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Quando se fala ou escreve sobre futebol, fala-se e escreve-se sobre muito mais do que um desporto. Futebol é paixão. Envolve a irracionalidade de se ser de um clube e não de outro. Envolve o respeito pela tradição familiar ou pelo contrário, a rebeldia de ser de um clube diferente dos mais velhos.
O futebol é transversal. Quem vai a um estádio, se estiver atento, vai ver pessoas de todos os estratos sociais, géneros, religiões, quadrantes políticos, etnias, etc. No futebol verdadeiro não há figurantes pagos a vestir camisolas deste ou daquele clube, desta ou daquela selecção.
Posto isto, esta crónica será sobre futebol – e não só – e, fica a necessária declaração de interesses: não será isenta.
O futebol praticado por mulheres, vulgo, futebol feminino, é muito recente no mundo e ainda mais em Portugal. Os primeiros registos serão da primeira década do século XX, na pátria do futebol, Inglaterra e por volta de 1910 em França. Só mais tarde, depois da I Grande Guerra, aparecem registos em Itália e na Alemanha. Mas cada vez há mais meninas e mulheres a gostarem deste desporto.
Há dias, em conversa com um amigo, dizia-lhe que estava com saudades de jogar à bola – prática que tive durante a infância e adolescência nos campos acimentados das escolas por onde andei. Era a única miúda entre os matulões, mas considerada nas primeiras escolhas quando se decidiam as equipas por “pares ou ímpares”.
Mas, dizia eu ao meu amigo que agora não tinha com quem jogar porque os homens que conheço e jogam à bola são muito competitivos e brutos a jogar. E eis que a resposta a esta vontade vem ter comigo. Ao ver as notícias na Benfica TV, deparo com uma reportagem sobre a Equipa das Mães do Benfica. Pára tudo! Uma equipa feminina de futebol constituída por mulheres cujos filhos jogam nas Escolas do Benfica?
Não tenho filhos a jogar no Benfica, mas como quem muito quer consegue, cheguei ao contacto com os responsáveis do SLB e, como não há mães suficientes para constituir a equipa, aceitam “pezudas” como eu, mesmo que não tenham filhos nas Escolas do Benfica.
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A equipa começou pela mão – ou terá sido pelo pé? – do Coordenador Técnico das Escolas de Futebol, o professor António Fonte Santa e aliou-se a dois preciosos elementos que trabalham na secretaria do Benfica para colocar esta ideia em campo: Mariana Bessa e Cristiana Santos.
Esta equipa não se junta só para “dar uns toques na bola”. Há um Mister “a sério”. Gonçalo Valente abraçou o projecto por ser um novo desafio com atletas mais velhas, o que é algo novo no clube”.
A ideia não é competir, mas “aliar a actividade física e o gosto pelo futebol a momentos lúdicos” e fidelizar as atletas, mas, sobretudo que se divirtam.
Quanto aos objetivos da época, o Mister Gonçalo Valente é claro: “trazer mais atletas para a equipa e conseguir fazer uma equipa para poder fazer jogos de futebol de 9.”
Para Cristiana Santos, uma das “craques” da equipa, os treinos são “uma animação” e o “espírito é muito divertido”. Mas “quando é para jogar, é a sério”. A equipa é diversificada, algumas jogadoras já tiveram experiências anteriores na prática do futebol, outras nem tanto. As proveniências e as idades também. Entre os 18 e os 50 anos, todas as mulheres são bem-vindas. O importante é gostar de jogar futebol. Sendo o Benfica uma equipa que preza a pluralidade, na equipa também há uma jogadora que torce pela equipa do outro lado da Segunda Circular.
Para quem quiser juntar-se bastará apenas contactar a secretaria das Escolas de Futebol do Benfica, arranjar energia, força, determinação e boa disposição. Ou então basta aparecer no campo sintético do Estádio da Luz numa terça ou numa sexta pelas 21h30 e fazer um treino experimental.
Em breve, esta equipa especial pretende colocar os seus dotes em campo e jogar com outras equipas do mesmo género.
Faça chuva ou faça sol elas lá estão. No sintético do Estádio do Sport Lisboa e Benfica.
Esta equipa de futebol feminino não joga pelas vitórias, pelas taças, ou pelo reconhecimento. Joga o jogo pelo jogo.
O Benfica é mais do que uma equipa de Futebol. O Benfica é uma instituição de valores.
Posto isto, a improvisada cronista que vos escreve tem de confessar que não foi isenta. A “cronista” que vos escreve é benfiquista e jogadora desta equipa.
* Teresa Rouxinol é alentejana de Évora por nascimento e Lisboeta por adoção e coração. Desde os 18 anos em Lisboa já conta com mais anos nesta cidade luz do que na cidade natal. É apaixonada pela área da comunicação e pelas artes e espetáculos, mas já fez de tudo um pouco. Nos tempos livres faz “rádio pirata” e adora conversar.