É em Lisboa que se encontra a sede da Academia Portuguesa de Cinema que recentemente festejou o seu 10º aniversário. Mas perguntará o leitor o que é, para que serve, o que faz a Academia Portuguesa de Cinema?

De certeza que já ouviu falar da Academy of Motion Picture Arts and Sciences (Academia das Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood), que todos os anos realiza a cerimónia da entrega dos Oscares em Los Angeles. Pois bem, como essa há dezenas de Academias espalhadas pelo muito com idênticas funções.

Em Espanha. Em França. Em Inglaterra. Em Itália. Uma das mais novas é a Academia Portuguesa de Cinema, que nasceu fundamentalmente por vontade e persistência de Paulo Trancoso, seu criador e actual presidente, meu amigo há mais de 40 e tal anos.

Paulo Trancoso, fundador e presidente da Academia Portuguesa de Cinema.

Imaginem que fui seu professor num ano em que substitui António Macedo, interinamente, enquanto ele filmava mais uma obra, numa cadeira de História do Cinema, no Instituto das Novas Profissões.  Foi a ele que me dirigi, solicitando dados precisos para este artigo. Do que me enviou vou sintetizar alguns passos mais significativos.

A nível de actividades, creio que as mais importantes para destacar (por ordem de relevância) seriam:

– Os Prémios Sophia, destinados a galardoar o que de melhor o cinema português produziu no último ano. Atribuição anual, portanto, tal como todos os restantes.

– Prémio Carreira, de Mérito e Excelência, atribuído a personalidades que se destacaram no campo do cinema em Portugal. Com algum orgulho devo dizer, uma destes já cá canta.

– Prémio Bárbara Virgínia, distinguindo mulheres com um percurso notável no cinema.

Os prémios Sophia são uma das mais importantes distinções do cinema português.

– Prémios Sophia Estudante, cujo objectivo é premiar e exibir os filmes dos estudantes de cinema.

– Prémios NICO, para premiar novos talentos.

– Prémio Lifetime Achievement, atribuídos a profissionais internacionais no contexto da sua visita a Portugal para uma masterclass. Ex: Vanessa Redgrave, Vittorio Storaro, Jay Rabinowitz, entre outros.

Mas existem muitas outras actividades igualmente relevantes, como por exemplo o Programa Passaporte, que procura a internacionalização de actores portugueses; os Encontros A Quatro Mãos, cujas edições de 2017 e 2019 foram dedicadas à escrita para cinema e audiovisual; a Coleção de DVDs de Filmes Portuguesas, com 10 títulos já no mercado, com cópias (quase todas) restauradas em parceria com a Cinemateca Portuguesa; a Próxima Estreia, com a realização de vídeos com entrevistas para promover as estreias nacionais; o EFA Young Audience Award, de parceria com a European Film Academy, que reúne o maior júri jovem de cinema do mundo, e ainda o Nuits en Or, uma parceria com a Academie des César para uma mostra de curtas-metragens premiadas, selecionadas por Academias de inúmeros países.

A Academia é formada actualmente por cerca de mil membros que representam o sector do cinema e audiovisual de uma forma cada vez mais abrangente e transversal

A Academia é ainda responsável pela representação da nossa cinematografia em alguns dos mais importantes eventos de premiação de cinema, como os Oscares, Goya, Platino e Ariel.

Fundada a 8 de Julho de 2011, já atribuiu Prémios Sophia de Carreira a António de Macedo, António da Cunha Telles, Isabel Ruth, José Castelo-Lopes, Laura Soveral, Acácio de Almeida, José Fonseca e Costa, Eduardo Serra, Henrique Espírito Santo, Luís Miguel Cintra, Eunice Muñoz, Carmen Dolores, Fernando Costa, Adelaide João, Lauro António, Elso Roque, Ana Lorena, Artur Correia (póstumo), Lia Gama, Pedro EFE, Alfredo Tropa (póstumo), António-Pedro Vasconcelos, Fernando Matos Silva, Maria do Céu Guerra e Sinde Filipe.

Entretanto, a APC também tem organizado outros eventos, muitos outros, colóquios, workshops, masterclasses, conferências, etc. e ainda algumas exposições como a de Retratos do Cinema Português (a 21 de Julho de 2016, no Arrábida Shopping, e depois noutros locais), a de Cartazes do Cinema Português (20 de Outubro de 2016, na Sociedade Nacional de Belas Artes) e a curiosa exposição de “Troféus das Academias de Cinema do Mundo” (de 11 a 20 de Maio de 2016, no Centro Cultural de Belém).

Como se organiza a escolha dos filmes e das pessoas a serem premiadas nos Sophias? Este parece-me um aspecto a reter pelas suas enormes vantagens de imparcialidade. Ao contrário da maioria dos prémios que dependem de um júri, previamente selecionado, e cuja selecção pode desde logo indicar uma tendência, aqui são os membros da Academia que votam segundo o critério de cada um.

A Academia organiza uma lista de filmes que cumpram os requisitos necessários para estarem em discussão nesse ano, e que normalmente é terem sido realizados por portugueses, no ano transacto. Depois a lista é posta à votação de todos os membros da Academia durante um certo tempo. Daí irão sair os Nomeados, entre 4 e 5 por categoria, que irão ser submetidos a nova votação da totalidade dos membros da Academia e donde resultarão os Vencedores.

Há várias categorias, tal como nos Oscares, Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Argumento, Melhor Fotografia, etc. Normalmente, a noite da atribuição dos Sophia decorre num local apropriado, ultimamente tem sido o Casino do Estoril e, numa cerimónia onde impera (enfim, ou devia imperar) um certo charme, são conhecidos os triunfadores da noite.

Os vencedores da 10ª edição dos Prémios Sophia, foram as longas-metragens “Listen”, de Ana Rocha de Sousa, e “Mosquito”, de João Nuno Pinto. A primeira arrecadou 5 e a segunda 6 estatuetas.

“Listen” vence nas categorias de Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Argumento Original, Melhor Atriz Principal (Lúcia Moniz) e Melhor Atriz Secundária (Maisie Sly) e as distinções de “Mosquito” aconteceram nas categorias de Melhor Ator Principal (João Nunes Monteiro), Melhor Ator Secundário (Filipe Duarte), Melhor Montagem, Melhor Som, Melhor Caracterização/Efeitos Especiais e Melhor Guarda-Roupa.

Destaque também para “Amor Fati”, de Cláudia Varejão, vencedor de Melhor Documentário em Longa-Metragem, e para a série “Terra Nova”, de Artur Ribeiro e Nuno Duarte, vencedora na categoria de Melhor Série/Telefilme.


*Lauro António é realizador e crítico de cinema – lendário em Portugal. Lisboeta de gema, foi a cidade que também cunhou o seu gosto pelo cinema, e ele próprio mudou a história do seu cinema.

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1 Comentário

  1. Sou cinéfilo desde tenra idade, quando vivi em Paris de 1973 e 1974, num dia de folga comecei a ver cinema cerca das 10h até 2 da manhã do dia seguinte, almitava-me no cinema ou nas cercanias e corria a tomar o metro ou bus para o próximo, era mesmo viciado em filmes e tenho mais 1000 DDV e 500 cassetes.

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