Escolheu o Jardim da Estrela pelas memórias dos “dias luminosos da infância”. Durante um ano, chegou a frequentar o Jardim Escola João de Deus, ali mesmo ao lado. Foi lá que lhe colocaram umas asas pela primeira vez, para, com três anos, figurar num presépio. “Chorei muito quando mas quiseram tirar”. Manuela Gonzaga tem 70 anos e é candidata à Câmara Municipal de Lisboa pelo PAN.
Nasceu no Porto e passou vários anos da infância e adolescência em Moçambique e, mais tarde, já em Lisboa, viria a arranjar casa precisamente na Rua de Moçambique. Mas antes de se mudar definitivamente para a capital, era cá que passava férias, na casa das tias-avó, na Rua Cidade de Liverpool, Bairro das Colónias.
Com a tia Carlota, ia até à Pastelaria Suíça tomar o pequeno-almoço. Com a tia Mariana, era de elétrico que passeava pela cidade.

Apesar de ter escolhido o Jardim da Estrela para a conversa com a Mensagem, foi fotografada na Baixa de Lisboa, ao lado da pastelaria do Rossio que fechou e deixou de servir a bica há três anos e que perdeu a oportunidade de celebrar, em 2022, o seu centenário.
Lisboa passou a ser casa para Manuela em meados da década de 1970. E por cá tem estado, quase sempre. Sempre dentro das linhas invisíveis que delimitam a cidade, teve várias moradas. E por onde andou foi fazendo amigos – são estas amizades que hoje a fazem voltar onde já viveu, à Bica, ao Bairro Alto.
Hoje vive na freguesia das Avenidas Novas e desloca-se maioritariamente a pé e de metro, mas não esconde a preferência por determinadas zonas. Podia ter-se mudado para casas maiores, mas nunca aconteceu – “fiz sempre questão de estar nos bairros históricos porque era onde sentia que havia alma”.
Ouça na íntegra a conversa com a candidata:
Gosta das “aldeias dentro da grande aldeia que é Lisboa”. Esteve na Bica, “numa casa muito pequenina”, na extinta freguesia de São Mamede, no Príncipe Real e na Rua Cidade de Liverpool, perto da casa das tias-avó. Foi como “voltar ao início”, às memórias de infância.

Para além de historiadora e escritora, Manuela Gonzaga trabalhou como jornalista e não lhe faltaram oportunidades de entrar para a política. Só o fez em 2012, ano em que se filiou no PAN. Sente a política “como ideal, como serviço – é uma atividade muito digna”, diz enquanto caminha pelo jardim que a tem acompanhado em Lisboa.
Apela aos consensos e encontra, em vários dos programas políticos para as próximas eleições autárquicas, a 26 de setembro, “muitos pontos em comum”, sobretudo entre os partidos de esquerda, nos temas da Habitação e Mobilidade.
A campanha que agora inicia, admite, é “violenta”. “É preciso acreditarmos muito ou termos um sentido muito grande de obrigação cívica”.
Quer uma cidade que sirva as crianças, que lhes dê o que “não têm”: a oportunidade de “crescerem num jardim” e de “sujar as mãos, subir às árvores, fazer buracos nas calças e nas meias, brincar”.
Acredita que “uma cidade não se constrói num gabinete” e quer mais mulheres a planear e construir o município . E sublinha: “o futuro ou será feminino ou não temos futuro”.

Frederico Raposo
Nasceu em Lisboa, há 30 anos, mas sempre fez a sua vida à porta da cidade. Raramente lá entrava. Foi quando iniciou a faculdade que começou a viver Lisboa. É uma cidade ainda por concretizar. Mais ou menos como as outras. Sustentável, progressista, com espaço e oportunidade para todas as pessoas – são ideias que moldam o seu passo pelas ruas. A forma como se desloca – quase sempre de bicicleta –, o uso que dá aos espaços, o jornalismo que produz.
✉ frederico.raposo@amensagem.pt
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