
É um ex-libris. Uma banda desenhada sobre a história de Lisboa, feita num dos mais concorridos lugares da cidade, as Portas do Sol, Alfama, pelo desenhador Nuno Saraiva. E tornou-se um dos mais fotografados spots de Lisboa. Há uns anos, o salitre da exposição e o vandalismo de alguns grafitis danificaram-no.
Este verão, Nuno Saraiva e uma equipa de jovens aprendizes restauraram-no, devolvendo-lhes as cores originais – as suas, fortes – e os detalhes. O trabalho terminou “há sete dias”, diz o artista. “Foram quase três meses”. E numa noite, menos de 15 dias depois, voltou a ser arrasado, desta vez com um enorme e selvagem tag em grafiti.
“Toda a parte de baixo da segunda metade ficou ilegível”, diz o autor, que se confessa furioso com a destruição de uma obra que lhe é muito querida – há quem diga que ele é o cartoonista de Lisboa, de tal maneira a cidade lhe é musa inspiradora (desenhou várias vezes os cartazes das festas da cidade e tem várias obras publicadas, além de ser o ilustrador da Mensagem.

“O que mais me custa foi todo o trabalho que os jovens que me ajudaram tiveram”, diz Nuno, também professor desta arte. Envolvidos no restauro estiveram Ana Casimiro, Catarina Chaves, Daniela Augusto e Diogo Dionísio da ESAD − Escola Superior de Artes e Design
Este cartoon é, como Nuno Saraiva explica, “uma singular interpretação da história da cidade em 24 quadros a jeito de banda desenhada, que vai desde a Allis-Ubbo Fenícia até ao 25 de Abril de uma criança.” Aqui entram as histórias que Nuno foi apreendendo ao longo da sua paixão pela cidade.

“Aproveito para sinalizar curiosidades como a da expressão A Ver Navios que nasce quando o general Junot chegou à cidade ainda a tempo de ver os navios portugueses a pisgarem-se, por exemplo, ou as piadas do Bocage, ou ainda o Salazar. Este quadro do 25 de Abril deixei-o em branco e foi a minha filha que desenhou os cravos, ela tinha 8 anos na altura”, conta.
No restauro, Nuno tinha também feito “um trabalho de ampliação”. “No entusiasmo, resolvi acrescentar aqui alguns novos dados, nomeadamente nos episódios Marquês de Pombal, Eça e engenheiro Duarte Pacheco”, conta ele no Facebook.
A fama do mural, “ultrapassou-me”, confessa. “É delirante estar a ouvir guias turísticos a usarem as minhas palavras. É tudo certo, só que são piadas, minhas, escolhidas por mim. É uma interpretação satírica da história e até crítica.”
Além disso é das paisagens mais fotografadas – e instagramadas – da cidade, e está na lista de segredos dos guias turísticos. “Na verdade foi feito muito muito antes do boom turístico e foi feito a pensar nos lisboetas”, conta o Nuno. O mural foi uma ideia do presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho, do PS, que tinha visto o trabalho do desenhador nas escadinhas de São Cristovão, e resolveu convidá-lo, em 2016, para desenhar neste local.
Desta vez, a remodelação também foi promovida pela Junta.

O mural já teve um proteção de acrílico, nas Festas de Lisboa, mas foi retirada quando se começou a pensar no restauro, depois ficou assim durante os confinamentos, e acabou por não ser reposto antes que mãos selvagens o atacassem de novo, destruindo uma obra artística – sem nenhum objetivo que não a mera destruição.
Veja aqui o vídeo da reconstrução:
- Nuno Saraiva é desenhador residente da Mensagem de Lisboa. Veja aqui as suas ilustrações e Bandas Desenhadas sobre a cidade.
Na inauguração do mural em homenagem aos cem anos de MANDELA , no Campo Grande em Lisboa , fiz uma entrevista ( ammagazine.pt) ao autor da obra , Nuno Saraiva, pedindo a sua opinião sobre os pseudos “grafiters” que estragam o trabalho de quem trabalha . Desta vez a vítima foi o Nuno. LAMENTÁVEL !