Como se resume um festival desta magnitude como o Iminente, com tanta cultura a brotar do chão, a emanar das paredes e a inundar-nos os ouvidos?
Ora, se Vhils está a deixar a sua obra revelar-se na parede, Superlinox causou uma Aparição. A música dos ballrooms, que surgiu nos submundos Queer de Nova Iorque, vai mexer-nos com graciosidade e ao ritmo do voguing. Os skates são o veículo de eleição e já têm a pista desenhada. Com a introdução de um conceito novo, o camarim para o público, todos têm um sítio seguro para vestir a sua pele, trocando os “disfarces” do dia a dia por roupas que expressem a plenitude das suas identidades.
É simples chegar aos palcos e assistir aos concertos. As obras dos artistas visuais requerem alguma exploração e atenção. Decidimos por isso, durante uma viagem pelo recinto, destacar 10 obras, uma espécie de mapa que não se quer completo, mas um ponto de partida:
(1) De Superlinox, entre palcos e no topo de um gasómetro, está a obra mais mística. Chama-se Aparição e é uma experiência celestial.

(2) À entrada, pela luz de Pedro Coquenão, que assina como Batida, temos logo uma reflexão sobre a cidade, “Neon Colonialismo”. Não é sobre néons, mas sim uma perspetiva sobre o novo colonialismo de uma metrópole que exclui socialmente.
(3) Não se pode falar de playground, sem relembrarmos que há países em guerra, como ±MaisMenos± deixa claro com “Winds of Change“, peça composta por 12 mangas de vento com bandeiras de países onde decorrem conflitos. É uma forma de relembrar-nos das imensas guerras que existem, sem que tenham repercussão mediática, dando conta de uma parcialidade. Afinal, onde brincam essas crianças? A obra do ano anterior, por baixo, acaba por servir de complemento, lendo-se no néon: “Entretanto em Gaza”.
(4) Seguimos estrada para o verdadeiro Playground, da autoria de Kampus. Cor e elementos que nos remetem para o parque infantil e uma única instrução: “Imagina um lugar./Onde vivemos todos em harmonia.” Por baixo, num tom festivo, realiza-se o Arraial, o que não poderia faltar num festival lisboeta.

(7) Da periferia para o centro das coisas, Unidigrazz, o Koletivo Artístico que procura trazer para a arte a expressão das desigualdades vividas por aqueles que vivem a abraçar a nossa cidade, nos subúrbios. Têm um estendal onde a roupa é arte, fortes representações da procura de pertença a um sítio.
(12) Num beco, por entre as ervas, com a ajuda da MINI, P0RT4L, um portal para o futuro tecnológico e sustentável criado por Tiago Marinho.
(13) Numa obra predominantemente monocromática, João Fortuna, cria CITY – THE BIGGEST PLAYGROUND, o universo urbano onde a cor, tal como a cidade, nos seduz. Apesar de muitos habitarem as superestruturas que são as cidades, nem todos têm espaço. Uma obra que olha para nós, como que a garantir que foi bem notada.
(15) O medo de que uma experiência passe, se escape pela duração fugaz, é a inspiração da obra de Noah Zagalo, que criou um unicórnio que aparenta desintegrar-se pleno de cor. Um lembrete para ficar no presente e guardar a alteração interior provocada pela experiência. Na abertura, artista e obra terão uma brincadeira que não foi revelada.
(19) Fidel Évora, de um workshop com crianças, que misturou fotografia, serigrafia e a palavra escrita, criou uma instalação tridimensional no que se pode chamar Jardim do Iminente. Laços entre família, amigos e vizinhos e a possibilidade das crianças poderem ser o que quiserem, é o que representa.
(17) De Vhils, apesar de termos estado com uma das obras mais aguardadas do Festival, não se pode ainda dizer muito, pois esta encontra-se a revelar, com ajuda dos elementos. É o ar da cidade, e a sua poluição, que vão permitindo à peça ganhar vida, através desta técnica inédita. Mesmo mostrando uma fotografia, é uma tela em branco cuja forma que tomará só se saberá no Festival.
Muito fica por escrever e descobrir num festival que, no total, contará com a participação de 150 artistas.
Na galeria pop up da Underdogs, é possível levar parte do festival e de todas as 21 obras para casa, a um valor razoável. Os NFT são uma outra forma de adquirir arte, uma realidade dentro do festival, com a plataforma Ephemeral Ethernal. Os que se juntarem a esta plataforma durante a visita, recebem um NFT gratuito ilustrado por Camila Nogueira. Quem não estiver ainda virado para NFTs, tem em frente a pista de skate, também ela uma obra de arte.
De recordar que a Mensagem de Lisboa terá a sua redação no local, no espaço Estórias, promovendo conversas onde todos podem fazer perguntas. Mesmo ao lado, estarão 4 tatuadores que deixarão, sem custo, memórias na pele, inspiradas pelas obras dos artistas visuais.

Leonardo Rodrigues
Nascido na Madeira, o seu coração ficou por Lisboa. Estudou comunicação na FCSH – UNL e fotografia no Cenjor. Depois de muitos ofícios, é a contar histórias que se sente bem. Acha que não existem histórias pequenas, anseiam é por ser bem contadas. Quando não está a escrever, é aprendiz de jardineiro. @leonismos no Twitter.