Podemos começar por este exercício: quantas pessoas com deficiência viu no último festival de música a que foi? Um qualquer? Para quem circula de cadeira de rodas ou tem problemas de surdez, fazer parte desses eventos é quase um ato de coragem e, tantas vezes, uma corrida de obstáculos.

Não era diferente no festival Iminente, criado pelo artista Vhils, em 2016, primeiro “num formato muito pequenino”, num pequeno jardim em Oeiras, lembra Carla Cardoso, diretora do festival.

O festival sempre teve a marca da diversidade cultural e a inclusão. Mas ainda faltava algo: só no ano passado é que a discussão da inclusão de pessoas em cadeira de rodas e surdos começou realmente a fazer parte do Iminente, quando a Access Lab (empresa dedicada à acessibilidade na cultura) contactou o festival para propor que o tornassem mais acessível. Que melhor oportunidade para o fazer além de um festival que leva a inclusão ao peito?

A experiência ficou registada num documentário, agora publicado em exclusivo na Mensagem. Veja aqui o primeiro episódio:

YouTube video

Neste primeiro episódio, Rita Ravasco, artista plástica, conta como a exclusão deixa marcas. “Não nos sentimos bem num sítio onde não queremos voltar.”

Ela que trabalha o conceito de espaço nas suas intervenções artísticas e que levou uma máquina de lavar iluminada para o centro do festival Iminente, no ano passado. Foi este tipo de desafio e de desconstrução que a Access Lab propôs ao recinto da Matinha, onde o Iminente aconteceu.

“Temos de trabalhar para todos. E digo isto sabendo que, se calhar, estamos a esquecermo-nos de alguém”, diz Carla Cardoso. “E esta é a nossa ansiedade.”

Mas se sabemos que “os desafios são grandes”, podemos dizer que “o desconhecimento também é muito grande”, remata Jwana Godinho, co-fundadora da Access Lab. Até porque, como ela própria diz ter aprendido, quanto às pessoas com deficiência, “cada caso é um caso”.

Sobre o documentário:

“O Iminente tem uma abordagem única da cultura contemporânea. Unindo esforços entre a Access Lab e o Iminente para tornar o festival mais acessível fez-nos sentido documentar o momento porque faltam registos sobre a inclusão de pessoas com deficiência e sobre a sua representatividade”, dizem os sócios fundadores da Access Lab, Tiago Fortuna e Jwana Godinho. Porque se “vemos retratos da comunidade negra, mulheres, comunidade LGBTQ”, o mesmo não acontece “retratos das pessoas com deficiência”.

O documentário foi realizado pela jornalista Ana Ventura e tem a última edição do festival Iminente como pano de fundo, numa mensagem que parte de Lisboa para o país e o mundo. Conta com testemunhos da Carla Cardoso, diretora do Iminente, Miguel Arsénio enquanto espectador com deficiência, Rita Ravasco enquanto artista que fez uma peça sobre inclusão e dos sócios fundadores da Access Lab.

É lançado em dois episódios, o segundo e último deles no dia 3 de junho, no site e redes sociais da Mensagem.

“A Mensagem é um órgão de comunicação centrado em histórias sobre pessoas e por isso pareceu-nos a casa certa para esta estreia”, escrevem ainda.


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