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“Então, Joana, já tens uma nova música?”. A pergunta vem de um “puto” que joga à bola naquele que é conhecido como o “Bairro do Asilo”, no Monte da Caparica, onde a rapper Juana na Rap passa grande parte dos dias – e o qual tem gravado em letras de músicas que canta. Para o país, para a cidade, é a rapper, mas aqui todos a conhecem simplesmente como “Joana”, a miúda que cresceu a fazer umas rimas.
Esta sexta-feira, 5 de maio, Juana na Rap sai do bairro dela, o seu lugar protegido, para se aventurar nos palcos do festival 5L – Festival Internacional Literatura e Língua Portuguesa, com um concerto na Biblioteca Palácio Galveias, na Sala Agustina Bessa-Luís, pelas 22h, na companhia de Primeiro G, Loreta, Mbye Ebrima e das batucadeiras das Olaias.
É a oportunidade para mostrar as músicas e o bairro que leva nelas a toda a Lisboa. “Eu estou aqui um bocado fechada, e sair é bué fixe, estar com outro tipo de artistas e pessoas”, diz.

Leva o Monte da Caparica com ela.
“Eu giro bué, tanto posso morar aqui como ali mas se me queres encontrar todos os dias, é aqui. Este é o meu bairro”. Afinal, foi aqui que aprendeu a rappar, por volta do 5º ano, ao olhar com admiração para um amigo da escola que seguia os passos do irmão, um rapper já com alguma perícia. “Começámos na brincadeira, depois eles estavam sempre a dar freestyle e comecei a ganhar aquele gosto pela música, pelo rap”, recorda Joana.
Mas aquilo que começou por ser uma brincadeira de recreio virou coisa séria.
Todos os dias, à hora de almoço, Joana e o amigo saíam da Escola Básica do Monte da Caparica para irem ter com os amigos da Escola Integrada do Monte da Caparica, onde faziam “battles”.
E foi nessas andanças que Joana ganhou o gosto por uma outra forma de se expressar, uma nova língua: o crioulo. Nova para ela, mas não estranha: era falada por alguns dos amigos do bairro, novas gerações nascidas da imigração cabo-verdiana e guineense que marcam toda a Área Metropolitana de Lisboa. “Fui aprendendo pouco a pouco e quando dei por mim já percebia praticamente tudo”, conta.
“Achava que me conseguia expressar melhor em crioulo, não sei dizer o porquê, não sei se é da maneira que eu escrevo, mas quando escrevia em português não soava tão bem…”

Hoje, escreve nas duas línguas – que considera suas. E escreve sobretudo sobre as vivências deste bairro que compõe os seus dias.
Um bairro onde “os putos é que dão vida”, diz ela, mas também onde se travam lutas diárias contra o estigma – é disso mesmo que fala a sua nova música, “Na Luta”, que Joana vai cantar pela primeira vez no 5L. “Fiz esta música com bué sentimento”, explica. “O som é mais um dia na luta, na corrida, mas ainda estou no bairro, a tentar mudar as coisas”. A mudar o estigma de que fala.
Esse bairro que Joana agora traz, com toda a garra, para um palco de Lisboa.
Ouça a conversa com Juana na Rap, neste vídeo:

Ana da Cunha
Nasceu no Porto, há 26 anos, mas desde 2019 que faz do Alfa Pendular a sua casa. Em Lisboa, descobriu o amor às histórias, ouvindo-as e contando-as na Avenida de Berna, na Universidade Nova de Lisboa.
✉ ana.cunha@amensagem.pt

Inês Leote
Nasceu em Lisboa, mas regressou ao Algarve aos seis dias de idade e só se deu à cidade que a apaixona 18 anos depois para estudar. Agora tem 21, gosta de fotografar pessoas e emoções e as ruas são o seu conforto, principalmente as da Lisboa que sempre quis sua. Não vê a fotografia sem a palavra e não se vê sem as duas. Agora, está a fazer um estágio de fotografia na Mensagem de Lisboa.

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