Caros leitores

Serve o presente texto para vos dar a conhecer a minha declaração de intenções a propósito das crónicas que levaremos à estampa – digital, claro está – neste novo jornal – ou site – sobre a nossa querida Lisboa.

Fui desafiado pela digníssima direção a escrever o que me aprouver, desde que dentro da temática Fado. E porquê? Bom, talvez porque tenha alguma experiência no assunto – sei que não parece, mas já lá vão 30 anos de Fado na voz–, sou relativamente bem relacionado e (afirmam eles) não escrevo mal.

Coincidência ou não, fui aluno de Comunicação Social na Universidade Católica (curso que, por confessa preguiça, não terminei), onde fui colega – e fiquei amigo – de inúmeros ilustres como o Ricardo Araújo Pereira, o Martim Silva, a Filipa Ramires, a Patrícia Cruz, o Luís Costa Branco, o Rui Calafate, o Bernardo Ribeiro, a Rita Ferro Rodrigues, o Nuno Eiró…entre muitos outros e outras, numa geração muito heterogénea e interessante.

Já nessa altura, o meu desejo era ser cronista. E fadista, claro. Até agora, mal ou bem, só tinha conseguido cumprir a segunda aspiração. Foi-me dada, depois de maduro, a possibilidade de realizar a primeira. Veremos quanto tempo me aturam.

O fado sempre foi um assunto que despertou entre os aficionados (e não só!) acesas discussões e calorosos debates: qual é afinal a sua origem? O que é ser-se fadista?

Voltando ao Fado, que é o que aqui me traz. É certo – e repito – que canto, de forma profissional, há 30 anos. Nestas três décadas, para além dos discos e dos concertos, conheci muita gente, fiz grandes amizades que conservo com estima, ouvi histórias hilariantes, vivi episódios inesquecíveis – outros indizíveis -, mas sobretudo aprendi sempre, aprendi muito com os mais velhos (que, quando comecei, eram quase todos) e deles absorvi toda a sabedoria que me foi possível.

Nesse sentido acharam por bem convidar-me a partilhar isto. E eu, que sou teimoso – e ligeiramente inconsciente –, aceitei. Portanto, o que poderão esperar desta secção que me foi honrosamente confiada, será uma pouco disciplinada panóplia de estórias, curiosidades, entrevistas, relatos, opiniões, devaneios, enfim, como disse no início deste texto, basicamente o que me aprouver escrever sobre este tema que me apaixona e fascina há tanto tempo.

Não sou tido por um homem exemplarmente diplomático, gosto muito da liberdade de poder dizer ou escrever o que penso, mesmo contracorrente, por vezes até prejudicando a imagem que outros terão de mim. Não peço, por isso, desculpa por qualquer afirmação mais polémica. Tentarei, é certo, nesta transparente frontalidade, nunca faltar ao respeito a ninguém. E caso venha a feriar alguma suscetibilidade mais delicada, serei o primeiro a retratar-me publicamente, com toda a sinceridade e educação. A minha adorada mãe não me perdoaria se o não fizesse.

Este meu cantinho digital não se bastará ao fado. Aqui falaremos da vida nos bairros que viram nascer e crescer este género, das suas gentes, suas histórias, porque é delas que se alimenta o Fado.

O fado sempre foi um assunto que despertou entre os aficionados (e não só!) acesas discussões e calorosos debates: qual é afinal a sua origem? o que é ser-se fadista? quem é que canta ou não canta verdadeiramente fado? o que é que realmente o define e até onde poderemos definir os seus limites? Não falta assunto entre a “nossa gente” quando nos juntamos na noite, a correr “capelinhas”, entre copos de vinho e petiscos vários. Pois é um pouco de tudo isto que procurarei aqui expor, sem me querer substituir a outros que saberão mais do que eu, antes apoiando-me na sua sabedoria e experiência.

