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Denis é da Eslováquia e mudou-se para Lisboa há apenas cinco meses, quando a namorada, agora noiva, recebeu um convite para trabalhar cá. Mas essa não foi a única razão por que Denis deixou a Eslováquia.” O meu negócio fechou por causa da Covid. Lixou tudo”, diz Denis com um sorriso.

Qual era o negócio de Denis?

“Era uma empresa de parkour e free running“.

Hmmmm. Nunca tínhamos ouvido a palavra parkour antes.

A ideia era ver Denis executar alguns movimentos impressionantes, mas a chuva não ajuda e atrapalha os planos. O já de si traiçoeiro chão de calçada está molhado e escorregadio. É perigoso andar, quanto mais correr e saltar. “Não faz mal, Lisboa é uma boa cidade porque há muitos espaços cobertos para treino. Vamos encontrar alguns”, diz Denis, otimista.

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Perguntamos a Denis como tem sido a mudança da Eslováquia para Lisboa.

“Durante o ano passado, vivi com os meus pais na floresta. Havia apenas 20 edifícios. Quase não havia internet. Era muito calmo e sossegado. Portanto, Lisboa é uma mudança dramática”.

No dia em que filmamos, há aviões a passar-nos por cima a cada 30 segundos. Literalmente a cada 30 segundos. Talvez os aviões sejam mais ruidosos quando o tempo está de chuva, mas é apenas um palpite… Estamos numa verdadeira batalha com os elementos, tanto que temos de dizer constantemente CORTA enquanto Denis fala para deixar passar o barulho dos aviões. “Isto é uma coisa a que tive de me habituar em Lisboa. Há muitos aviões. E a zona onde vivo é mesmo em frente ao aeroporto”, diz.

Encontramos um espaço coberto em frente de uma clínica dentária para que Denis nos mostre alguma ação. “Não é assim tão escorregadio aqui”, diz-nos ele enquanto esfrega as solas dos ténis no chão ladrilhado.

Então o que é exactamente este desporto? perguntamos a Denis, ansiosos por aprender.

“Isto é parkour e free running”. É um novo desporto. E em breve estará nos Jogos Olímpicos”.

Denis Seliak diz que Lisboa é uma cidade excelente para treinar parkour e free running. Os muros da Praça de Espanha que o digam. Foto: Rita Ansone.

“Não foi isto que James Bond fez no início do Casino Royale?”

“Sim, exactamente. Ou talvez conheçam David Belle? (Não conhecemos.) É o fundador do parkour. District 13 foi o primeiro filme em que ele apareceu e tornou o parkour muito famoso. Vi esse filme, quando era miúdo e comecei a fazer”. Denis continua a educar-nos… “Depois houve um homem chamado Sebastien Foucan que criou o free running. É o mesmo que o parkour, mas com mais viragens e freestyle. O parkour é uma forma eficaz de atravessar obstáculos, mas com o free running, passa-se por obstáculos com outro efeito”.

Dito isto, Denis começa a mostrar algumas proezas num muro próximi. É aterrador. Parece que a qualquer momento pode cair de costas e partir o pescoço.

“Na verdade, não é assim tão difícil. Só tens de superar o medo. Não há muita gente que goste do medo, mas no ginásio podes fazê-lo com um tapete macio a amparar as quedas. Quando descobrires que não é doloroso, terás menos medo. É só preciso fazer, e depois repetir, repetir, repetir, repetir”.

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Denis Seliak participou no Got Talent eslovaco.

À passagem de outro avião barulhento, decidimos caminhar um pouco – por entre poças de água. “Gosto do tempo em Lisboa. Na Eslováquia as temperaturas são negativas. Aqui, mesmo com este tempo, posso usar uma t-shirt”.

Chegamos a uma ponte e a uma passagem inferior com carros a passar por cima. Parece ser um bom local para Denis correr e saltar, e ele fá-lo prontamente… “Isso deve fazer doer as mãos” ponderamos. Denis segura-se na câmara, e as mãos parecem surpreendentemente suaves. “Não, não dói. Depois de algum tempo habituamo-nos, como qualquer outro desporto”.

Denis conta como conheceu a namorada. “Ela era anfitriã num evento em que eu estava a actuar. Fiz de Batman para um público infantil. Depois esquecemo-nos um do outro, até ao ano passado, quando lhe enviei mensagem, seis anos depois de nos conhecermos. E agora estamos juntos em Lisboa. Há uma história. Pedi-a em casamento numa praia perto de Faro. O sol estava a nascer”.

Tudo o que podemos dizer é Ahhhhhhhh

Chegamos a um parque – Parque Gonçalo Ribeiro Telles, o que, claro, significa que Denis vê a oportunidade de subir algumas árvores. A chuva começa a intensificar-se. Encontramos abrigo debaixo de um monumento em arco. Uma mulher e o seu cão também estão abrigados ali. Denis continua a escalar o monumento. Esperemos não seja para honrar os mortos de alguma guerra. Não queremos arranjar problemas. A mulher olha para Denis, que agora está bem lá em cima. Ele é um Homem Aranha da vida real. “Conseguiria fazer isto?” perguntamos à mulher. “Penso que sim”, diz ela com confiança.

A chuva continua e dirigimo-nos à Gulbenkian para terminar o vídeo. Os seguranças olham desconfiados enquanto filmamos o Denis, que continua a sua performance. “Eles têm de me convidar para fazer uma atuação a sério aqui”. Por um breve instante, o sol irrompe. O parque brilha no temporário céu azul. Os patos vagueiam, e Denis salta de um lado para o outro.

Chegou a hora de um café. Denis toma um Galão. Diz que é a sua bebida preferida. “Quero trabalhar a minha flexibilidade e a língua portuguesa”, diz ele com um sorriso. “São os meus objectivos para o ano novo”.

Denis parece feliz com a nova vida em Lisboa. Está enlameado, mas feliz.


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