Eis-nos chegados àquela época do ano em que no comércio quem dita as regras é quem vende e não quem compra.

Poder-se-á perguntar, e não é sempre assim que acontece? Não é sempre a oferta a determinar o comportamento da procura?

Talvez sim, talvez não!

Mesmo que quase como se de uma regra se tratasse, decerto poderíamos deparar-nos com a exceção ou exceções que a confirmariam, pelo que aconselha o bom senso a relegar tal abordagem para um outro plano, numa outra sede, num outro contexto mais propício.

Neste tempo que antecede o mês das compras, lá virão as black friday, as black weekend e outras derivações, por vezes, menos claras, mas sempre… “black“! São compras “sem IVA” ou com descontos no valor do dito imposto que se diz de “valor acrescentado”, “50% em todos os artigos assinalados”, entre outras derivações promocionais que os comércios foram apreendendo, por dever ou obrigação, e aprendendo a promover, por necessidade imperiosa de afirmação de prova de vida no mercado.

O “saber-Comércio” é vasto, aprende-se porque se ensina, ensina-se porque se aprende e, apesar de a oferta viver e sobreviver da procura, esta vive e sobrevive da oferta, pelo que se as “vontades” surgem como dado adquirido, pouco mais restará às partes do que “trabalhar os tempos”.

Se de um lado haverá tempos de maior ou menor predisposição para comprar, para consumir, seja por mais ou menos rendimento disponível, seja pela época ou data mais ou menos festiva, do outro lado, o propósito consistirá em mobilizar, sempre e cada vez mais, a(s) procura(s) à sua volta, mais ou menos próxima(s), atraindo-as mais e melhor do que faz(em) a(s) concorrência(s).

Haverá, portanto, que desenganar os que possam julgar que não será a oferta a decidir o que a procura compra, onde, quando e quanto irá comprar. Se tal ocorrerá(?), assim, apenas nestes “black periods“, mais tarde se aferirá.

A questão este ano, ainda tão marcado pelo “DesComércio”, que já não só o que adveio da crise pandémica, residirá no facto de que todas estas “black promotions” antecedem um ano que se antevê bem negro por razões que todos identificamos, mas pouco ou nada conhecemos e, menos ainda, saberemos explicar.

Pandemia ou pós-pandemia, guerra e pós-guerra, inflação crescente após inflação crescente, energia a menos com custo(s) a mais, problemas a mais com medidas a menos, confiança em baixa e alta desconfiança, tudo parece confluir para a inevitabilidade da recessão económica, da depressão psicológica, da crise do comércio, dos comércios em crise, etc.

A tendência aponta para que o poder de compra não acompanhe… os poderes da venda, apesar da procura continuar sempre a necessitar da oferta e vice-versa.

Podendo até não vir a confrontar-nos com uma nova vaga de “DesComércio”, poderá ficar mais evidente, para todos, que a ilusão de um tal e tão falado, a dado momento, “Novo Normal” não passou de uma mera desilusão.

E, uma vez mais, é o Comércio, que não sendo arte nem ciência, prova que o “Velho (A)Normal” estará de volta, pois a seguir aos “black friday“, “black weekend” e … outros “black…mega…consumismos”, seguem-se “dias difíceis”, desta vez, bem mais difíceis, quiçá mesmo, “black days“, “black weeks“, “black months“.

E se uma simples “Black Friday” já incomoda(va) muita gente, o que dizer de um “ano negro” ou “Black Year“?


* João Barreta é especialista em gestão do território e especialista em Urbanismo Comercial, ex-Diretor Municipal das Atividades Económicas da Câmara Municipal de Lisboa, membro da Direção da extinta-Agência para a promoção da Baixa-Chiado

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1 Comentário

  1. Black fridays, promoções, descontos, sem IVA, Há muito tempo que estas palavras no comércio são sinónimo de engano e mentira, e como de costume, o PARVINHO PORTUGUÊS, peço perdão…. o POVINHO PORTUGUÊS cai no conto do vigário, como uma traça é atraida para a luz. Como? Vejamos:
    1- os preços nas campanhas de promoção, se tivermos paciência de comparar os preços do produtos durante as campanhas com os preços dos produtos fira delas, digamos por exemplo em Junho, temos um facto curioso… dando um exemplo de três produtos de consumo da moda, trotinetes, telemóveis e televisões, os preços destes a partir de Junho foram sofrendo um incremento gradual de preço, na ordem dos 100, 200 euros, até Novembro. Logo por coincidência, com o início das campanhas esses preços vão decrescer gradualmente, criando a ilusão de estarmos a comprar algo mesmo mais barato…mas que afinal…ainda continua mais caro que nos meses anteriores. A nossa memória curta é que não se lembra dessas coisas, e de qualquer modo estamos hipnotizados com as baixas “absurdas” de preços.
    “Há mas isso por causa da guerra, da pandemia ” – errado, já sempre foi sendo feito antes das guerras ou pandemias, tenho fotos que o provam de outros anos , mas gostamos do consumismo e que nos atirem areia para os olhos.
    2- escoar material e produtos que não são vendidos durante o resto do ano. Sim as grandes superfícies gostam muito de arrumar o sótão, e com é que fazem isso, PROMOÇÕES, desde que seja barato e esteja em vistosa promoção, o português compra tudo, mesmo que seja aquilo que não era exatamente o que procurava ou o que
    pretendia , mas está em promoção portanto vamos embora.
    “Há, queria aquele modelo de iphone”
    “Esse modelo não temos, mas temos muitos destes em promoção ”
    “Serve”
    Isto tudo funciona um pouco como quando os hipermercados querem despachar produtos quase a terminar o prazo… o que é que fazem???? PROMOÇÕES
    A carne está quase a passar o prazo? Carne picada, EM PROMOÇÃO…
    E lá vai o tolo do português comprar, e congratular-se aue fez um bom negócio.
    3- durante estas ditas promoções, é muito difícil comprar aquilo que queremos, pois está sempre esgotado ou ja não está em stock, a ordem dos lojistas é, digam sem pre ao cliente que aquilo que procura já não existe, esgotou ou demorará muito tempo a estar de novo disponível, e vendam sempre o artigo seguinte mais caro, em promoção o cliente compra tudo, sem contestação.
    Portanto CONTINUEM A LEVAR COM AREIA PARA OS OLHOS.
    Continuem a ser enganados….
    Eu sou lojista…sei do que falo…..

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