Oxford Street, a rua de Londres conhecida por excelência pelo seu comércio, está prestes a sofrer uma mudança. Onde antes proliferavam espaços como lojas de souvenirs ou doces americanos, vão renascer novas lojas de comércio local e diferenciador que vão usufruir de uma grande vantagem: não vão pagar renda.
O projeto “Meanwhile On: Oxford Street” é promovido pelo Conselho Municipal de Westminster e a New West End Company. Será a a consultora Someday Studio a gerir o projeto que apoiará 35 marcas ao longo de três anos, com a primeira a abrir já no próximo outono.
A ideia é apoiar o comércio local e fazer rejuvenescer esta artéria.
Geoff Barraclough, membro do gabinete responsável pelo planeamento e desenvolvimento económico de Westminster, explica o que motiva este programa: “O West End recuperou rapidamente da pandemia, mas ainda existem muitas unidades vazias e ocupadas por lojas de baixa qualidade.”

Para se candidatarem, estes negócios terão de estar à procura de um espaço físico, ter algo para oferecer à Oxford Street em termos de produtos, eventos, experiências, conceitos, mostrar interesse no futuro desta rua e preocupação com a sustentabilidade.
Os negócios escolhidos terão acesso a um espaço de elevado perfil para materializarem a história da sua marca através de novas tecnologias – como realidade aumentada, exposições interativas e, em alguns casos, mostrarem o processo de produção aos clientes através de máquinas nas lojas.
Os espaços podem ser ocupados por uma só marca ou por várias.
A ideia é que seja oferecido apoio a novos negócios nos primeiros seis meses: para além de não pagarem renda, beneficiarão de uma redução mínima de 70% nas taxas comerciais. Porém, os candidatos terão de financiar todos os outros custos associados a gerir uma loja e mostrar potencial para a continuidade da marca depois do programa.
Inspirado em modelos de sucesso
Este é um programa novo, mas o seu modelo inspirou-se em projetos anteriores.
Em 2021, o Conselho da Cidade de Westminster cedeu um espaço de loja pop-up em Regent Street a Kitty McEntee, fundadora da Lab Tonica, onde esta vendia produtos botânicos, chás, bálsamos, presentes de aromaterapia. Uma oportunidade que lhe permitiu estabelecer contacto com outros comerciantes em Oxford Street. Atualmente, a Lab Tonica tem uma concessão permanente na cadeia de lojas Selfridges.
O mesmo sucedeu com Petit Pli, uma marca sustentável de roupas para crianças, que permite que as roupas expandam até sete tamanhos, evitando-se assim a compra constante de roupa à medida que as crianças crescem. A Petit Pli começou também com uma loja pop-up através do apoio do Conselho, que permitiu que a marca ganhasse uma loja permanente em Londres.
Poderia funcionar em Lisboa?
Londres tomou a dianteira, mas poderia Lisboa seguir-lhe o exemplo?
João Barreta, especialista em Gestão do Território e Urbanismo Comercial, acredita que esta iniciativa é meritória, mas implica um “envolvimento sério e o compromisso ativo de várias entidades locais (públicas e privadas)” que lhe parecem difíceis de alcançar em Lisboa.
“As experiências passadas, com os Projetos Especiais de Urbanismo Comercial desenvolvidos em Lisboa e o Projeto da ABC – Agência para a Promoção da Baixa-Chiado, serão apenas dois exemplos paradigmáticos do tipo de dificuldades de articulação e entendimento entre as várias partes envolvidas e/ou a envolver em processos de organização, gestão e dinamização do Comércio da Cidade”, explica.
O especialista já apresentou uma proposta de criação de uma estrutura UTIL (Unidade Territorial Integrada de Lisboa), vocacionada para o comércio, um Plano de Ação e Desenvolvimento Integrado do Comércio de Lisboa. “Na minha modesta opinião, seria muito útil”, acrescenta.
Entretanto, zonas como a Baixa de Lisboa continuam afogadas num comércio cada vez menos local e diferenciador.
Recorde estas histórias:

Ana da Cunha
Nasceu no Porto, há 27 anos, mas desde 2019 que faz do Alfa Pendular a sua casa. Em Lisboa, descobriu o amor às histórias, ouvindo-as e contando-as na Avenida de Berna, na Universidade Nova de Lisboa.
✉ ana.cunha@amensagem.pt

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