Marid trânsito
Em Madrid, propõe-se o pagamento de um subsídio a quem não tenha carro. Foto: unsplash

Bruxelas já tinha tomado a dianteira na luta contra o uso do automóvel: no início do ano, passou a pagar um bónus até 900 euros a quem desistisse do carro, com um programa já em vigor desde 2006. Agora, é a vez de Madrid, com o movimento da oposição Más Madrid, que se assume como a alternativa verde, feminista e promotora da justiça social na cidade, a propor isso mesmo: pagar até 1000 euros às famílias que não têm carro.

Esta é uma proposta que chega sete meses antes das eleições regionais, depois da vitória do Partido Popular de Isabel Díaz Ayuso em 2021.

Tal como em Bruxelas, esta seria uma medida progressiva, beneficiando sobretudo as famílias com poder económico mais baixo. A proposta daria 1000 euros aos agregados familiares cujos membros ganhem 15 mil euros anuais ou menos (ou seja, se uma família com dois filhos receber até 60 mil euros anuais, estará apta a receber os 1000 euros).

A partir deste limite, o valor do subsídio vai diminuindo, contemplando todos os agregados familiares que ganhem até 20 mil euros anuais per capita por membro (neste caso, a família recebe 500 euros).

Segundo o partido Más Madrid, cerca de 445 548 agregados familiares não têm carro, perfazendo 35% da população de Madrid. E este subsídio, pontual e atribuído às famílias que não tenham carro, motociclo ou carrinha para usos não comerciais por um período de cinco anos, poderia vir a abranger 40% das famílias madrilenas.

“Os governos mais corajosos precisam de agir. A nossa cidade era um exemplo internacional em termos de mobilidade que foi travado e isto não pode continuar”, disse Rita Maestre, porta-voz do partido.

Esta medida faz parte de um conjunto de políticas, como a criação de um “Zero Card” para se incentivar o uso do transporte público e da bicicleta. Assim, se um residente levar o seu automóvel para o abate, a Câmara oferece uma subscrição de três anos de transporte público (cerca de 1500 euros) ou um cheque de 1000 euros para comprar bicicletas. O partido prevê ainda descontos no sistema de partilha de bicicletas madrileno, o BiciMAD.

“Madrid tem de se encaminhar em direção a um modelo de cidade mais sustentável, verde e amigável, com menos carros e mais espaço para bicicletas e peões, e isto é possível, muitas cidades europeias estão a fazê-lo”, acrescenta ainda a porta-voz.

O exemplo da Califórnia

Bruxelas e Madrid não são as únicas cidades a avançar com estas ideias: nos EUA, o estado da Califórnia propôs uma medida semelhante. A ideia é que, para os residentes mais pobres que não tenham carro, seja atribuído um crédito de imposto reembolsável de 1000 dólares.

Os 1000 dólares destinam-se àqueles que ganham até 40 mil dólares anuais, e às famílias que ganhem até 60 mil dólares anuais. Como o crédito é reembolsável, os residentes podem recebê-lo na sua totalidade, mesmo que não tenham 1000 dólares de descontos em impostos.

No entanto, alguns residentes acreditam que o esforço não é suficiente. Inicialmente, o apoio na Califórnia estava balizado nos 2500 dólares, que se destinavam a qualquer residente independentemente dos rendimentos, e às famílias que tivessem menos carros do que membros. Mas o apoio baixou para os 1000 dólares.

Além disso, a Califórnia comprometeu-se a restringir e até mesmo banir carros a gasolina e a diesel até 2035, num objetivo que apelidou de “o início do fim do motor de combustão interna”.

O plano será faseado, começando por se delinear que 35% do total de veículos à venda seja alimentado por baterias ou hidrogénio até 2026 e 68% até 2030.

Trânsito na Golden Gate Bridge, na Califórnia. Foto: unsplash

Porém, a política não proíbe as pessoas de conduzirem carros responsáveis por emissões, nem de vendê-los ou comprá-los em segunda mão depois de 2035.

Tudo isto faz parte de um plano para se reduzir as as emissões carbónicas: a ideia é que o estado californiano se assuma como neutro em carbono até 2045, produzindo 90% da sua eletricidade a partir de fontes sustentáveis, criando zonas seguras à volta de poços de petróleo perto de casas e definindo regras para a captura tecnológica de carbono, retirando-se as emissões do ar e injetando-as no subsolo.

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Ana da Cunha

Nasceu no Porto, há 26 anos, mas desde 2019 que faz do Alfa Pendular a sua casa. Em Lisboa, descobriu o amor às histórias, ouvindo-as e contando-as na Avenida de Berna, na Universidade Nova de Lisboa.

ana.cunha@amensagem.pt

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1 Comentário

  1. A medida mais brilhante e progressista que alguma vez ouvi.
    Felizmente ainda existem cabeças no planeta Terra com ideias de futuro,.
    Parabéns, os meus grandes parabéns.

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