Estava a tornar-se uma tradição lisboeta, assim como o pastel de nata e o fado, mas após quatro longos anos, os utentes do metro já não voltarão a ouvir o icónico “este comboio não para em Arroios” nos altifalantes dos vagões. A estação da linha Verde foi reaberta nesta terça-feira (14), depois de uma reforma para estender o cais de embarque e desembarque e que também estendeu o prazo de entrega da obra para além do dobro do tempo previsto.  

O evento teve como convidado o ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, que durante a conversa com a comunicação social fez questão de dizer que não estava lá para inaugurar ou reinaugurar a estação, numa intenção de descolar a reabertura com o início oficial da campanha das autárquicas, também marcado para hoje.

O ministro chegou a Arroios de metro, às 7h57, na companhia do presidente do Metro de Lisboa, Vitor Domingues dos Santos. Em cerca de meia hora, circulou pelo cais acompanhado de uma pequena entourage, ouviu detalhes da reforma, apreciou o imenso painel que adorna o equipamento e testou o próprio cartão Viva para sair e entar novamente no átrio da estação.

Caos na Web Summit motivou a reforma

Arroios encerrou para obras em julho de 2017, a fim de responder ao aumento de carruagens das composições da linha Verde do metro, de três para seis, após os constrangimentos causados durante a Web Summit em 2016, quando o imenso fluxo de participantes do evento provocou um caos na vizinha estação da Alameda.

A obra estava prevista para durar um ano e meio, mas a insolvência do empreiteiro vencedor do primeiro edital forçou um novo concurso, provocando o atraso na conclusão.

Para além de alargar em cerca de 20 metros em cada uma das pontas de ambos os cais, a reforma orçamentada em 6,67 milhões de euros dotou Arroios com três elevadores, incluindo-a no rol das 41 estações (de entre as 56 do metro lisboeta) com acessibilidade plena.

Com três elevadores, Arroios passa a ser uma das 41 das 56 estações de metro em Lisboa com acessibilidade plena.

Com três elevadores, Arroios entra para a lista das estações do Metro de Lisboa com acessibilidade completa.

Um painel com 15 metros, assinado pelo artista recentemente falecido Nikias Skapinakis, adorna uma das paredes. O mosaico produzido pelo artista português de ascendência grega, em 1997, estava nos armazéns do Metro de Lisboa e havia sido exposto uma única vez, em 2012.

O ministro preferiu ver o copo meio cheio e minimizou o atraso na conclusão da empreitada. “O importante é que a obra está pronta”, resumiu, numa conferência de imprensa entrecortada pelo ruído das chegadas e partidas dos comboios, garantindo ainda não conhecer nenhum negócio nos arredores da estação que, “concretamente”, tenha fechado por causa do longo encerramento de Arroios. E descartou ainda qualquer coincidência entre a reabertura da estação e as eleições autárquicas, marcadas para daqui a cerca de duas semanas.  “A entrega seguiu o prazo previsto na segunda empreitada, estimado em um ano e meio, e que terminava em setembro. Não se trata de uma inauguração. Passámos cá hoje para ver a conclusão da obra, até porque também não temos nenhuma eleição para ganhar”, disse João Pedro Matos Fernandes.

Olhos voltados para a linha Circular

Seja aberta ou (re)inaugurada, o regresso das atividades da estação de Arroios marca o primeiro passo do novo ciclo de reformas no Metro de Lisboa. Os olhos voltam-se agora para a conclusão da linha Circular, que vai unir as linhas Verde e Amarela.

O ministro confere o painel instalado num dos cais. Os olhos agora voltam-se para a linha Circular e a expansão da linha Vermelha do metro.

“É uma empreitada muito maior, de cerca de 280 milhões de euros. O primeiro troço, entre Rato e Estrela, está em obra e a decorrer muito bem, e o segundo, desde a Estrela a Santos e ao Cais do Sodré, irá iniciar-se ainda este ano. E vai estar pronto no primeiro semestre de 2024, como sempre dissemos”, garante o ministro.

João Pedro Matos Fernandes disse ainda que a extensão da linha Vermelha terá o estudo de impacto ambiental entregue ainda este ano, com o objetivo de se lançar o concurso em meados da primavera de 2022. “Estamos a falar do prolongamento do metro até Alcântara, com estações nas Amoreiras, em Campo de Ourique e Infante Santo e com um trecho em superfície sobre a avenida de Santos, para que se evite cruzar o canal de Alcântara, o que poderia trazer fortes impactos ambientais”, explicou, antes de partir, embarcando no cais que acabara de inaugurar. Ou não.


Álvaro Filho

Jornalista e escritor brasileiro, 50 anos, há sete em Lisboa. Foi repórter, colunista e editor no Jornal do Commercio, correspondente da Folha de S. Paulo, comentador desportivo no SporTV e na rádio CBN, além de escrever para O Corvo e o Diário de Notícias. Cobriu Mundiais, Olimpíadas, eleições, protestos – num projeto de “mobile journalism” chamado Repórtatil – e, agora, chegou a vez de cobrir e, principalmente, descobrir Lisboa.

alvaro@amensagem.pt

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