Este meu cantinho digital terá sempre como diretriz um profundo respeito pelo Fado e seus intervenientes, mas não se bastará a estes. Aqui falaremos também da vida nos bairros que viram nascer e crescer este género musical que de Lisboa saltou para o Mundo, das suas gentes, suas histórias, porque é delas que se alimenta o Fado. Serei por vezes crítico, porque assim deve ser um cronista – reparem como já me intitulo um… haja descaramento! –, tentarei usar humor, e ser rigoroso nos relatos e entrevistas, e justo e imparcial nas análises.

Quero que os meus estimadíssimos leitores consigam ver o métier do Fado não apenas com outros olhos, mas principalmente que saibam que para lá da face mais visível e mediática, há todo um fascinante mundo de desconhecidos, músicos, cantores, letristas ou de simples apreciadores, que por vezes sabem mais disto a dormir que muitos de nós bem acordados! Quero aqui dar-lhes voz, firmar-lhes a devida importância, retribuir humildemente o muito que com eles tenho aprendido. Até porque sem este precioso conjunto de verdadeiros “fadistas”, nada disto existiria, tudo seria mais triste e nada disto seria Fado.

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Rodrigo Costa Félix

Rodrigo Costa Félix

É lisboeta, fadista com trinta anos de carreira, letrista, produtor, agente e coproprietário do restaurante Fado ao Carmo. Tem quatro discos editados, vários prémios e distinções – nacionais e internacionais – e uma vida inteira dedicada à promoção e divulgação da “canção de Lisboa”.

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12 Comentários

  1. Bravo Rodrigo tenho a certeza que vai ser um sucesso, conheço as suas capacidades literarias que juntamente com sua vasta cultura geral e algum humor vão certamente fazer destas crónicas uma coisa divertida e boa de se ler. Parabéns

  2. Aqui fica a minha enorme curiosidade em ler as crónicas do Rodrigo que bem conheço e muito aprecio. Serão seguramente uma fonte de conhecimentos

  3. Parabéns, Rodrigo. Boa iniciativa. Vem sempre a tempo, fazer o que se gosta, tem intuição e algum talento!
    Vou seguir com atenção essas crónicas, de temas aos quais sou também aficionado.
    Sucesso. Abraço, Ricardo Novaes

  4. O Rodrigo é muito mais que isso. É um homem divertidíssimo, muito culto, excelente chef – daqueles que não engordam, e nos matam de inveja – fala inglês com um lindo sotaque britânico e um amigo muito querido. Sua companhia é sempre agradável e está sempre de bom humor. Ah, também foi descrito uma vez como um borrachinho!

  5. Estou ansiosa pelas “cenas dos próximos capítulos”. Sei que é um projecto que lhe traz imensa alegria e motivação, não só por escrever sobre fado, mas porque adora escrever! E que bem que escreve! Tenho a certeza que nos vai deliciar a todos com momentos maravilhosos! Muito orgulho! Muitos parabéns!

  6. No alvo. O seu pai estara aplaudiendo e aplaudiendo. E eu tambem!!!!

  7. Olá Rodrigo! Parabéns e Felicidades! Cada vez mais, todos precisamos de iniciativas que nos elevem, da Mente à Alma.
    Gostei imenso de ler. Tanto que vou partilhar e trazer para aqui mais “fãs” anónimos do Fado.
    Fui colega da mãe (olá Teresa) há já alguns anos, daí que o conheço de criança e sigo de longe o seu percurso.
    Muito sinceramente Felicidades e êxito vivem merecido. Beijinho

  8. Rodrigo, este introito abriu-me o apetite!!! Qual vai ser a periodicidade? Best wishes!

  9. Bem dita seja a forma de pensar nos outros e para os outros, de que tem as ideias que permitem a partilha, de promover o diálogo, seja de que que tema for, bem dita a forma de, culturalmente, avançar no pensamento. Desejos de boa viagem a todos, boa viagem ” mano Rodrigo “, boa viagem ao fado, sempre em tom maior.

  10. Ora, não fosse eu de Alfama para poder desperdiçar algo sobre o Fado e as suas gentes cantadeiras e cantadores.
    Sucesso

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