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A vida em Lisboa não está fácil, sobretudo para quem quer arrendar ou comprar casa. E, ao dia de hoje, é mais simples escrever sobre os aspectos negativos da cidade do que sobre os pontos mais felizes — é sempre assim (com tudo).
Ora, mesmo durante os períodos de crise, é importante celebrar, nem que seja apenas para esquecer os problemas que ocupam as nossas cabeças e carteiras. E Lisboa é um bom sítio para isso. Ainda que o preço da imperial esteja em constante aumento, a cidade apresenta, quase a cada semana, um novo ponto de distração geralmente controlado ou frequentado por jovens populações estrangeiras — o que é maravilhoso, porque são esses agentes, que vieram em substituição dos marinheiros carrancudos à la Whitman, que mostram novas correntes e experiências musicais aos lisboetas e restantes portugueses.
Sob vários aspectos, Lisboa é uma cidade portuária. Um: dispõe de um porto. Dois: parte da sua existência lúdica desenrola-se em redor de zonas portuárias. Peço-vos que meçam o peso destas considerações de forma justa — não penso que, em Lisboa, esteja a acontecer o que ocorreu nos portos das cidades do Reino Unido, entre o fim da Segunda Guerra Mundial e o início da década de 1950, em que a chegada de populações migrantes, oriundas das Antilhas, nomeadamente da Jamaica, significou a exploração de novas sonoridades.
Na nossa cidade, identifica-se um fenómeno bem mais ligeiro, quase imperceptível. (É provável que só eu tenha considerado esta hipótese, situação que me coloca em muitos maus lençóis). A verdade, parece-me, é que, à conta da população estrangeira que tão bem recebemos — e devemos continuar a receber — os espaços lúdicos lisboetas têm começado a reproduzir música simplesmente diferente e proveniente de geografias menos comuns.
Bem sei que esta ocorrência não é transversal a uma cidade, capital de país, que, bem ou mal, tem alguma dimensão; se calhar, o fenómeno que sinalizo está reservado a determinados sítios da cidade. É possível. O que é certo é que há cada vez mais artistas e DJ‘s (ou meros indivíduos que passam música) estrangeiros, que chegam a Lisboa com malas e malas cheias de LP‘s globais, a passar música diferenciada em diversos pontos de Lisboa.
De cada vez que um tema afrobeat ou arabic soul é transmitido por colunas, perigosamente colocadas junto a trabalhadores aliviados pelo fim da jornada, a cidade floresce e vive — e, de repente, as pessoas esquecem-se dos problemas que assolam este porto, que arranja espaço para todos (os outros!), menos para nós, que continuamos a bater o pé, feitos parvos. Parvos e infelizes. Mas, pelo menos, ainda temos (espaço para) o Shazam.
O autor escreve com o antigo Acordo Ortográfico
*João Salazar Braga nasceu em Lisboa, em 1998. Depois do curso de Direito, tornou-se copywriter. Passa o dia a escrever para os outros e as noites a escrever para ele.

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