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“Vivi, tu caíste do céu”. É coisa que Evelize Costa, 44 anos, também conhecida pela Alta de Lisboa por Vivi, mais tem ouvido nos últimos dias. Há um zum-zum, um vai e vém nos bairros desta zona da cidade que esta mulher não via há muito. O que está para vir também o devem a ela.
É presidente da associação Espaço Mundo, que nasceu para unir todos os bairros da Alta de Lisboa, e uma das coordenadoras da montra que, no próximo dia 19 de março, vai exibir tudo o que de melhor se faz na Alta. Dos pequenos aos graúdos, da cachupa à música e aos penteados africanos, tudo numa só rua: a José Cardoso Pires, no Lumiar. Um quarteirão inteiro, fechado ao trânsito das 10:00 às 19:00 horas, para mostrar que também aqui, na zona que tantas vezes se sente isolada do resto da cidade, se fazem empreendedores.
Chama-se ComunicALTA – Feira de Comunicação e Criatividade e foi pensada pelas associações Espaço Mundo e Sempre Ligados, em parceria com a CLIP. O evento é financiado pela Junta de Freguesia do Lumiar, também a Junta de Freguesia de Santa Clara e tem a Mensagem como media partner.
Para Vivi, este momento é a representação de “uma grande liberdade”. Os moradores não esquecem os primeiros tempos da pandemia de covid-19 e como tiveram de se adaptar à falta de trabalho. “Muitas pessoas tiveram de aprender a fazer outras coisas. Houve muitas descobertas: bolos e rissóis feitos em casa, para venda, por exemplo. Uns lembraram-se que a máquina de costura que estava lá em casa dá para fazer arranjos e ganhar dinheiro com isso. E os jovens tiveram tempo para descobrir o talento para coisas como a música.”
Como o caso do Henrique Santos, 17 anos, filho de Vivi. No ano passado, a primeira música que produziu, através de um estúdio comunitário na Alta de Lisboa, valeu-lhe o primeiro contrato musical. É hoje reconhecido como o Deejay Rifox e já o podemos ouvir na rádio.
Outros, descobriram a fotografia, o vídeo e o som. Tudo em conjunto com mentores, profissionais da área.




E, de repente, no meio da tempestade, viram a bonança. “Nasceram imensos empreendedores na Alta, que estavam adormecidos”, lembra Vivi. “Íamos a outros bairros à procura de um serviço, sem saber que o tínhamos aqui. Toquem à minha porta ao lado, que eu faço. É assim, agora.”

Conta Ana Abrantes, presidente da associação Sempre Ligados, que a ComunicALTA nasceu num encontro, no início da pandemia, entre vários representantes de bairros da Alta de Lisboa. “Foi uma ideia que surgiu no âmbito do projeto LXCODE, financiado pelo BIP/ZIP. Depois de percebermos que também tinham outros projetos em andamento na área da comunicação e do empreendedorismo, reunimo-nos com o PER 11 e o Centro Periférico.”
A pandemia teimava em estagnar os sonhos e todos estavam já em fases diferentes dos projetos. Mas dali saiu a ideia de criar uma grande montra de tudo o que miúdos e graúdos tiraram destes projetos”.
O que esperar
A rua vai estar dividida entre três grandes palcos, para que se dê espaço a todas as artes e todos os tipos de empreendedores residentes nos bairros.
É como os jovens na Alta de Lisboa mais se têm feito ouvir nos últimos anos, por estes lados: através da música e da dança. Por isso, a ComunicALTA vai reservar uma área e vários momentos do dia a dar-lhes palco. No Palco Espaço Mundo, vão marcar presença alguns jovens da associação que lhe dá o nome e do território – como DJ’s e músicos. O Espaço Dança está ao encargo do projeto MOS. Haverá ainda aulas de capoeira e também os CAF (Centros de Apoio à Família) vão lá estar com diversas atuações.
Ao longo da rua, verá várias barracas e fique a saber, desde já, que este é o lugar dos empreendedores mais graúdos. Os vizinhos são convidados a sair das casas para a rua, para mostrar os micro-negócios, talentos que ganharam, antes ou durante a pandemia. Vai encontrar cabeleireiros a fazer penteados tradicionalmente africanos, pessoas a tratar da manicure, a costurar e a mostrar artesanato.

E ainda a Maria das Dores, 47 anos, à volta de uma “panela gigante”. “Dizem que é a melhor cachupa, a minha. Mas não sei, não”, conta, com humildade. É uma arte que já domina há vários anos, desde que se fazem festas e até comunhões no Espaço Mundo. “Era eu que fazia a cachupa para todos.” Tantos, que não teme que o feijão não chegue para os visitantes da feira do dia 19. Vai levantar-se às 7:00 da manhã para começar a girar a colher de pau.
Mas não só. São várias as associações da Alta de Lisboa que vão marcar presença na área dedicada à apresentação de serviços. Aqui, as crianças vão poder aprender a andar de bicicleta com a Associação Cicloda, que lá vai estar também para reparar bicicletas. Uma feira desenhada para todas as idades, com insufláveis à mistura.

Também o Centro Periférico vai lá estar, com uma banca de produção de t-shirts. E associação cultural APARTE, com ateliers criativos para criação de prendas do Dia do Pai. Ainda na descoberta das artes, a associação Sempre Ligados vai disponibilizar mesas digitalizadores para todos aprenderem a desenhar diretamente no computador. Ao lado de bancas como a do Festival TODOS e do Centro Social da Musgueira.
Mas nem só de África se faz o paladar. Na feira, vão estar abertas bancas de comida diversas – com comida venezuelana, indiana, bolos e sobremesas.
Por um dia, a Rua José Cardoso Pires vai estar fechada ao trânsito, mas aberta ao mundo.