Receba a nossa newsletter com as histórias de Lisboa 🙂
Conhecemos Jim Bianco, nascido em Nova Iorque, já fora do espaço de trabalho na Lisbon Sound Society, perto da Gulbenkian, num dia ensolarado. Traz um moletom verde sob um casaco marinho e cabelos grisalhos penteados para trás, e Jim logo nos parece um homem simpático e descontraído – daquele tipo com que gostaríamos de tomar uma cerveja. Fazemos uma caminhada pela vegetação da Gulbenkian. “Eu sou muito bom a seguir direções”, brinca. Veremos se isso é verdade.
Para o descontrair, avançamos com algumas perguntas rápidas. Primeiro, a maior de todas: “És uma pessoa feliz?” “Sim, acho que sim”, atira. Menos significativo: “Qual é o teu signo do zodíaco?” “Sou carneiro.” “Acreditas em alguma destas coisas?.” “Quer dizer, morei em Los Angeles por 15 anos, então sempre dá para acreditar nestas coisas.”
E o que mais sobre Los Angeles terá influenciado o Jim que hoje conhecemos? “Algumas coisas relacionadas com a saúde ficaram: vindo de Nova Iorque, poderia comer sanduíches de almôndegas todos os dias e ninguém ficaria chateado com isso”.
De repente, dois seguranças da Gulbenkian confrontam-nos, incomodados com a visão do nosso pequeno tripé. Protestamos a nossa inocência, mas não funcionou: temos de seguir em frente e voltamos a confiar no sentido de orientação de Jim.

De volta às ruas, fala-nos sobre a mudança para Lisboa. “Nós mudámo-nos para aqui há oito meses”, diz sobre ele e a pequena família que trouxe atrás. “Fundamentalmente, precisávamos de um pouco mais de aventura nas nossas vidas. Além disso, temos uma filha de oito anos e temos tentado lidar com situação atual dos EUA. Achamos que isto nos daria uma grande aventura também.”
Conta que uma das suas experiências mais felizes é poder levá-la para a escola todas as manhãs de elétrico, antes de ir trabalhar – claramente uma experiência que ele não poderia ter nos EUA.
Jim tem mudado bastante nos últimos tempos. “Cerca de oito vezes desde o nascimento da minha filha. Mudámos para Nashville, Nova Iorque, Los Angeles, Flórida, Seattle mas a resposta simples é que a minha família queria mais uma vida europeia. Foi uma grande mudança. Mas acho que está a correr bem.”
Desaceleramos o passo e parámos para tomar um café num local ao ar livre. Jim mostra-nos o seu português. “Um garoto?” – diz duas ou três vezes. Jim está impressionado com ele mesmo, dando-nos um grande polegar para cima quando o funcionário do café entende o que ele está a dizer.
Depois do café, vagueamos por uma grande livraria e Jim pergunta onde encontrar a secção de música. “Eu escrevo músicas e produzo-as. Às vezes canto nelas”, diz-nos. Antes de se aprofundar no que realmente faz, Jim distrai-se a pressionar os botões de um gira-discos vintage. “Isto é divertido.” Podemos imaginá-lo como um viciado em vinil – sendo ele um produtor musical. “Eu era, mas é muito mais fácil dizer ‘Alexa, por favor toca Thelonious Monk’ e então Thelonious Monk toca.”





Jim leva-nos agora para ver os estúdios da Lisbon Sound Society, onde ele trabalha. Descendo o corredor desde a entrada, uma placa na parede diz:
“Sem música, a vida seria um erro – Friedrich Nietzsche”
Jim apresenta-nos a Fred na cabine de som, que dirige o estúdio, e depois o espaço principal de gravação, que é adornado com instrumentos – guitarras, tambores, entre outros. Parece e tal e qual um estúdio de música deve parecer na nossa imaginação.
“A coisa interessante para mim é que eu fui um cantor e compositor durante 20 anos. Então, a coisa de produtor é nova e eu tenho tido bastante sucesso com ela, tanto que continuo a fazê-la agora. Mas não é uma parte fundamental da minha identidade”, confidencia.
Então, o que faz uma boa música? “Eu gosto de fazer uma grande música e dar-lhe um significado profundo, enquanto tento fazê-la soar divertida… às vezes.”
Caminhamos por outro corredor estreito e entrámos o espaço pessoal de Jim. É como um sótão, mas sem o ser. Tem uma vibe de esconderijo. Não há janelas. É escuro, mas tem algumas luzes agradáveis que criam um brilho na sala. Há alguns instrumentos espalhados e um grande computador onde Jim cria as suas obras. Põe a tocar algumas faixas em que tem trabalhado recentemente. Uma soa muito cinematográfica. “É de compositor. É de banda sonora”, diz Jim. Isola a bateria. “Na verdade, é um batimento cardíaco.” Perguntámos por quem bate este coração.

Jim agarra uma guitarra elétrica azul e começa a tocar com a faixa musical por baixo, criando uma paisagem sonora que se encaixaria bem num mundo pós-apocalíptico. Mudando o tom, toca-nos outra faixa mais pop, mas ainda com uma batida sólida que qualquer um poderia agarrar:
When you go hard, I go harder.
When you go high,
I go higher.
When you go fast,
I go faster.
“Eu oscilo entre todos estes mundos”, diz-nos Jim.
E falar de cenários apocalípticos não é por acaso. Há pouco tempo, Jim fez sucesso uma música apresentada na série The Walking Dead.
Toca-nos um pouco de Easy Street, que é novamente completamente diferente do que tocou até agora. Tem um som feliz, com um leve toque dos anos 50. Jim conta que a música foi utilizada para contrastar com imagens muito mais sinistras. “Precisas de imaginar alguém a ser torturado.”
E é nesta nota sombria que talvez esteja a nossa deixa para abandonar o espaço fechado de Jim, que oferece poucas opções de escape.
O People of Lisbon é apoiado por Patrons e por Moviinn – mudar para o exterior de forma simples. Junte-se ao grupo de encontros mensais do People of Lisbon Meetup.

O jornalismo que a Mensagem de Lisboa faz dantes pagava-se com anúncios e venda de jornais. Esses tempos acabaram – hoje são apenas o negócio das grandes plataformas. O jornalismo, hoje, é uma questão de serviço e de comunidade. Se gosta do que fazemos na Mensagem, se gosta de fazer parte desta comunidade, ajude-nos a crescer, ir para zonas que pouco se conhecem. Por isso, precisamos de si. Junte-se a nós e contribua: