Quando estiver a ler isto, o comediante português de 28 anos André de Freitas estará já na Escócia, para onde embarcou numa exaustiva programação de 26 noites no mundialmente famoso Festival Fringe de Edimburgo – reconhecido por descobrir novos talentos.
Durante a estadia em Edimburgo, André realizará um espetáculo de uma hora todas as noites, e diz que é o primeiro comediante português a aventurar em tal empreendimento.
Na semana passada, tivemos a oportunidade de conhecer André quando ele estava prestes a apresentar uma preview do seu espetáculo para Edimburgo num café lotado em Lisboa – o Selva, na Rua Luís de Camões, um lugar para comediantes emergentes testarem o seu material.
Fora do café, presenteamos André com uma garrafa de cerveja para ajudá-lo a relaxar antes do show. Começou a tirar o rótulo da garrafa de cerveja e diz: “Se apareces na câmera com isto, viras um embaixador. E eu não farei mais nada de graça.”
Quando perguntado sobre os seus sentimentos em relação ao próximo mês, André partilhou: “Bom, levei 7 anos para chegar a este ponto. Estou com medo, animado e aterrorizado”. Tudo ao mesmo tempo.
André reconheceu que, embora nada seja decisivo, há um certo nível de medo em torno do espetáculo, já que ele nunca trabalhou tanto para uma performance antes.
Em preparação para o próximo mês, André decidiu fazer duas novas tatuagens, o que o atrasou um pouco para o nosso encontro. “Sim, atrasei-me porque estava a fazer tatuagens. Que atitude rock’n’roll a minha.” Numa das coxas, tatuou: “Não Esperes Nada, Aprecia Tudo”. Num dos bíceps: “O Ego é o Inimigo.”


Quando brincamos sobre o aparentemente grande ego de André, ele respondeu: “Achas que eu tenho um grande ego? Achas que eu tenho o maior ego?”. Mas ele rapidamente acrescentou: “Não quero que o meu ego fique tão grande a ponto de me atrapalhar.”
André admitiu que recentemente tem recebido apoio de muitas pessoas e sente a responsabilidade de não decepcioná-las. Só isso é uma fonte de medo para ele, pois quer garantir que aqueles que acreditam nele não se arrependam da sua confiança.
Pôr o nome lá fora
Perguntamos, então, o que espera em Edimburgo. “Há cerca de 3000 espetáculos a acontecer. Podes passar despercebido. É muita concorrência.”
O fato de a performance de André no Fringe ser um feito significativo sugere que o panorama da comédia portuguesa tem progredido nos últimos anos. No entanto, André parecia cauteloso antes de responder, explicando que ele se concentra mais em se destacar no exterior e, como resultado, viaja extensivamente.
Além de suportar slots de destaque, incluindo a abertura para comediantes internacionais estabelecidos, ele também excursionou por toda a Europa e passou dois meses na Austrália, onde foi premiado Melhor Ator Internacional no Comics Lounge.
Perguntamos se ele estava cansado de viajar. “É a vida que escolhi para mim. Espero continuar a viajar. Só gostaria de viajar melhor. Já tive o suficiente dos voos às 6h da manhã e dos Air BnB’s no meio do nada.”
Em busca da “mina de ouro” em cima do palco
André sobe ao palco.
Observamos o espetáculo de uma hora, que cativa a plateia internacional desde o início. Tudo se desenrola como uma história envolvente, refletindo a jornada de André até este ponto. O humor dele e a interação com a plateia provocam risos sinceros, especialmente quando um membro da plateia partilha a sua atividade favorita em Amsterdão: visitar o museu da tortura. “Isto é o que chamamos no meio ‘uma mina de ouro’.”

Após o espetáculo, André retira-se para um quarto privado no andar de cima para relaxar e avaliar a performance. Aqueles que lhe são próximos elogiam entusiasticamente o espetáculo, chamando-o de “astro do rock”. Mas André parece incerto. Não se pode imaginar que qualquer quantidade de elogios o deixaria tranquilo. “Bem, é o mais próximo que se vai chegar,” diz ele melancolicamente.
Esta é a vida de um comediante.
André De Freitas apresenta-se no Pleasance Bunker 2, Edimburgo, de 2 a 27 de agosto.
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