O jornalista da Mensagem, Álvaro Filho ganhou a 2.ª edição do Prémio de Crónica Jornalística Rogério Rodrigues com o texto “O meu vizinho Omar Sharif, um talento na arte da sobrevivência.

O júri do prémio com que a Câmara Municipal da Amadora homenageia a memória do também jornalista Rogério Rodrigues considerou que “o trabalho do jornalista Álvaro Filho cumpre e honra o espírito do prémio ao acrescentar conhecimento sobre o “outro”, o imigrante tantas vezes incompreendido e maltratado pela opinião pública. Tantas vezes o elo mais fraco, menos preparado para se defender de posições hostis que não compreende. Quem tem o prazer da leitura desta crónica conhecerá um rasgo de uma cultura diferente e, certamente, poderá intervir de modo mais esclarecido se se sentir convocado a isso. Como diz também o autor, “todos nós imigrantes somos em algum grau””.

LEIA AQUI A CRÓNICA PREMIADA

O meu vizinho Omar Sharif, um talento na arte da sobrevivência

Como o ator egípcio, o meu vizinho indiano é um artista. Improvisou uma secretária sobre a arca dos gelados, na mercearia. É lá que fica o computador onde faz análises de conteúdo digital, ao mesmo tempo que passa o troco, ensina matemática e dá palmadinhas nas costas dos filhos.

Este prémio distingue, também, um ex-imigrante. Dizemos ex porque o Álvaro Filho já é português de papel passado e lisboeta de alma e coração. Chegou a Portugal há sete anos e teve na Mensagem de Lisboa o seu primeiro trabalho jornalístico a tempo inteiro em Portugal, depois de no Brasi ter sido jornalista e editor na Folha de Pernambuco e no Jornal do Commercio, e nas rádios Transamérica e CBN Recife. A sua escrita deu vários romances, nomeadamente Curso de Escrita de Romance – Nível 2 (Vencedor do Prémio Pernambuco de Literatura 2016) e Alojamento Letal, ja editado em Portugal.

Este Prémio Crónica Jornalística Rogério Rodrigues dá-nos especial orgulho, por ser o Álvaro Filho a ganhá-lo, e também por levar o nome de um enorme jornalista que amava o seu trabalho e desaguou no jornalismo local na Amadora.

Rogério Rodrigues em ação. Foto: Esquerda.net

Curiosamente foi camarada do nosso jornalista Ferreira Fernandes que escreveu este texto sobre ele, na sua morte, no Diário de Notícias:

Escrevia bem – com aquela forma tersa do Afonso Praça. Talvez fosse necessário ter nascido transmontano e andado em seminário para aí chegar. Escrevia sobre bandidos desesperados ou sobre uma doida que dançava nua na cidade. Talvez porque a normalidade também cansa. Ou talvez porque a doida se fazia chamar Torga porque havia um poeta assim.

Escrevia raramente sobre amigos. Talvez porque estes mereciam mais que se bebesse com eles e lhes dedicasse lealdade sempre e fidelidade nunca.

Escrevia o que talvez não viesse a escrever quando falava com o José Cardoso Pires, o Fernando Assis Pacheco ou o Dinis Machado porque tinha amor, amor mesmo, pela escrita.

Falava sempre com voz rugosa porque as letras, aprendeu-o no papel, são para arranhar. Foi o Rogério Rodrigues do Diário de Lisboa, o Rogério Rodrigues de O Jornal, o Rogério Rodrigues do Público, o Rogério Rodrigues sempre envolto numa coisa junta, porque o jornalismo é uma súmula, e nesta a parcela só conta se pensa no todo, aquela sinopse que a lê.

Não vejam saudosismo no que deixo na morte do jornalista Rogério Rodrigues, um grande quando se começou a escrever com liberdade, porque o jornalismo é tão imprescindível quanto o foi quando ajudou, com jornalistas à Rogério Rodrigues, a cimentar a liberdade.

Um dia destes, um jovem ou um velho jornalista vai-me entrar por este DN e estender-me um papel ou o ecrã do telemóvel: “Tenho aqui a história sobre um garoto de Torre de Moncorvo, Trás-os-Montes, que foi mandado sozinho para o seminário de Macau e dele veio com um português, como dizer, terso… Publica-o?”

Claro. Pago pouco, e fico com os olhos brilhantes

Este ano, o júri do concurso foi constituído por José Jorge Letria, representante da Câmara Municipal da Amadora, Paulo Sérgio Santos, representante da Sociedade Portuguesa de Autores e João Rosário, representante do Sindicato dos Jornalistas. O Prémio atribuído pela autarquia é no valor de cinco mil euros.

A entrega dos prémios terá lugar no próximo dia 9 de setembro (sábado), pelas 14h30, na Biblioteca Municipal Fernando Piteira Santos, por ocasião da realização da 8.ª Festa do Livro da Amadora, que decorre de 8 a 10 de setembro, no âmbito das comemorações do 44.º aniversário do município da Amadora.

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