Trabalhar a inclusão de pessoas com deficiência no festival Iminente era como fazer “milagres num território de destruição”. É que, na Matinha, onde a edição passada do festival aconteceu, a luta da Access Lab por uma cultura acessível a todos tornou-se um desafio a dobrar – o terreno abandonado, com piso sinuoso e irregular, onde o vazio só se faz casa quando o Iminente lá chega.
“No ano anterior vim ao Iminente e tive a experiência menos positiva de sempre”, lembro Tiago Fortuna, co-fundador da Access Lab. Mas em vez de apenas apontar o erro, Tiago e a restante equipa decidiram bater à porta do festival e ajudá-los a mudar. Ele apressou-se a escrever um e-mail para o Iminente a relatar a experiência que teve e a resposta do outro lado foi clara: “Tens toda a razão. Vamos conversar e criar um chão comum.”
Aqui nasceu a parceria entre a Access Lab e o Iminente, criado pelo artista Vhils em 2016.
A experiência ficou registada num documentário, agora publicado em exclusivo na Mensagem. Veja aqui o segundo e último episódio:
“Todos os dias há novas barreiras à inclusão.” E a Access Lab lembra, neste episódio, que a acessibilidade não é só sobre como entramos num espaço, é também uma questão económica: porque, tantas vezes, uma pessoa com deficiência tem de se fazer acompanhar de outra.
Por isso é que o Iminente abriu a possibilidade de trazer um acompanhante com direito a entrada gratuita, num sistema de bilheteira inclusivo. Esta foi, aliás, a primeira das preocupações assim que a Access Lab entra na produção do festival, diz Tiago Fortuna. “Porque é a medida mais fácil de implementar e com maior efeito dominó.”
Miguel Arsénio, espectador numa cadeira de rodas, conta que este sistema fez “toda a diferença”. “Muitas vezes, isto decide se venho ou não ao festival, se vou ou não a um concerto.”
Sobre o documentário:
“O Iminente tem uma abordagem única da cultura contemporânea. Unindo esforços entre a Access Lab e o Iminente para tornar o festival mais acessível fez-nos sentido documentar o momento porque faltam registos sobre a inclusão de pessoas com deficiência e sobre a sua representatividade”, dizem os sócios fundadores da Access Lab, Tiago Fortuna e Jwana Godinho. Porque se “vemos retratos da comunidade negra, mulheres, comunidade LGBTQ”, o mesmo não acontece “retratos das pessoas com deficiência”.
O documentário foi realizado pela jornalista Ana Ventura e tem a última edição do festival Iminente como pano de fundo, numa mensagem que parte de Lisboa para o país e o mundo. Conta com testemunhos da Carla Cardoso, diretora do Iminente, Miguel Arsénio enquanto espectador com deficiência, Rita Ravasco enquanto artista que fez uma peça sobre inclusão e dos sócios fundadores da Access Lab.
É lançado em dois episódios – recorde aqui o primeiro deles.
“A Mensagem é um órgão de comunicação centrado em histórias sobre pessoas e por isso pareceu-nos a casa certa para esta estreia”, escrevem ainda.

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