua como casa.
Foi a voz de quem a não tem e tornou visíveis as centenas de cidadãos e munícipes invisíveis aos olhares dos milhares de pessoas que circulam ao seu redor, sem neles reparar.
Jorge Costa deu-nos a conhecer o rosto dessa invisibilidade. Os homens e mulheres que têm nome. Que são o João ou o António, a Teresa ou a Madalena e não “os sem abrigo”, como nenhum de nós é um T3 ou um T4…
O Jorge Costa ensinou-nos que viver na rua não nos tolhe a vontade e a capacidade de sonhar, mesmo quando se dorme encharcado e com frio, com medo e receio das adversidades e do ambiente por vezes hostil.
E mesmo quando a fome aperta e as carrinhas não chegam, ou o cheiro, por não tomar banho porque não tem onde o fazer, incomoda por demais, o sonho permanece lá e a esperança está sempre viva. Mais viva do que nunca.
Morreu um homem que um dia escreveu o que sentiu porque experienciou a realidade de estar em situação de sem abrigo.
“Porque a única coisa que tinha, quando tinha algum tempo, era apenas sonhar. E o meu sonho era muito simples, muito pobre e muito básico. A forma como eu vivia é que me limitava a sonhar assim. Eu sonhava só ser um ser humano de novo e ser tratado como tal.”
A Câmara Municipal de Lisboa presta homenagem ao cronista Jorge Costa, manifestando profundo pesar pelo seu falecimento e chamando a si o compromisso de que a todos os homens e mulheres da nossa cidade seja reconhecida a capacidade de sonhar e todos sejam tratados como seres humanos em toda a sua plenitude.
Obrigado, Jorge
Lisboa, 22 de abril de 2022
A Vereadora
Laurinda Alves
Está ao alcance da CML reduzir drasticamente o número de pessoas sem abrigo. Por exemplo, os vários milhões que irão custar medidas populistas como os descontos de estacionamento, sem qualquer benefício para a cidade, poderiam retirar várias pessoas da rua durante vários anos. Mesmo os transportes públicos gratuitos para faixas etárias que já são, maioritariamente, utilizadores de transportes públicos, é uma medida extremamente dispendiosa e de retorno muito reduzido.
O voto de pesar é bonito mas nem sequer chegará à maior parte das outras pessoas sem abrigo que não tiveram a sorte do Jorge Costa.